| 05 Setembro 2014
Artigos - Governo do PT
Artigos - Governo do PT
O
movimento está colhendo apoio nas ruas e é encabeçado por organizações
de esquerda e extrema-esquerda, entre as quais o PT, o PCdoB, a CUT e
dezenas de sindicatos.
Começou na segunda-feira uma ação coordenada em todo o Brasil por um movimento que se intitula Plebiscito Constituinte. Com uma roupagem patriótica, uma comunicação feita nas cores da bandeira brasileira e um apelo à juventude que foi às ruas em junho de 2013, esse movimento tenta viabilizar algo que há muito vem sendo considerado pelo atual governo e por todo o PT como uma peça-chave para a supressão do Estado Democrático de Direito: uma Constituinte para modificar o sistema político brasileiro. Essa aberração foi sugerida pela primeira vez pela própria presidente Dilma Rousseff em seu pronunciamento de 24 de junho de 2013.
A
ideia vai ao encontro das práticas bolivarianas usadas com sucesso para
destruir as democracias vizinhas, como a da Venezuela. A substituição
da democracia representativa pela chamada “democracia direta” tem sido a
forma mais eficiente de corroer o jogo democrático usando suas próprias
regras. Ao contrário do que diz o dito popular, a voz do povo não é a
voz de Deus, e nunca foi. Legislar por meio de plebiscitos é algo
inviável, principalmente em um país com as dimensões do Brasil.
A massa
popular é muito mais manipulável que algumas centenas de parlamentares, e
a legitimidade de uma consulta popular só é, na aparência, maior que a
de uma decisão votada no Legislativo. Ou seja, para a maioria da
população, participar de um plebiscito soa como a coisa mais democrática
possível, uma vez que essa mesma maioria não consegue enxergar que sua
opinião está sendo moldada e manipulada pelo grupo que ocupa o poder –
e, com ele, a maior máquina de propaganda já vista na história
brasileira.
Mas
voltemos ao tal movimento, que está neste momento colhendo apoio nas
ruas. É encabeçado por organizações de esquerda e extrema-esquerda,
entre as quais o PT, o PCdoB, a CUT e dezenas de sindicatos. O objetivo
final do movimento é forçar a convocação de uma Constituinte exclusiva
para modificar os artigos constitucionais que regem o sistema político
brasileiro. Hoje, a única maneira de se fazer isso é através de uma
emenda constitucional, que por sua vez requer maioria absoluta nas
votações das duas casas do Legislativo. Numa Constituinte, só é preciso
conseguir maioria simples.
Esse fato, mais o clima de pressão popular
que tal Constituinte geraria no país, permitiria que o grupo capitaneado
pelo PT aprovasse medidas como o financiamento público de campanha e o
voto em lista fechada, além de possíveis aberrações como o fim da
limitação de dois mandatos consecutivos, a inclusão na Constituição de
mecanismos de participação popular, nos moldes do Decreto 8.243, e
outras monstruosidades antidemocráticas.
A
experiência nos diz que é sempre prudente desconfiar de quem quer mudar
as regras do jogo. Depois de 12 anos, pela primeira vez a chance de o
candidato petista perder é maior que a de ganhar. A população está
deixando claro, diariamente, nas ruas, nas redes sociais, nas pesquisas,
que não quer mais esse partido tomando conta do país. E é justamente
diante dessa revolta, dessa insatisfação, que está sendo proposta uma
solução de ruptura, algo projetado e planejado para ser a tábua de
salvação de um grupo político que está afundando. Esse plebiscito tem
cheiro de golpe. E de golpe estamos cheios.
Flavio Quintela, escritor e tradutor de obras sobre política e filosofia, é autor de Mentiram (e muito) para mim.
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