(O Globo) Não foi por um simples engano que a defesa do ex-diretor da
Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró arrolou a presidente
Dilma Rousseff como testemunha de defesa do executivo em um dos
processos da Operação Lava-Jato na Justiça Federal do Paraná. A manobra
foi intencional, mais um recado dele ao Planalto de que não vai aceitar
sozinho a culpa pela compra da Refinaria de Pasadena (EUA), em 2006. O
negócio deu prejuízo de US$ 792 milhões, segundo o Tribunal de Contas da
União (TCU).
O
advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, protocolou nesta segunda-feira a
defesa no processo em que o ex-diretor é acusado de receber propina por
contratos de navios-sonda. Dilma estava entre as testemunhas porque foi
presidente do Conselho de Administração da Petrobras até 2010, quando
concorreu à Presidência pela primeira vez.
Menos de três horas depois, o advogado retirou o nome dela da lista,
alegando um erro identificado pelo próprio Cerveró. O Conselho não tinha
ingerência sobre esse tipo de contrato. Segundo uma fonte próxima a Cerveró, o erro foi proposital para
mostrar a disposição dele de apontar a responsabilidade de Dilma na
compra de Pasadena, esse sim um tipo de negócio que só poderia ser feito
com aval do Conselho.
Cerveró nunca engoliu o fato de Dilma, em março
de 2014, tê-lo acusado de induzir o Conselho a erro com um resumo
executivo “técnica e juridicamente falho”. Em maio, ao depor numa
comissão da Petrobras, ele entregou um documento elaborado por seu
advogado mencionando o Estatuto Social da estatal para demonstrar que a
decisão não poderia se basear só no resumo técnico. Em seguida, enviou
texto similar à Comissão de Ética Pública e à CPI da Petrobras.
Desde o início do escândalo, Cerveró tem dito a amigos que não será o
“bode expiatório”, dando a entender que Pasadena servia a interesses de
outros executivos, como seu sucessor no cargo, Jorge Zelada, e Renato
Duque, ex-diretor de Serviços. Ao GLOBO, Ribeiro reafirmou que o erro
não foi intencional, mas confirmou a linha de defesa de responsabilizar o
Conselho.
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