Carlos Newton
Um ministro anuncia uma coisa, logo é desmentido pelo Planalto ou por outro ministro. A confusão é geral é só faz aumentar. Ainda não satisfeita em ter 39 ministros, a maioria sem a menor expressão ou importância, a presidente Dilma Rousseff já elevou este número para 40, porque o assessor especial Marco Aurélio Garcia, tido como consultor da Presidência para Assuntos Internacionais, conquistou assento permanente junto aos demais e participa das reuniões ministeriais.
Mas esse espantoso número passa a 41 quando se entende que o marqueteiro João Santana também merece idêntica qualificação de ministro sem pasta. Na verdade, deveria até ser considerado como principal ministro, uma espécie de Rasputin imberbe, pois é o único que consegue ser escutado com atenção por Dilma Rousseff, que acata sem discutir todas as sugestões dele, embora algumas tenham sido inteiramente idiotas, como vazar para a mídia que a presidente Dilma costumava andar sozinha de motocicleta por Brasília, à noite.
No dia seguinte, vergonhosamente o Planalto teve de desmentir a falsa notícia, porque Dilma não tem habilitação nem sabe dirigir motocicleta. Foi patético, porque, na tentativa de desfazer a mancada de Santana, a Secretária de Comunicação Social então inventou que a presidente andava de carona na moto do então secretário-executivo da Previdência Social, Carlos Gabas, que amavelmente se apressou a confirmar a veracidade da informação. E todos puderam imaginar a cena daquela volumosa senhora esforçando para subir na garupa de uma motocicleta para se abraçar fortemente a um jovem funcionário do governo, pelo simples prazer de dar um passeio pela capital…
CRIANDO E IMITANDO…
Santana é um excepcional marqueteiro, mas se alimenta muito da criatividade alheia, ao imitar ideias e situações. No caso do passeio de moto, por exemplo, ele copiou descaradamente o jornalista Said Farah, que era ministro da Comunicação do general João Figueiredo. Para popularizá-lo, Farah espalhou a notícia de que o então presidente gostava de andar de moto sozinho em Brasília, à noite, e divulgou até uma foto dele, a caráter.
Depois, Santana imitou também Ulysses Guimarães e fez Dilma se referir ao “Velho do Restelo”, o personagem de Luís de Camões que tentou evitar a viagem de Vasco da Gama. A presidente da República absurdamente aceitou a sugestão e tentou aparecer como conhecedora das Lusíadas, como se realmente tivesse esse tipo de cultura literária, vejam a que ponto os marqueteiros chegam.
Em outra ocasião, Santana inventou que Lula passara a ler livros e teria até adorado a tradução da biografia de Abraham Lincoln escrita por Doris Kearns Goodwin. Lula gostou da ideia e deu declarações sobre a obra, destacando um episódio em que Lincoln estava numa estação de telégrafo.
Só que, ao fazê-lo, Lula disse que o presidente americano estava usando o “telex”, ao invés de telégrafo. Mas o pior da estória é que esta cena não existe no livro, apenas no filme de Steven Spielberg, pois foi criada pelo roteirista Tony Kushner. Ou seja, Lula viu o filme, foi tirar uma onda de que teria lido a biografia e quebrou a cara.
Esses episódicos erros de Santana são desqualificantes, mas nada consegue reduzir o prestígio do marqueteiro no Planalto e no Instituto Lula, porque ele realmente funciona no que é mais importante – vencer eleição.
SEM PASTA, MAS PRESTIGIADO
Quanto ao outro ministro sem pasta Marco Aurélio Garcia, é o contrário do marqueteiro, pois tudo que o assessor de Assuntos Internacionais faz dá errado. É da inspiração dele, por exemplo, a abertura de embaixadas e consulados em países e cidades sem importância. Com isso, aumentou os gastos do Itamaraty inutilmente, fazendo os diplomatas passarem vergonha no exterior, com credores batendo à porta a todo momento e a imagem no Brasil denegrida no plano internacional.
Quem aceita um assessor desse nível decididamente nem precisa de inimigos. Mesmo assim, a presidente Dilma continua ouvindo os conselhos de Garcia e lhe dá assento nas reuniões ministeriais.
REUNIÃO IMPROFÍCUA
Como todas as anteriores, a primeira reunião ministerial do segundo mandato da presidenta Dilma foi totalmente improfícua. A governante (ou seria governanta, como sugere a comentarista Teresa Fabricio?) demonstra tanta consideração com os ministros que marcou a reunião para as 16 horas, para que tivesse a menor duração possível. Isso significa que praticamente só quem falou foi ela, a quase totalidade dos ministros fez como figurante de novela, que entra em cena mudo e sai calado.
Reunir 39 pessoas (na verdade 40, contando com o “ministro sem pasta” Garcia) é de uma inutilidade constrangedora. Se tivesse o mínimo de conhecimento de técnicas de Administração, a suposta “doutora” pela Unicamp saberia que os ministros precisam ser reunidos por grupos. O mais importante deles seria formado por Fazenda, Planejamento, Desenvolvimento e Banco Central. Dependendo do tema, poderia incluir Agricultura, Relações Exteriores, Turismo, Micro e Pequena Empresa e até Transportes e Portos, em função da importância crescente da logística no desempenho da economia.
Outro grupo seria formado por Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, Esporte e Desenvolvimento Social. Mais um grupo, integrado por Defesa, Relações Exteriores, Assuntos Estratégicos, Aviação Civil e Segurança Institucional, incluindo os três comandantes das Forças Armadas.
E por aí em diante. Mas quem se interessa por governar de uma forma racional e eficiente?
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