| 05 Setembro 2014
Artigos - Cultura
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Em julho de 2013, um mês antes do lançamento do best seller de Olavo de Carvalho, idealizado e organizado por mim, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, eu organizei notas e trechos da obra do autor para responder de vez a todos que, no auge da comoção nacional com as manifestações de rua, perguntavam quais eram as soluções e as “propostas positivas” para o país. Como tudo isso volta à tona em período eleitoral, atualizo aqui no meu blog na VEJA o post de um ano atrás, observando que, neste meio-tempo, eu ocupei o meu espaço na mídia. Destaque para a PARTE VI, que traz “As 8 soluções para o Brasil”, reduzidas a 3 no plano de ação ao lado.
PARTE I: PROBLEMAS DO BRASIL
[Trecho do artigo "Uma geração de predadores", de 03/06/2011, presente nas páginas 294-6 do 'Mínimo']
(…) Se me perguntarem quais são os problemas essenciais do Brasil, responderei sem a menor dificuldade:
1) A matança de brasileiros,
entre quarenta e cinquenta mil por ano [número que já subiu para 56.337
em 2012, de acordo com o mais recente Mapa da Violência, de 2014];
2) O consumo de drogas,
que aumenta mais do que em qualquer país vizinho, e que alguns
celerados pretendem aumentar ainda mais mediante a liberação do
narcotráfico – o maior prêmio que as Farc poderiam receber por décadas
de morticínio.
3)A absoluta ausência de educação num
país cujos estudantes tiram sempre os últimos lugares nos testes
internacionais, concorrendo com crianças de nações bem mais pobres; num
país, mais ainda, onde se aceita como ministro da Educação um sujeito
que não aprendeu a soletrar a palavra “cabeçalho” porque jamais teve
cabeça, e onde se entende que a maior urgência do sistema escolar é
ensinar às crianças as delícias da sodomia – sem dúvida uma solução
prática para estudantes e professores, já que o exercício dessa
atividade não requer conhecimentos de português, de matemática ou de
coisa nenhuma exceto a localização aproximada partes anatômicas
envolvidas.
4) A falta cada vez maior de mão de obra qualificada de nível superior, que tem de ser trazida de fora porque das universidades não vem ninguém alfabetizado.
5) A dívida monstruosa acumulada
por um governo criminoso que não se vexa de estrangular as gerações
vindouras para conquistar os votos da presente, e que ainda é festejado,
por isso, como o salvador da economia nacional.
6) A completa impossibilidade da concorrência democrática num quadro onde governo e oposição se aliaram,
com o auxílio da grande mídia e a omissão cúmplice da classe rica, para
censurar e proibir qualquer discurso político que defenda os ideais e
valores majoritários da população, abomináveis ao paladar da elite.
7) A debilitação alarmante da soberania nacional, já condenada à morte pela burocracia internacional em ascensão e pelo cerco continental do Foro de São Paulo (aquela entidade que até ontem nem mesmo existia, não é?).
8) A destruição completa da alta cultura,
num estado catastrófico de favelização intelectual onde a função de
respiradouro para a grande circulação de ideias no mundo, que caberia à
classe acadêmica como um todo, é exercida praticamente por um único
indivíduo, um último sobrevivente, que em retribuição leva pedradas e
cuspidas por todo lado, especialmente dos plagiários e usurpadores que
vivem de parasitar o seu trabalho.
Se
me perguntam a causa desses oito vexames colossais, digo que é a coisa
mais óbvia do mundo: quarenta anos atrás, as instituições que se gabam
de ser as maiores universidades brasileiras lançaram na praça uma
geração de pseudo-intelectuais morbidamente presunçosos, que na
juventude já se pavoneavam de ser “a parcela mais esclarecida da
população”.
Hoje
essas mentes iluminadas dominam tudo – sistema educacional, partidos
políticos, burocracia estatal, o diabo -, moldando o País à sua imagem e
semelhança. Matança, dívidas, emburrecimento geral, debacle do ensino, é
tudo mérito de um reduzido grupo de cérebros de péssima qualidade
intoxicados de ideias bestas e vaidade infernal. Dentre todas as
gerações de intelectuais brasileiros, a pior, a mais predatória, a mais
destrutiva. (…)
PARTE II: CONFUSÃO MENTAL & DIREITA
1. Muito
mais que o comunismo, a corrupção, o banditismo e a má administração, o
problema do Brasil é a CONFUSÃO MENTAL. Sem corrigi-la antes, nenhum
dos outros problemas terá solução jamais.
2. Alta cultura não é estetismo, não é show business,
não é indústria cultural: é preparação do espírito humano para que não
se perca na selva das aparências, mas, lidando com um problema qualquer,
vá direto ao ponto. Infelizmente, não é possível transmitir alta
cultura a milhões de pessoas antes de havê-la transmitido a uns
milhares, nem a uns milhares antes de havê-la transmitido a uns
poucos. Isso, no entanto, não é desculpa para não começar nunca.
3. Existe
algum “movimento conservador” com organização, militância e recursos
para enfrentar o MST? Existe aliás algum líder conservador de movimentos
de rua que tenha ao menos parado para estudar a estrutura e a
estratégia do MST? Ou alguém, no meio conservador, que tenha parado para
meditar quantos anos levou o MST para conseguir algum de seus
objetivos, mesmo os mais modestos? Estou com o SACO CHEIO de entusiasmos
levianos. Não existe ninguém sério na “direita” brasileira?
Vejo
um monte de gente disposta a sair gritando na rua. Peça uma
contribuição de dez reais a cada um e metade deles lhe virará as costas.
A outra metade rirá na sua cara. O PT recebeu de seus militantes
contribuições de dez, vinte e até trinta por cento dos seus salários
durante DÉCADAS antes de conseguir alguma projeção política. A direita
brasileira é desprezível.
“Deserve victory“,
ensinava Winston Churchill. Merecê-la desde antes mesmo de buscá-la.
Quem, na “direita” brasileira, entende isso? Se não vêem uma perspectiva
de vitória em dois meses, ficam todos deprimidinhos e acham que é o fim
do mundo. A esquerda está no poder porque o mereceu.
4. Sabem
por que o comunismo prospera? É porque gerações e gerações de
comunistas consentiram em dar suas vidas pelo movimento e morrer antes
de ver qualquer de seus objetivos realizado. Quem dura mais, vence.
Aquele cujos sonhos medem menos que a duração da sua vida só merece a
derrota e o descrédito.
5. O
primeiro teste de um movimento político é a quantidade de intelectuais
sérios cujas discussões antecedem a sua fundação. O segundo é: quanto
dinheiro ele conseguiu em contribuições na sua primeira assembleia? Se o
patrimônio intelectual é pobre e o financeiro é miserável, isso quer
dizer apenas que o movimento é uma M****.
6. Chega de discutir pontos particulares do programa comunista. É preciso acertar no coração do bicho [o Foro de São Paulo] em vez de apenas roer-lhe as unhas.
7. Também
chega de discutir lindas “propostas positivas” para um Brasil melhor
enquanto a praga comunista não for extirpada. Quando uma jovem está
sendo estuprada, não é hora de sonhar com um lindo casamento, filhinhos,
uma casa própria etc. É hora de parar o estuprador.
8. Ninguém
vai vencer o esquema comunopetista por meio de eleições, de golpe
militar ou de passeatas de protesto. Organizar a militância, ocupar
espaços nas entidades da sociedade civil, na mídia e na educação, e
partir para um agressivo ativismo judicial antes que o último juiz seja
cooptado – eis as únicas (talvez as últimas) possibilidades de ação
real.
PARTE III: “O SER HUMANO NÃO NASCEU PARA CORRIGIR O MUNDO.”
True Outspeak de 22/11/2010, transcrito por Felipe Moura Brasil:
(…)
A camada intelectual é constituída de pessoas frágeis. Sempre foi
assim. São pessoas que às vezes não têm uma posição definida na
sociedade, que têm muitas ambições e poucos meios de realização… Então
esse pessoal sempre traz um grande ressentimento dentro de si. E olha o
mundo e vê o que lhe parece ser a vitória dos maus, que nem sempre são
tão maus quanto ele imagina. Mas, diante dessa revolta, ele vendo o
poder do mal no mundo, ele se impressiona com o poder do mal, e
impressionar-se ante um poder já é cultuá-lo, já é cair sob o domínio
dele. Então o sujeito começa a entrar na dialética do mal: ele lê
Maquiavel, lê Nietzsche, essa coisa toda, e aí vai elaborar a sua
revolta, sem perceber que, com isso, ele está ele próprio se
transformando num instrumento do demônio. Quer dizer: quanto mais
revoltado contra o mal do mundo o sujeito está, mais mal ele vai fazer,
isso aí é a coisa mais óbvia.
O
ser humano não nasceu para corrigir o mundo. A esfera de ação própria
do ser humano é muito pequena. E hoje em dia todo mundo tem a ambição de
criar um mundo melhor. Qualquer garoto de 12 anos está criando um mundo
melhor. Então é essa ambição de criar um mundo melhor que faz os
camaradas entrarem numa luta pelo poder — porque, se você quer mudar o
mundo, você precisa ter o poder para modificá-lo —, então modificar o
mundo, melhorar o mundo passa a ser o capítulo 2; o capítulo 1 é
conquistar o poder. Esse pessoal cria uma obsessão de poder, e todos
eles se corrompem até o fundo da alma, e se transformam eles mesmos em
maiores propagadores do mal ainda. Então isso não é porque o sujeito
fosse um idealista.
Esse negócio de que os jovens entram nas lutas sociais por ser um idealista, isso é uma patacoada. Que
garoto de 14 ou 15 anos tem uma visão correta da sociedade, da pobreza
etc.? Que garoto de 14 anos está mais interessado nos outros do que em
si mesmo? Me diga. Isso é impossível. Um garoto de 14 anos está lutando
pela sua autorrealização. E, se ele está revoltado com a injustiça
no mundo, é porque ele se sente injustiçado, embora na maior parte dos
casos não o seja. Então ele projeta esse seu sentimento de injustiça nos
outros, e diz que ele está representando então os pobres e oprimidos.
Isso é uma mentira! Eu digo isso analisando o quê? A minha própria
geração e a mim mesmo. O que é que eu sabia da pobreza e da miséria do
Brasil quando pela primeira vez me fascinei pelas ideias de esquerda?
Não sabia coisíssima nenhuma! Eu sabia que eu estava me sentindo mal. Eu
me sentia mal e oprimido, então odiava qualquer coisa que representasse
aos meus olhos a autoridade. Então eu estava lutando é pelos meus
próprios interesses, pela minha própria vaidade, como todos daquela
época!
Eu,
inclusive, veja, no Partido Comunista, se você perguntar quem você
conheceu que fosse uma pessoa piedosa, caridosa, que tivesse realmente
piedade pelos pobres, que tentasse ajudá-los diretamente, não conheci
um! Nem um único! Eram todos corações secos! Todos eles! Então o sujeito
está lutando pela sua própria vaidade, mas, como se engana a si mesmo,
achando que ele é o salvador que está lutando contra o mal, quanto mais
ele pensa assim, mais ele se impregna do mal por via da vaidade. (…)
PARTE IV: “SE VOCÊ COMBATER IMPIEDOSAMENTE AS FORÇAS DA DECADÊNCIA, DA CORRUPÇÃO, DA MENTIRA, O RESTO A SOCIEDADE FAZ POR SI.”
True Outspeak de 13/09/2010, transcrito por Felipe Moura Brasil:
(…)
Eu não acredito nessa história de “Nós queremos montar uma sociedade
virtuosa”. Isso aí é uma bobagem, uma bobajada! O nível da convivência
social não depende de você ter nenhuma concepção da sociedade; não
depende de você ter nenhum plano de sociedade virtuosa; não depende
sequer de você ter ideais. Depende só de uma coisa: depende de você atuar contra as forças corruptoras que destroem a sociedade. Você não precisa ter uma proposta positiva.
Por
exemplo: você pega aí a polícia. Para que existe a polícia? A polícia
existe para combater o crime. Ela não vai fomentar os bons costumes por
quê? Porque os bons costumes são normais, eles não precisam ser
fomentados. Se você eliminar, se você combater impiedosamente as forças
da decadência, da corrupção, da mentira, o resto a sociedade faz por si.
Você não é o único que tem ideia boa. Quantas
pessoas tem no Brasil? 180 milhões de pessoas? 190? Então. Cada um
deles tem uma boa intenção na cabeça. É só você eliminar os obstáculos
que as pessoas realizam as suas boas intenções, as quais uma cabeça
humana jamais poderia abarcar. Você não pode conceber de antemão
todas as ideias boas, produtivas e humanitárias que as pessoas vão ter
nos próximos 50 anos. Não é possível!
Então
ter uma concepção integral da sociedade, boa e virtuosa, é perda de
tempo. Só precisa combater o crime e a mentalidade revolucionária. É só
isto! É só isto! Você não precisa ter belos planos para a economia, você
não precisa ter belos planos para a educação, para nada. É só deixar
que a sociedade tenha a sua iniciativa; e as pessoas que têm poder e
influência que tratem de combater o mal.
Eu
já falei pra vocês: não existe mal maior no mundo do que a mentalidade
revolucionária há 300 anos. É isto que nós temos que combater! As
pessoas dizem: o que nós temos que fazer para melhorar a economia
brasileira? Não sei! O que devemos fazer para melhorar a educação no
Brasil? Não sei! O que devemos fazer pela saúde pública? Não sei! O que devemos fazer? Devemos tirar do cenário os seus inimigos. O
resto, deixa que o povo tenha a sua iniciativa, e todo mundo saberá ter
a sua ideia boa e lutar por ela: cada um no seu campo.
Agora,
se você vem com uma concepção integral de sociedade, você já está
pensando igual à mentalidade revolucionária. Prestem atenção: até o
advento da modernidade, ninguém jamais pensou em sociedade melhor.
Ninguém pensou. Porque todo mundo sabia, por instinto, que a sociedade
resulta de milhões de iniciativas que ninguém controla. Então, as
pessoas tratavam de enfrentar os males que estavam ao seu alcance, sem
ter nenhuma concepção global duma sociedade melhor. Agora, depois que
veio o movimento revolucionário, até os inimigos dele querem ter uma
concepção duma sociedade melhor. (…)
Projeto
de futuro baseado na concentração de poder, o que é que é? É a
revolução de novo, e de novo, e de novo, e de novo… E ninguém sai dessa
porcaria! Então, ninguém tem que ter programa positivo para a sociedade.
Nós temos apenas que combater os inimigos. Retirar o mal. Estudem
Hegel. Hegel falava do “trabalho do negativo”. Se você insistentemente
destrói determinada corrente, você está fomentando automaticamente as
correntes que têm propostas diferentes. É a coisa mais óbvia. Correntes
cujo florescimento você não pode prever e não pode controlar.
O bem é por sua própria natureza expansivo e criativo. Entendam
isso, pelo amor de Deus! O bem não precisa ser planejado, meu Deus do
Céu! Não precisa ter a “gerência geral do bem”. O bem está em todo
coração humano. Ter amor a Deus, ter amor à família, ter amor ao
próximo. As pessoas vivem tendo ideias maravilhosas.
Você
veja: no Brasil dos anos 1980, 50% da economia nacional era o quê? Era
economia informal. Era firma que não tinha registro. Era a mulher que
fazia bolo pra vender pras vizinhas… O sujeito que tinha uma oficininha
informal… Isso aí estava sustentando o Brasil, era metade da economia
brasileira. Daí vem o governo e começa a querer controlar tudo. Pra que
controlar se está funcionando, meu Deus do céu? “Ah, mas tem que pagar
imposto…” Tem que pagar imposto pra quê? Pra alimentar o governo que vai
paralisar tudo? É exatamente isso que está acontecendo. (…)
PARTE V: “O BRASIL, NA VERDADE, SÓ TEM DOIS PROBLEMAS: A INSEGURANÇA GERAL E A INÉPCIA DA CLASSE DIRIGENTE.”
[Do artigo “O Estado covarde”, Diário do Comércio (editorial), 21 de fevereiro de 2006]
Uma
coisa espantosa no Brasil de hoje é a candura, a inocência pueril ou
mongolóide com que, num país onde ocorrem 50 mil homicídios por ano, as
pessoas se acomodam à violência como uma fatalidade inevitável, dizendo
de si para si que aquilo que não tem remédio remediado está, e saem
buscando soluções para outros problemas em volta.
Digo
cinqüenta mil porque é a estatística oficial da ONU. Segundo o repórter
espanhol Luís Mir são 150 mil. Mas, se fossem cinqüenta mil, já seria o
equivalente a três guerras do Iraque por ano, em tempo de paz.
Quem
pode fazer a economia render, ampliar o mercado de empregos, aumentar a
produção de bens, melhorar a distribuição, numa sociedade onde ninguém
tem o mínimo de segurança física para saber se vai voltar vivo do
trabalho? Quem pode pensar em educação, saúde, habitação, vestuário, se
está sob ameaça de morte 24 horas por dia?
Isso
é tudo ilusão, besteira, desconversa. Sem segurança não há progresso,
educação, saúde, nem coisa nenhuma. Todo mundo sabe disto e faz de conta
que não sabe. Faz de conta porque tem medo de enfrentar o problema
fundamental, e então sai brincando de resolver os problemas periféricos
só para dar “a si mesmo ou à platéia” a impressão de que está fazendo
alguma coisa.
A
taxa anual de homicídios no Brasil significa, pura e simplesmente, que
não há ordem pública, não há lei nem direito, não há Estado, não há
administração, há apenas um esquema estatal de dar emprego para
vagabundos, sanguessugas, farsantes. O Estado brasileiro é uma
instituição de auto-ajuda dos incapazes. E você, brasileiro, paga. Paga a
pantomima toda. Paga para o sr. Gilberto Gil fazer de conta que é
culto, paga para o sr. Nelson Jobim fazer de conta que é honesto, até
para o sr. Lula da Silva fazer de conta que preside alguma coisa.
O
Brasil, na verdade, só tem dois problemas: a insegurança geral e a
inépcia da classe dirigente. O primeiro não deixa ninguém viver e o
segundo anestesia a galera para que não ligue e trate de pensar em outra
coisa. Desaparecidos esses dois problemas, a sociedade encontraria
sozinha as soluções dos demais, sem precisar da ajuda de governo nenhum.
A sociedade pode perfeitamente criar e distribuir riqueza, dar educação
às crianças, encontrar meios de que todos tenham uma renda decente,
moradia, saúde, assistência na velhice.
O
que a sociedade não pode é garantir a ordem pública pela força das
armas e educar os governantes para que governem. Isso tem de vir do
Estado. Mas o Estado, justamente para não ter de fazer o que lhe
compete, prefere se meter em todo o mais. É o Estado educador, o Estado
médico, o Estado assistente social, o Estado onissapiente. Só não é o
Estado-Estado. Só não é o que tem de ser.
É
o Estado que tem cada vez mais poder sobre os cidadãos e menos poder
contra os inimigos do cidadão. É o Estado santarrão, pomposo,
grandiloqüente e covarde.
PARTE VI: AS 8 SOLUÇÕES DE OLAVO DE CARVALHO PARA O BRASIL
[Do artigo “Dormindo profundamente”, Diário do Comércio, 19 de junho de 2006]
Alguns leitores reclamam que descrevo o problema mas não indico solução. Sabem por que faço isso? É
que as únicas soluções possíveis são tão difíceis e remotas que só de
pensar nelas a visão do problema se torna ainda mais insuportável. Cada
vez que volto ao assunto ecoa na minha memória o verso de Manuel
Bandeira, o mais triste da literatura universal, que resume a história
do Brasil nas últimas décadas: “A vida inteira que poderia ter sido e
que não foi.” (…)
Querem soluções? Elas
existem, mas os homens influentes deste país, tão logo acabem de ler a
lista, já vão querer atenuá-las, adaptá-las ao nível de covardia e
preguiça requerido para ser direitistas “do bem” ou então diluí-las em
objeções sem fim até que se transformem nos seus contrários, mui
dialeticamente.
Se querem saber, essas soluções são as seguintes:
1. Aceitar
a luta ideológica com toda a extensão das suas conseqüências. Não fazer
campanhas genéricas “contra a corrupção”, salvando a cara do comunismo,
mas mostrar que a corrupção vem diretamente da estratégia comunista
continental voltada à demolição das instituições.
2. Criar
uma rede de entidades para divulgar os crimes do comunismo e mostrar ao
público o total comprometimento da esquerda atual com aqueles que os
praticaram. A simples comparação quantitiva fará o general Pinochet
parecer Madre Teresa.
3. Criar
uma rede de ONGs tipo media watch para denunciar e criminalizar a
desinformação esquerdista na mídia nacional, a supressão proposital de
notícias, a propaganda camuflada em jornalismo.
4. Desmantelar
o monopólio esquerdista do movimento editorial, colocando à disposição
do público milhares de livros anticomunistas e conservadores que lhe têm
sido sonegados há quatro décadas.
5. Formar
uma geração de intelectuais liberais e conservadores habilitados a
desmascarar impiedosamente os trapaceiros e usurpadores esquerdistas que
dominaram a educação superior e os órgãos de cultura em geral.
6. Formar e adestrar militância para manifestações de rua.
7. Durante pelo menos dez anos enfatizar antes o fortalecimento interno do movimento do que a conquista de cargos eleitorais.
8. Criar
um vasto sistema de informações sobre a estratégia continental
esquerdista e suas conexões com os centros do poder globalista, de modo a
esclarecer o empresariado, os intelectuais e as Forças Armadas.
Essas são as soluções. Tudo o mais é desconversa. Ou
os brasileiros fazem o que tem de ser feito, ou, por favor, que parem
de choradeira. Que aprendam a morrer com decência. Se o Brasil cessar de
existir, ninguém no mundo vai sentir falta dele. E se todos os
brasileiros não inscritos no PT, no PSOL, na CUT e similares entrarem na
próxima lista de falecidos do Livro Negro do Comunismo,
talvez só eu mesmo ache isso um pouco ruim. Em todo caso, o fim do
Brasil não vai abalar as estruturas do cosmos. Os esforços da direita
nacional para a conquista da perfeita inocuidade estão perto de alcançar
o sucesso definitivo. Quem em vida se esforçou para não fazer
diferença, não há de fazer muita depois de morto. (…)
PARTE VII:
OLAVO EXPLICA AS SOLUÇÕES EM ÁUDIO
PARTE VIII:
A FUNÇÃO DOS INTELECTUAIS E DA MILITÂNCIA
[Do artigo “Da falta que a militância faz”, Diário do Comércio, 5 de julho de 2010]
(…)
Militância, por seu lado, não se cria da noite para o dia. Ela começa
com círculos muito pequenos de intelectuais que, por anos, nada fazem
senão discutir e discutir, analisando diariamente, com minúcia
obsessiva, uma conjuntura política na qual não têm o mínimo poder de
interferir. É do seu debate interminável que emergem, aos poucos, certas
maneiras de pensar e falar que, consolidadas e simplificadas em
esquemas repetitivos, se tornam espontaneamente a linguagem dos
insatisfeitos em geral. Quando estes aceitam a linguagem do núcleo
intelectual como expressão de suas queixas (por mais inadequada que essa
linguagem seja objetivamente), é então que começa o adestramento da
militância propriamente dita. De início suas iniciativas podem parecer
deslocadas e pueris, mas elas não visam a alcançar nenhum resultado
objetivo: são apenas ação imanente, destinada a consolidar a militância.
Isto é tão importante, tão vital, que todo movimento político sério tem
de começar sacrificando eleições e cargos ao ídolo da solidariedade
militante.
A
direita não tem militância, desde logo, porque não entende a função dos
intelectuais. Quer usá-los apenas como adornos, como redatores de
publicidade ou como revisores de estilo do discurso empresarial. Não
compreende que a análise de conjuntura, a revisão de estratégias, o
auto-exame e a busca constante das chaves da unidade do movimento têm de
ser atividades diuturnas, incansáveis, obstinadas. Essa é a função por
excelência dos “intelectuais orgânicos”. Sem isso não há militância, e
sem militância não adianta nem mesmo vencer eleições. Perguntem ao
Fernando Collor.
Felipe Moura Brasil - http://www.veja.com/felipemourabrasil
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