19/12/2014
às 16:16
Estamos
chegando ao fim de 2014, ano em que horror e maravilha se encontram. O
horror é de todos conhecido a esta altura. O estado brasileiro está
sendo assaltado, espoliado, dilapidado.
O estado,
meus caros, reúne tudo e nada ao mesmo tempo: nele estão as
instituições, o ordenamento jurídico, os direitos assegurados, as
expectativas de direito, os valores que nos permitem conviver de forma
mais ou menos harmoniosa etc. Mas, quando falamos em estado, as pessoas
desaparecem, somem, perdem, como dizia o poeta, a sua carnadura
concreta.
Sim, o
estado, numa democracia, nada mais é do que o conjunto dos interesses
dos cidadãos traduzido numa ordem abstrata. Estados existem para servir
aos indivíduos, não o contrário. Ora, mas são tantos os interesses, tão
distintas as inclinações, tão diversas as convicções, tão várias as
ideologias, que cabe a pergunta: “Pode um ente abarcar tamanha
largueza?”.
A
resposta: pode, sim! E tanto mais o fará quanto menos fizer. Vale dizer:
o estado mais presente é o menos presente. Um estado gigante deixa de
ser um árbitro para ser uma parte do jogo. E produzirá injustiças em
penca. Precisamos de um estado mais forte e mais presente na segurança
pública, na educação e na saúde. E precisamos que ele saia com urgência
da operação da economia propriamente dita. Ao fazê-lo, ele deixa de
articular as diferenças e passa ser uma espécie de gendarme em favor de
uns poucos privilegiados.
A
roubalheira na Petrobras, à diferença do que diz a presidente Dilma, não
é apenas obra de indivíduos, de pessoas. É mais do que isso: a
roubalheira na Petrobras é fruto de um modelo de gestão, de um sistema,
de um modo de entender a coisa pública, como deixou claro o ministro
Gilmar Mendes em entrevista exclusiva ao programa “Os Pingos nos Is”,
que ancoro na Jovem Pan.
Não
estamos sendo assaltados apenas por uma quadrilha. Estamos sendo
assaltados, também, por farsantes ideológicos — o que significa, então, a
farsa dentro da farsa. Sob o pretexto de produzir justiça social, um
bando destrói o patrimônio brasileiro e compromete o futuro do país.
Pior para todos nós, mas especialmente para os pobres.
Mas eu
falei que o ano de 2014 também traz sinais de maravilha. Percebo um
saudável despertar das consciências; noto que é crescente o
inconformismo como esse estado de coisas; meus radares detectam uma
insatisfação saudável com aqueles que se querem donos do nosso destino.
Ao mesmo tempo em que as safadezas da Petrobras nos deixam estarrecidos,
elas também nos informam que, de verdade, donos do nosso destino somos
nós mesmos.
A
democracia não comporta salvadores da pátria; a democracia não comporta
demiurgos; a democracia não comporta discursos salvacionistas. A cada
dia, mais gente se mostra insatisfeita com esse jogo rasteiro do “nós
contra eles”, da política exercida como guerra de todos contra todos, o
que, como vemos, só atende aos interesses de ladrões e vigaristas
ideológicos.
Sabem por
que a Petrobras se tornou aquele antro? Porque os que passaram a decidir
seus destinos agem como vencedores de uma guerra sem regras. À moda de
tempos idos, de pouco apuro moral e ético, acreditam que a vitória lhes
dá o direito de saquear, de estuprar, de humilhar, de eliminar os
sobreviventes.
A
sociedade está aprendendo a reagir e ganha as ruas não para demonizar
pessoas, mas para reivindicar o cumprimento das leis definidas pelo jogo
democrático.
Este blog
é parte dessa luta e se orgulha muito disso. Não serve a este ou
àquele, mas pensa e se posiciona sem falsos pudores. Não tem receio de
chamar as coisas e as pessoas pelos seus respectivos nomes. Não ofende,
mas confronta. Não agride, mas diz “não” quando julga ser o caso. Não
concede, mas diz “sim” quando também julga ser o caso. Não trai jamais
seus leitores porque não esconde o que pensa; não se refugia no conforto
de uma posição nem-nem; escolhe sempre um caminho.
E nós
seguiremos adiante: com alegria, com determinação, com destemor — já que
a coragem não deve ser tomada como atributo de homens raros. É só uma
obrigação.
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