01/01/2015 17h29
Adoecimento de professores e alunos e como pagar salários preocupam.
Novo secretário defende política de ciclos e otimização do uso de tablets.
O novo secretário de Educação, Júlio Gregório
(Foto: Ozimbio Sousa/Divulgação)
(Foto: Ozimbio Sousa/Divulgação)
(O G1 publica nesta quinta-feira, dia da posse do governador Rodrigo Rollemberg, entrevistas com os secretários de três das principais pastas do Executivo local. Saiba as primeiras medidas e desafios apontados pelos novos responsáveis por Mobilidade e Segurança)
As primeiras ações previstas por Gregório são a liberação em até duas semanas do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (Pdaf) – verba administrada pelas próprias unidades de ensino, voltada ao custeio e pequenas obras, que teria sido repassada de maneira irregular nos últimos dois anos – e a tentativa de alterar o item do último concurso para professores da rede pública, feito em 2013, que restringia a mil a convocação de docentes.
“Há pessoas que passaram na prova teórica mas não tiveram seus títulos analisados na prova final. Como o concurso estabeleceu que poderiam ser chamados cinco vezes mais do que a quantidade de vagas, e foram abertas apenas 200, essa quantidade já se esgotou”, diz. “Pode ter ocorrido um equívoco no dimensionamento. Essa alteração no item do edital nos ajudaria a resolver esse problema de uma forma mais rápida do que se fosse feito um novo concurso e mais barata.”
O déficit atinge principalmente as regionais de ensino de Samambaia, Santa Maria, Recanto das Emas e Planaltina. As faltas são maiores na alfabetização e na educação infantil, além das áreas de exatas, ciências, língua portuguesa e artes. Um levantamento feito pela equipe de transição apontou que há carência de 470 professores de matemática e 406 de português.
“O quadro não está fechado porque temos em aberto o concurso de remanejamento de professores. Isso permite que eles solicitem mudança da escola na qual trabalham. Quando eles se movimentam, abrem uma vaga de onde saem e fecham outra na escola para onde estão indo”, explica o novo secretário.
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Com isso, segundo Gregório, os problemas podem ser ainda maiores.
“Infelizmente, pelas características do concurso de remoção, só teremos
isso fechado no início de fevereiro, que é quando os professores vão se
apresentar. O que sabemos é que precisaremos de 6 mil contratos
temporários necessários para cobrir as ausências.”- Rollemberg anuncia secretariado; veja quem integra o 1º escalão
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Outro desafio apontado pelo gestor é garantir que as unidades de ensino tenham condições mínimas para receber os estudantes. Das 664 instituições, cerca de 170 precisam de reforma. Outras estão sem mobiliário.
“Os indicadores são de que teremos a rede com várias escolas, praticamente, a maioria absoluta, precisando de reparos imediatos”, completou o gestor. "Já considero que será uma grande revolução se o ano começar com alunos em sala, professores em sala e salas de aula com condições mínimas."
A pasta deve ainda mapear a demanda por vagas em cada modalidade de ensino. Estudos feitos pela equipe de transição já apontaram que no Paranoá, por exemplo, faltam 1.050 vagas para crianças e adolescentes entre o 1º e o 9º ano.
Adoecimento, tablets e semestralidade
Um levantamento feito pelo próprio governo durante a gestão de Agnelo Queiroz apontou que 58% dos servidores da Educação apresentam um ou mais atestados ao longo do ano. A pasta tem aproximadamente 50 mil funcionários. A média de dias de afastamento no serviço público é de 14,3, e os motivos mais frequentes são ansiedade e depressão.
Somado a um mapeamento feito pelo governo federal, que mostra que o DF tem um dos maiores percentuais de alunos com indicação para tomar remédios contra hiperatividade, o dado preocupa. “Se professores estão adoecendo em função do ambiente escolar e os alunos também requererem cuidados especiais, alguma coisa não está certa nesta rede”, diz o secretário. “A luz amarela se acendeu, o sinal de alerta, e nós teremos que verificar.”
Entre os pontos levantados por Gregório para entender este cenário estão a análise da adequabilidade do currículo escolar e das condições físicas das instituições de ensino. “Teremos que fazer um trabalho, os indicadores são preocupantes. Isso vai se refletir também no desempenho, nos índices de reprovação, que estão muito elevados, nos índices de abandono.”
Segundo o secretário, não há pretensão de alterar o currículo escolar neste início de governo. As escolas da capital do país começaram a implantar em janeiro de 2013 a Política Educacional do Ciclo de Aprendizagem. Na prática, os 4º e 5º anos do ensino fundamental foram convertidos em um só período.
A reestruturação substituiu o sistema convencional de seriação e alterou os critérios para reprovação. A proposta também reorganizou o conteúdo por setores de conhecimento. As áreas foram divididas em linguagem, matemática, ciências da natureza e ensino religioso.
Fachada do Centro de Ensino Médio 03 de Taguatinga, no
Distrito Federal (Foto: Raquel Morais/G1)
Distrito Federal (Foto: Raquel Morais/G1)
Para o gestor, o necessário é fazer políticas de aperfeiçoamento do novo currículo. “Essa proposta curricular acabou de ser construída. Os ciclos estão postos aí. As pessoas têm resistência porque leitura que elas fazem do ciclo de três anos é se professor só vai reprovar no final do terceiro ano. Não é bem assim.”
De acordo com Gregório, a ideia é positiva por respeitar o fato de as pessoas terem ritmos diferentes de aprendizagem. Além disso, dá um tempo maior para que os profissionais da área diagnostiquem as dificuldades e corrijam os rumos a serem tomados por esses estudantes. Levantamentos recebidos por ele indicam redução no abandono escolar e na reprovação após a adoção dos ciclos.
“Umas crianças leem mais rapidamente do que outras, e isso não significa necessariamente que elas vão ser alunos brilhantes”, afirma. “É muito perverso você pegar uma criança de 6, 7 anos e dizer que ela vai ser reprovada, vai repetir o ano, simplesmente porque ela não atingiu um patamar que ela atingiria de qualquer forma, mas levando um tempo um pouco maior.”
Mesmo não considerando uma prioridade, o secretário defende ainda a ampliação do uso de itens tecnológicos como ferramenta para potencializar a aprendizagem. Ele critica a simples “transposição” do livro para o tablet.
“A expressão é a mesma, de abrir na página 56 para fazer o exercício. Há alguma interatividade permitida, mas muito longe do potencial tecnológico que a gente tem”, declarou. “Precisamos aproveitar a potencialidade, não simplesmente jogar o livro dentro do tablet e ele só substituir o livro. É um avanço substituir o peso de cinco, seis livros, mas está muito longe da potencialidade. O grande entrave disso ainda é o professor, que tem dificuldade para usar essa ferramenta. Não fomos formados nesse universo.”
Perfil do secretário e plano de governo
Júlio Gregório, de 60 anos, nasceu em Catanduva (SP). Membro do Conselho Técnico Científico da Educação Básica da Capes, ele coordenou a área de educação da equipe de transição do governo Rollemberg.
O gestor é formado em química pela Universidade de Brasília e pós-graduado em administração da educação e em avaliação institucional. Foi professor da rede pública de ensino durante 34 anos, em escolas como o Centro de Ensino Fundamental 4 de Taguatinga e o Elefante Branco.
Além disso, dirigiu o Centro de Ensino Médio Setor Oeste, o Colégio da Asa Norte (atual Paulo Freire), o Galois e o Inei. Na Secretaria de Educação, foi ainda diretor do Departamento de Inspeção de Ensino e do Departamento de Planejamento Educacional e integrou o Conselho de Educação.
Gregório já estava aposentado quando recebeu o convite para coordenar a área na transição. Com isso, acompanhou de perto os efeitos da crise financeira e administrativa que atingiu o DF. Professores e servidores da Saúde, por exemplo, tiveram atrasos nos salários.
“Vamos ter que trabalhar a questão financeira para efetuar o pagamento dos professores, que têm férias coletivas em janeiro. E tem ainda o salário de dezembro, parte dos 13º e a rescisão dos contratos temporários”, afirmou.
À frente da secretaria, o especialista tem a responsabilidade de implantar o programa apresentado por Rollemberg para a educação ao longo da campanha. Entre as propostas da nova gestão estão ampliar a cobertura da educação infantil e do atendimento à população prisional no ensino superior.
A implantação da educação em tempo integral e a redução dos índices de repetência e de evasão também compõem o plano de governo.
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