Josias de Souza
“Eu
não sabia” passará à história como a frase-lema do Brasil pós-ditadura.
Será lembrada quando, no futuro, quiserem recordar a época em que o
país era regido pelo cinismo. Lula usou-a no escândalo do mensalão do
PT. Citando-o, o tucano Azeredo repetiu-a no processo do mensalão do
PSDB. Alckmin empregou-a no caso do cartel dos trens e do metrô. Volta
agora, com variações, na desconversa de Dilma sobre o petrolão: “Eu não
tinha a menor ideia de que isso ocorria dentro da Petrobras.''
Usada assim, desavergonhadamente, a expressão vai virando uma espécie de código. Quando ela aparece, já se sabe que o país está diante de mais um desses escândalos que, de tão escancarados, intimam os responsáveis a reagir, ainda que seja com uma cara de nojo. É nessa hora que governantes capazes de tudo pedem ao país que os considere incapazes de todo. E alguns brasileiros, como que dotados de indulgência congênita, lhes concedem um deixa-pra-lá preventivo, que transforma cúmplices notórios em cegos atoleimados.
Claro que, entre o arrombamento do cofre e a manchete de primeira página, há um longo caminho de decisões tomadas ou negligenciadas —desde a ordem presidencial para entregar a diretoria da Petrobras a um apadrinhado de PT, PMDB e PP, até o engavetamento dos relatórios do TCU que apontavam superfaturamentos na obra da refinaria de Pernambuco.
Submetido
a escândalos em série, o brasileiro precisa confiar na cara dos seus
governantes. Mesmo que elas sirvam apenas para dar à mesma porcaria de
sempre uma fachada mais atraente. A percepção de que o “eu não sabia” é
apenas uma máscara empurraria o país para o ceticismo terminal.
Parte dos brasileiros parece sentir a necessidade de acreditar na ilusão de que a política ainda se divide em duas bandas: a ruim (as oligarquias carcomidas) e a boa (o pessoal da ‘nova política’, os bicudos, a turma da estrela…). A revelação de que, no poder, dilmas e renans são indistinguíveis seria demais para muitos corações.
Por mais cabeludo que seja o escândalo, o sistema acaba se autorregulando. Quando o Congresso escorraça do Planalto um Collor, tem-se a sensação de que o país pode livrar-se de seus gatunos. Quando o STF manda à Papuda a cúpula do PT, enxerga-se a luz no fim do túnel. Mas a reiteração dos assaltos, um engolfando o outro, num moto-contínuo infernal, revela que o brasileiro parece não ter mesmo muitas escolhas: ou é bobo ou é cínico.
Usada assim, desavergonhadamente, a expressão vai virando uma espécie de código. Quando ela aparece, já se sabe que o país está diante de mais um desses escândalos que, de tão escancarados, intimam os responsáveis a reagir, ainda que seja com uma cara de nojo. É nessa hora que governantes capazes de tudo pedem ao país que os considere incapazes de todo. E alguns brasileiros, como que dotados de indulgência congênita, lhes concedem um deixa-pra-lá preventivo, que transforma cúmplices notórios em cegos atoleimados.
Claro que, entre o arrombamento do cofre e a manchete de primeira página, há um longo caminho de decisões tomadas ou negligenciadas —desde a ordem presidencial para entregar a diretoria da Petrobras a um apadrinhado de PT, PMDB e PP, até o engavetamento dos relatórios do TCU que apontavam superfaturamentos na obra da refinaria de Pernambuco.
PAULO
ROBERTO COSTA, O DELATOR - Investigado pela Operação Lava Jato da
Polícia Federal, que apura esquema bilionário de lavagem de dinheiro,
Paulo Roberto Costa é ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras,
cargo que ocupou entre 2004 e 2012. Foi preso em março deste ano por
tentar ocultar provas que o incriminavam. Solto em maio, foi preso
novamente em junho, e fez acordo de delação premiada com a PF em agosto,
o que possibilitaria uma redução de sua pena em caso de condenação. Em
depoimentos gravados feitos à polícia, ele cita, segundo a revista
"Veja", ao menos 25 deputados federias, 6 senadores, 3 governadores, um
ministro de Estado e pelo menos três partidos políticos (PT, PMDB e PP),
que teriam recebido propina de 3% do valor dos contratos da estatal Leia mais Renato Costa/Frame/Folhapress
Parte dos brasileiros parece sentir a necessidade de acreditar na ilusão de que a política ainda se divide em duas bandas: a ruim (as oligarquias carcomidas) e a boa (o pessoal da ‘nova política’, os bicudos, a turma da estrela…). A revelação de que, no poder, dilmas e renans são indistinguíveis seria demais para muitos corações.
Por mais cabeludo que seja o escândalo, o sistema acaba se autorregulando. Quando o Congresso escorraça do Planalto um Collor, tem-se a sensação de que o país pode livrar-se de seus gatunos. Quando o STF manda à Papuda a cúpula do PT, enxerga-se a luz no fim do túnel. Mas a reiteração dos assaltos, um engolfando o outro, num moto-contínuo infernal, revela que o brasileiro parece não ter mesmo muitas escolhas: ou é bobo ou é cínico.
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