(Estadão) Em férias com a família desde o final do ano passado, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem mantido silêncio sobre as
críticas feitas pela senadora Marta Suplicy (PT-SP) ao PT e ao governo
Dilma Rousseff. No entanto, segundo interlocutores do ex-presidente,
Lula estaria disposto a atuar como articulador de uma saída de Marta do
partido para evitar que a ex-prefeita e ex-ministra da Cultura provoque
danos ainda maiores ao governo e ao PT.
Em outra frente, o PT escalou o presidente do diretório estadual do
partido, Emidio de Souza, para conduzir formalmente o diálogo com Marta.
Emidio, que também está de férias, já procurou interlocutores de Marta
para tentar uma aproximação, com aval do presidente nacional do PT, Rui
Falcão.
De acordo com um colaborador de Lula, o motivo do incômodo não é o
conteúdo da entrevista de Marta publicada domingo pelo Estado, mas a
forma como a senadora expõe sua versão dos acontecimentos, em especial
do movimento “Volta Lula”, do qual foi uma das expoentes.
Segundo interlocutores do ex-presidente, “Marta não disse nada sobre
Lula que já não fosse do conhecimento de Dilma”.
Um exemplo é o relato da senadora sobre um jantar com empresários, na
casa de Marta, no qual Lula teria concordado com críticas sobre a falta
de disposição de diálogo da presidente. Na ocasião, o ex-presidente
teria dito que o “empresariado está desgarrando”.
“Eles (empresários) fizeram muitas críticas à política econômica e ao
jeito da presidente. E ele (Lula) não se fez de rogado, entrou nas
críticas”, afirmou a senadora na entrevista.
Conforme uma pessoa próxima de Lula, o ex-presidente teria feito um
alerta com o mesmo teor à própria Dilma, ainda em 2013, aconselhando a
presidente a “não olhar apenas para a gestão e cuidar da política”.
O entorno do ex-presidente também não nega as articulações pela volta de
Lula que, no auge, “pareciam uma romaria” na porta do Instituto Lula,
mas nega que ele tenha incentivado a movimentação, embora nunca tenha
escondido a preocupação com o cenário eleitoral e com os rumos da
economia.
Um colaborador de Lula, que participou de uma das reuniões com Marta,
relatou que Lula teria sido enfático ao rejeitar a possibilidade de
entrar em uma disputa com Dilma. Ele teria alegado que a presidente
tinha direito à reeleição.
A entrevista de Marta não abalou “em um milímetro sequer” o elo entre
ele e a presidente, sustenta uma fonte do entorno do ex-presidente.
Outro colaborador do ex-presidente resumiu a relação entre Dilma e Lula
como “de independência de um lado e respeito do outro”, na qual Lula tem
liberdade para emitir suas opiniões sobre o governo sem interferir nas
decisões da sucessora, a não ser quando é consultado.
Holofotes. Embora não haja contestação dos pontos fundamentais da
entrevista, lulistas enxergaram na “narrativa criada” por Marta um
cálculo político com intuito de chamar atenção no momento em que se
prepara para deixar o PT, além de indícios de mágoa pessoal em relação a
alguns personagens do partido, em especial o ministro da Casa Civil,
Aloizio Mercadante, com quem a senadora travou (e perdeu) disputas pelo
direito de disputar o governo de São Paulo em 2006 e 2010.
Outro alvo do rancor de Marta, segundo lulistas, é Rui Falcão, que foi
um de seus principais assessores na Prefeitura (2001-2004) e hoje se
tornou desafeto da senadora.
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