domingo, dezembro 21, 2014
FOLHA DE SP - 21/12
Em 2004 ele escreveu artigo sobre a 'Operação Mãos Lim- pas' da Itália, lendo-o enten-de-se o que está fazendo
O juiz Sergio Moro, que conduz o processo das petrorroubalheiras, fala pouco e não polemiza para fora. O que ele está fazendo, todo mundo sabe. O que ele quer fazer, e como quer fazer, parece uma questão aberta. Em 2004 Moro publicou um artigo intitulado "Considerações sobre a Operação Mani Pulite" na revista da revista CEJ, do Conselho da Justiça Federal. Está tudo lá.
Em 2004 ele escreveu artigo sobre a 'Operação Mãos Lim- pas' da Itália, lendo-o enten-de-se o que está fazendo
O juiz Sergio Moro, que conduz o processo das petrorroubalheiras, fala pouco e não polemiza para fora. O que ele está fazendo, todo mundo sabe. O que ele quer fazer, e como quer fazer, parece uma questão aberta. Em 2004 Moro publicou um artigo intitulado "Considerações sobre a Operação Mani Pulite" na revista da revista CEJ, do Conselho da Justiça Federal. Está tudo lá.
A "Operação Mãos Limpas" italiana foi uma das
maiores faxinas ocorridas na Europa. Começou em 1992, com a investigação
de um gatuno banal. A magistratura, o Ministério Público e a polícia
puxaram os fios da meada, investigaram 6.000 pessoas e expediram 3.000
mandados de prisão. Caíram na rede 872 empresários (muitos deles ligados
à petroleira estatal) e 438 parlamentares.
O serviço provocou a
queda e o exílio voluntário do primeiro-ministro Bettino Craxi. Ele
dissera o seguinte: "Todo mundo sabe que a maior parte do financiamento
da política é irregular ou ilegal". (Craxi morreu anos depois, na
Tunísia.) A faxina destruiu a mística dos dois grandes partidos do país,
o Socialista e a Democracia Cristã. Eles dominavam a Itália desde o fim
da Segunda Guerra. Passados dois anos, minguaram. O PS teve 2,2% dos
votos, e a DC, 11,1%.
A corrupção política italiana
assemelhava-se bastante à brasileira na amplitude, na naturalidade com
que era praticada e até mesmo na aura protetora e fatalista que parecia
torná-la invulnerável.
No seu artigo, Moro mostra como a implosão da máquina de políticos, administradores e empresários levou à "deslegitimização" de um sistema corrupto: "As investigações judiciais dos crimes contra a administração pública espalharam-se como fogo selvagem, desnudando inclusive a compra e venda de votos e as relações orgânicas entre certos políticos e o crime organizado".
O Moro de 2004 diz mais:
"É ingenuidade pensar que processos criminais eficazes contra figuras poderosas, como autoridades governamentais ou empresários, possam ser conduzidos normalmente, sem reações. Um Judiciário independente, tanto de pressões externas como internas, é condição necessária para suportar ações dessa espécie. Entretanto, a opinião pública, como ilustra o exemplo italiano, é também essencial para o êxito da ação judicial."
Os juízes:
"Uma nova geração dos assim chamados giudici ragazzini' (jovens juízes), sem qualquer senso de deferência em relação ao poder político (e, ao invés, consciente do nível de aliança entre os políticos e o crime organizado), iniciou uma série de investigações sobre a má conduta administrativa e política".
A rua:
"Assim como a educação de massa abriu o caminho às universidades para as classes baixas, o ciclo de protesto do final da década de 60 influenciou as atitudes políticas de uma geração".
"Talvez a lição mais importante de todo o episódio seja a de que a ação judicial contra a corrupção só se mostra eficaz com o apoio da democracia. É esta quem define os limites e as possibilidades da ação judicial. Enquanto ela contar com o apoio da opinião pública, tem condições de avançar e apresentar bons resultados."
As malas:
"A corrupção envolve quem paga e quem recebe. Se eles se calarem, não vamos descobrir, jamais."
As confissões:
"A estratégia de investigação adotada desde o início do inquérito submetia os suspeitos à pressão de tomar decisão quanto a confessar, espalhando a suspeita de que outros já teriam confessado e levantando a perspectiva de permanência na prisão pelo menos pelo período da custódia preventiva no caso da manutenção do silêncio ou, vice-versa, de soltura imediata no caso de uma confissão."
A imprensa:
"As prisões, confissões e a publicidade conferida às informações obtidas geraram um círculo virtuoso, consistindo na única explicação possível para a magnitude dos resultados obtidos pela operação mani pulite."
Serviço: o artigo de Moro está na rede. Não tem juridiquês.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e soube que o Inep, encarregado do preparo e da lisura do Enem, disse o seguinte, depois que a Polícia Federal confirmou o vazamento do tema da redação do último exame:
"Qualquer candidato que tenha sido indevidamente beneficiado será punido."
Eremildo acha que o Inep exagerou. O idiota sugere que os educatecas convoquem aqueles que foram indevidamente beneficiados, não foram apanhados, e devem estar rindo. (O estudante que denunciou o vazamento está sendo ameaçado, talvez por almas do outro mundo.)
COMBINAR COM OS RUSSOS
A descortesia da Embraer para com o vice-premiê russo, excluindo de sua agenda uma visita à fábrica de São José dos Campos, é a terceira trapalhada diplomática que se armou nas relações do Brasil com Moscou.
No primeiro mandato de Lula o presidente da Gazpron, a maior empresa de energia russa, marcou uma viagem ao Brasil para se encontrar com o presidente da Petrobras.
Atravessou o mundo, chegou ao Rio e, na véspera do encontro marcado, disseram-lhe que não seria recebido pelo presidente.
O comissário desmarcara o encontro para viajar, talvez para ir a um jogo de futebol.
Em 2004 o presidente Vladimir Putin veio ao Brasil com uma agenda oficial e um grande desejo pessoal: andar pelas areias de Copacabana, como fizera o personagem de um romance popular russo. Lula atrasou o almoço no Itamaraty, Putin pousou no Rio à noite e não conseguiu realizar seu desejo.
Em todos os casos, não se trata de ter uma política externa certa ou errada. É bagunça mesmo.
YOANI FERVEU
A reação da blogueira Yoani Sánchez, criticando as libertações de presos que abriram caminho para o restabelecimento das relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba, queimou o filme da moça.
Ela parecia uma jovem libertária do século 21 e mostrou-se uma velha guerreira do 20.
LULA E DILMA
Nosso Guia ainda não entendeu o que está acontecendo na Petrobras.
Desde que a doutora Dilma dissociou-se da maracutaia da refinaria de Pasadena ele acredita que ela lhe criou um problema. Ainda não percebeu que o problema foi criado por ele.
MADAME NATASHA
Natasha é viciada em compras eletrônicas e encantou-se com a notícia de que o portal de compras eBay quer ampliar suas operações no Brasil.
A senhora sugere que a empresa contrate mão de obra alfabetizada em português, pois os tradutores automáticos, por serem descerebrados, produzem pérolas como estas:
Uma fotografia tirada durante a Guerra Civil americana mostrando a localidade de Plum Run é identificada como "Ameixa Executar".
Uma pulseira de prata para mulheres aparece como sendo uma peça para "senhoras de prata esterlina".
Um exemplar de jornal, em cuja primeira página noticiava-se a morte do ditador Benito Mussolini e a proximidade da queda de Berlim, ficou assim: "Mussolini morto de Berlim perdido Hitler Reichstag".
AVISO AMIGO
De um conhecedor das coisas da vida:
"As denúncias de malfeitos das grandes empresas ainda estão circunscritas ao Brasil. Quando entrarem na agenda negócios internacionais, sobretudo os d'África, onde americanos e europeus foram tirados dos lances, a coisa vai piorar."
No seu artigo, Moro mostra como a implosão da máquina de políticos, administradores e empresários levou à "deslegitimização" de um sistema corrupto: "As investigações judiciais dos crimes contra a administração pública espalharam-se como fogo selvagem, desnudando inclusive a compra e venda de votos e as relações orgânicas entre certos políticos e o crime organizado".
O Moro de 2004 diz mais:
"É ingenuidade pensar que processos criminais eficazes contra figuras poderosas, como autoridades governamentais ou empresários, possam ser conduzidos normalmente, sem reações. Um Judiciário independente, tanto de pressões externas como internas, é condição necessária para suportar ações dessa espécie. Entretanto, a opinião pública, como ilustra o exemplo italiano, é também essencial para o êxito da ação judicial."
Os juízes:
"Uma nova geração dos assim chamados giudici ragazzini' (jovens juízes), sem qualquer senso de deferência em relação ao poder político (e, ao invés, consciente do nível de aliança entre os políticos e o crime organizado), iniciou uma série de investigações sobre a má conduta administrativa e política".
A rua:
"Assim como a educação de massa abriu o caminho às universidades para as classes baixas, o ciclo de protesto do final da década de 60 influenciou as atitudes políticas de uma geração".
"Talvez a lição mais importante de todo o episódio seja a de que a ação judicial contra a corrupção só se mostra eficaz com o apoio da democracia. É esta quem define os limites e as possibilidades da ação judicial. Enquanto ela contar com o apoio da opinião pública, tem condições de avançar e apresentar bons resultados."
As malas:
"A corrupção envolve quem paga e quem recebe. Se eles se calarem, não vamos descobrir, jamais."
As confissões:
"A estratégia de investigação adotada desde o início do inquérito submetia os suspeitos à pressão de tomar decisão quanto a confessar, espalhando a suspeita de que outros já teriam confessado e levantando a perspectiva de permanência na prisão pelo menos pelo período da custódia preventiva no caso da manutenção do silêncio ou, vice-versa, de soltura imediata no caso de uma confissão."
A imprensa:
"As prisões, confissões e a publicidade conferida às informações obtidas geraram um círculo virtuoso, consistindo na única explicação possível para a magnitude dos resultados obtidos pela operação mani pulite."
Serviço: o artigo de Moro está na rede. Não tem juridiquês.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e soube que o Inep, encarregado do preparo e da lisura do Enem, disse o seguinte, depois que a Polícia Federal confirmou o vazamento do tema da redação do último exame:
"Qualquer candidato que tenha sido indevidamente beneficiado será punido."
Eremildo acha que o Inep exagerou. O idiota sugere que os educatecas convoquem aqueles que foram indevidamente beneficiados, não foram apanhados, e devem estar rindo. (O estudante que denunciou o vazamento está sendo ameaçado, talvez por almas do outro mundo.)
COMBINAR COM OS RUSSOS
A descortesia da Embraer para com o vice-premiê russo, excluindo de sua agenda uma visita à fábrica de São José dos Campos, é a terceira trapalhada diplomática que se armou nas relações do Brasil com Moscou.
No primeiro mandato de Lula o presidente da Gazpron, a maior empresa de energia russa, marcou uma viagem ao Brasil para se encontrar com o presidente da Petrobras.
Atravessou o mundo, chegou ao Rio e, na véspera do encontro marcado, disseram-lhe que não seria recebido pelo presidente.
O comissário desmarcara o encontro para viajar, talvez para ir a um jogo de futebol.
Em 2004 o presidente Vladimir Putin veio ao Brasil com uma agenda oficial e um grande desejo pessoal: andar pelas areias de Copacabana, como fizera o personagem de um romance popular russo. Lula atrasou o almoço no Itamaraty, Putin pousou no Rio à noite e não conseguiu realizar seu desejo.
Em todos os casos, não se trata de ter uma política externa certa ou errada. É bagunça mesmo.
YOANI FERVEU
A reação da blogueira Yoani Sánchez, criticando as libertações de presos que abriram caminho para o restabelecimento das relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba, queimou o filme da moça.
Ela parecia uma jovem libertária do século 21 e mostrou-se uma velha guerreira do 20.
LULA E DILMA
Nosso Guia ainda não entendeu o que está acontecendo na Petrobras.
Desde que a doutora Dilma dissociou-se da maracutaia da refinaria de Pasadena ele acredita que ela lhe criou um problema. Ainda não percebeu que o problema foi criado por ele.
MADAME NATASHA
Natasha é viciada em compras eletrônicas e encantou-se com a notícia de que o portal de compras eBay quer ampliar suas operações no Brasil.
A senhora sugere que a empresa contrate mão de obra alfabetizada em português, pois os tradutores automáticos, por serem descerebrados, produzem pérolas como estas:
Uma fotografia tirada durante a Guerra Civil americana mostrando a localidade de Plum Run é identificada como "Ameixa Executar".
Uma pulseira de prata para mulheres aparece como sendo uma peça para "senhoras de prata esterlina".
Um exemplar de jornal, em cuja primeira página noticiava-se a morte do ditador Benito Mussolini e a proximidade da queda de Berlim, ficou assim: "Mussolini morto de Berlim perdido Hitler Reichstag".
AVISO AMIGO
De um conhecedor das coisas da vida:
"As denúncias de malfeitos das grandes empresas ainda estão circunscritas ao Brasil. Quando entrarem na agenda negócios internacionais, sobretudo os d'África, onde americanos e europeus foram tirados dos lances, a coisa vai piorar."
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