Depois de 12 horas de reunião, Conselho presidido por Mantega não conseguiu calcular o tamanho da roubalheira na Petrobras.
O Jornal da Globo fez uma matéria duríssima sobre a Petrobras, ontem à noite. Clique aqui para assistir. Empresa perdeu, em pouco mais de três meses, mais de R$ 100 bilhões em valor de mercado.
A Petrobras divulgou na madrugada desta quarta-feira seu balanço
financeiro do terceiro trimestre do ano passado sem incluir as perdas
contábeis referentes a desvios por corrupção no âmbito da Operação
Lava-Jato. Em fato relevante enviado à CVM, a Petrobras disse que não
conseguiu determinar um critério para calcular o pagamento de propina,
como estabelecer um percentual médio para somar as propinas pagas nos
projetos que foram alvo de corrupção. E que, por isso, disse a estatal,
vai buscar outros critérios que atendem às exigências da CVM e da SEC
para calcular as baixas contábeis.
Sem
as perdas contábeis, a estatal registrou lucro de R$ 3,087 bilhões no
terceiro trimestre do ano passado, uma queda de 38% em relação ao
trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período de 2013, o recuo
foi de 9%. Entre janeiro e setembro, o ganho acumulado foi de R$ 13,4
bilhões, valor 22% menor que o registrado no ano anterior. A empresa
atribuiu o resultado pior no trimestre ao aumento dos custos
operacionais, principalmente por causa da construção das refinarias
Premium I e Premium II.
"Concluímos ser impraticável a exata quantificação destes valores
indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efetuados por
fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis
da companhia", diz texto assinado pela presidente da Petrobras, Graça
Foster.
"A divulgação das demonstrações contábeis não revisadas pelos
auditores independentes do terceiro trimestre de 2014 tem o objetivo de
atender obrigações da companhia em contratos de dívida e facultar o
acesso às informações aos seus públicos de interesse, cumprindo com o
dever de informar ao mercado e agindo com transparência com relação aos
eventos recentes que vieram a público no âmbito da Operação Lava-Jato",
diz o comunicado divulgado pela estatal.
"A companhia entende que será necessário realizar ajustes nas
demonstrações contábeis para a correção dos valores dos ativos
imobilizados que foram impactados por valores relacionados aos atos
ilícitos perpetrados por empresas fornecedoras, agentes políticos,
funcionários da Petrobras e outras pessoas no âmbito da Operação
Lava-Jato", acrescenta a nota.
"Com objetivo de divulgar as demonstrações contábeis do terceiro
trimestre de 2014 revisadas pelos auditores independentes, a companhia
está avaliando outras metodologias que atendam às exigências dos órgãos
reguladores (CVM e SEC)", afirma o texto.
A decisão de publicar o balanço sem as perdas contábeis, foi tomada
na terça-feira após reunião do Conselho de Administração, que foi
presidida pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, e durou mais de
sete horas. A estatal já havia adiado a publicação de seu balanço por
duas vezes.
O valor de baixas contábeis é referente ao que foi pago em propinas a
ex-funcionários da Petrobras, entre eles Paulo Roberto Costa,
ex-diretor de Abastecimento. A Petrobras usou como base os depoimentos
feitos durante a delação premiada à Justiça Federal de ex-funcionários
da estatal e executivos do setor envolvidos no esquema de corrupção no
âmbito da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal (PF).
No fim de dezembro, a Petrobras também proibiu a contratação de 23
empresas envolvidas em supostos esquemas de cartel para a obtenção de
contratos na estatal. Na lista estão companhias como Andrade Gutierrez,
OAS, Queiroz Galvão, Odebrecht, UTC, Mendes Júnior, entre outras. A
Petrobras também é alvo de diversos processos judiciais nos Estados
Unidos e alvo de investigação da CVM, Securities Exchange Comission
(SEC, a CVM dos EUA) e o Departamento de Justiça dos EUA.
Entre as várias medidas que estão sendo aplicadas pela companhia no
sentido de combater à corrupção, está a criação da diretoria de
Governança da estatal, cujo diretor é João Elek, que tomou posse semana
passada.
ENTENDA O CASO
A publicação dos resultados do
terceiro trimestre do ano passado foi adiada duas vezes. Inicialmente, a
previsão era que o resultado fosse publicado no dia 14 de novembro.
Naquela data, a estatal citou a Operação Lava-Jato para justificar o
adiamento. Uma das dificuldades era justamente a recusa dos auditores
(PricewaterhouseCopers, a PwC) em aprovar os resultados financeiros.
A
Petrobras, na época, adiou o anúncio para o dia 12 de dezembro, que foi
novamente postergado para fins de janeiro sob o argumento de que seria
difícil calcular os valores pagos em corrupção para dar a baixa contábil
em seus ativos. Na lista, estão projetos como a refinaria Abreu e Lima
(Rnest), em Pernambuco, e o Comperj, no Rio.
No dia 12 de dezembro, a Petrobras divulgou apenas algumas
informações sobre o seu resultado do terceiro trimestre que não seriam
afetadas pelas baixas contábeis. Entre janeiro e setembro do ano
passado, o endividamento líquido da empresa somou R$ 261,445 bilhões,
uma alta de 35% em relação ao mesmo período do ano anterior. A receita
de vendas, por sua vez, subiu 13%, para R$ 252,221 bilhões nos primeiros
nove meses do ano passado. A produção no período subiu 3%, para uma
média de 2,627 milhões de barris por dia.
No dia 29 de dezembro, a empresa havia informado que a divulgação dos
resultados até o fim de janeiro visava atender a suas obrigações com os
credores donos de títulos emitidos pela estatal no exterior. Assim, com
a divulgação dos resultados até o fim deste mês sem o aval da PwC, a
Petrobras consegue evitar o vencimento antecipado de sua dívida pelos
credores, o que, segundo alguns analistas, a colocaria em “calote
técnico”.
No primeiro semestre do ano passado, a Petrobras acumulou um lucro
líquido de R$ 10,4 bilhões, inferior aos R$ 13,8 bilhões em igual
período de 2013. Em 2014, a estatal se limitou a informar que estava
implementando uma série de ações para preservar o caixa da companhia,
que no fim de setembro era de R$ 62,4 bilhões.
Além disso, a Petrobras informou à época que, com o preço do petróleo em torno de US$ 70 por barril e taxa de câmbio em torno de R$ 2,60, não teria necessidade de captar recursos junto ao mercado em 2015. Ontem, a cotação do barril do tipo Brent fechou a US$ 48,16.
Além disso, a Petrobras informou à época que, com o preço do petróleo em torno de US$ 70 por barril e taxa de câmbio em torno de R$ 2,60, não teria necessidade de captar recursos junto ao mercado em 2015. Ontem, a cotação do barril do tipo Brent fechou a US$ 48,16.
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