Em tempos de campanha, eles aparecem para puxar saco de uns e denegrir a imagem de outros
millena.lopes@jornaldebrasilia.com.br
Com a liberação das redes sociais para se fazer campanha política, surge um comportamento virtual, que já é bastante conhecido no meio eleitoral: os bajuladores. Por trás de perfis falsos ou mesmo de seus próprios avatares, eles defendem, com curtidas, compartilhamentos e comentários, seus candidatos. E aproveitam, claro, para alfinetar os adversários.
"Antes, eles precisavam de contato físico, mas hoje não precisam mais", registra o professor da Universidade de Brasília, Lúcio Teles, especialista em redes sociais e sites de relacionamento. Ele explica que, por trás do computador, não é possível descobrir se o trabalho de bajulação é voluntário ou feito por equipes pagas. "Não fica claro o que está acontecendo lá", argumenta.
O anonimato, nesse caso, facilita o trabalho sujo e dificulta a identificação dos autores. Assessores de políticos garantem que a bajulação é espontânea e que as campanhas nada têm a ver com os boatos espalhados e as mensagens negativas dirigidas aos adversários - até por que é crime eleitoral pagar para que denigram a imagem de candidatos na internet. "Essas mensagens, quando são repetidas e compartilhadas, passam a ser consideradas como verdades", explica o especialista da UnB.
Um vídeo em que o candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, aparece aparentemente bêbado, durante uma entrevista, tem circulado amplamente pela rede. Assim como uma edição em que o ex-presidente Lula (PT) aparece dizendo ter preguiça de ler. Ninguém sabe, até agora, de onde as imagens saíram.
Espontâneos
A analista de mídias sociais Cintya Feitosa, que coordena o trabalho de redes na campanha do candidato ao GDF Rodrigo Rollemberg (PSB), explica que os bajuladores são espontâneos. "Não tem nenhuma orientação para que eles atuem. É um ambiente que não dá para controlar", reconhece. Para ela, as redes sociais refletem o que ocorre nas ruas. "É uma plataforma que as pessoas continuam escoando suas opiniões. E melhor: não dependem mais de intermediadores", analisa.
Para Cintya, a campanha nas redes é positiva, "para candidaturas que não têm medo de críticas".
Ponto de vista
O Plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) firmou entendimento de que a liberdade de expressão do eleitor na internet deve ser total e que a interferência da Justiça Eleitoral deve se dar somente nos casos em que há ofensa à honra ou divulgação de fato sabidamente inverídico. O ministro Henrique Neves disse que o Facebook atinge expressiva quantidade de pessoas e a internet é a segunda mídia mais acessada por brasileiros.
Contudo, a análise das mensagens deve ser feita com a menor interferência possível no debate democrático. “A Constituição estabelece como garantia de direito individual a livre manifestação do pensamento, vedado o anonimato”, acentuou o relator.
Velha forma de fazer política
Para Marcello Cavalcanti Barra, especialista em internet e política, grande parte dos políticos não compreende nada ou muito pouco de como se faz política na internet.
"Infelizmente, a internet ainda não reinventou a maneira de fazer campanha, mas, em mais ou menos tempo, acredito que isso vai mudar", afirma. Ele explica que, ao contrário de pagar analistas para responder às manifestações nas redes sociais, os candidatos deveriam lançar mão da militância real para defender os propósitos da candidatura. "Deveriam ser pessoas que, de fato, acreditassem naquelas candidaturas, que tivessem ali e militassem politicamente por aquele candidato", esclarece.
Diferentemente do rádio e da televisão, em que apenas um emissor retransmite a mensagem para milhares ou milhões, a internet democratiza o processo, conforme o professor da Universidade de Brasília (UnB): "A internet expandiu o potencial de milhares falarem com milhares e até milhões falarem com milhões", explica.
"A campanha nas redes sociais é diferente de entregar um folheto, da propaganda eleitoral, na TV e no rádio, que é bastante desigual. Ela é bastante efetiva, porque não é limitada a esse período. Tem uma continuidade depois”, explica.
Conversas ilimitadas
As conversas, que antes eram limitadas a rodas de amigos, ganharam conotação ilimitada, confirma o professor: "A internet atinge um tom mais livre, no sentido de que não está restrito a um círculo de amigos mais próximos ou de familiares. É mais amplo".
Os smartphones foram determinantes para que esse fenômeno ganhasse proporções gigantes. Conforme explica o especialista, as discussões e até a grande repercussão das manifestações de julho do ano passado refletem que os jovens estão, sim, interessados em política, diferentemente do que sempre se ouve por aí.
“Tem um mito que diz que o jovem não é interessado, isso é completamente falso. Isso é mais um argumento para tentar desmobilizar, para que as pessoas não se envolvam mesmo", arremata o professor.
Eles anseiam, na opinião de Cavalcanti, por uma nova forma de se fazer política. E a internet, na opinião dele, é determinante para isso. "A forma de comunicação da nova política é a internet", conclui.
Elogios são sempre bem-vindos
O grupo que cuida da campanha do governador Agnelo Queiroz (PT), que tenta a reeleição, diz que a comunicação digital do petista pretende abrir mais um canal de diálogo com a população. "Criar um ambiente para o eleitor acompanhar a campanha, contribuir com o candidato, e interagir com os partidos da coligação" está entre os objetivos da equipe, que utiliza as redes sociais, site, WhatsApp, um aplicativo para celulares e boletins eletrônicos distribuídos por e-mail. "Nós queremos ouvir o que a população tem a dizer", explica, por e-mail, a coordenação de campanha.
"Os elogios são sempre bem-vindos e isso nos faz mais dispostos a lutar pelo que acreditamos", aponta a coordenação da campanha petista. "Tentamos receber e responder, de maneira consistente, todas as críticas, elogios e sugestões, o mais rápido possível", explica.
Discurso pronto
Na campanha de Luiz Pitiman (PSDB), candidato ao GDF, as respostas aos questionamentos mais gerais sobre os projetos dos candidatos já estão na ponta dos dedos dos analistas, que contam com discursos prontos e frases feitas. Basta apertar o “enter”. Para Ricardo Sanches, assessor de imprensa da campanha do tucano, "rede social não serve para ganhar voto". "Você apenas fideliza o seu", opina.
A presença dos bajuladores já é comum. "Eles tentam aparecer, de alguma forma", explica Sanches. E os alfinetadores são lidos, registrados e não ignorados, ele garante. "Não entramos em conflito", conta.
Saiba Mais
Segundo a lei eleitoral, é crime contratar pessoas com a finalidade específica de emitir mensagens ou comentários na internet para ofender a honra ou denegrir a imagem de candidato, partido ou coligação.
A pena vai de dois a quatro anos de prisão, além de multa entre R$ 15 mil e R$ 50 mil. Quem for contratado e postar conteúdo apócrifo pode pegar de seis meses a um ano de prisão e multa de R$ 5 a R$ 30 mil.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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