01/01/2015 17h27
Primeira meta é garantir repasse às empresas para evitar greve, diz gestor.
Estudos analisarão ampliação de ciclovias e combate a engarrafamentos.
O secretário de Mobilidade, Carlos Henrique Tomé
(Foto: Ozimpio Sousa/Divulgação)
(Foto: Ozimpio Sousa/Divulgação)
(O G1 publica nesta quinta-feira, dia da posse do governador Rodrigo Rollemberg, entrevistas com os gestores de três das principais pastas do Executivo local. Saiba as primeiras medidas e desafios apontados também pelos novos responsáveis por Educação e Segurança.)
A estimativa da equipe que coordenou a transição é de que o rombo nas contas públicas chegue a R$ 3,8 bilhões. A crise financeira e administrativa prejudicou diversos serviços no final de 2014, além de comprometer o pagamento de salários e de horas extras de servidores das áreas de Saúde e Educação e de terceirizados.
Em relação ao transporte público, motoristas e cobradores de ônibus e micro-ônibus cruzaram os braços por falta de pagamento, e as empresas alegaram não ter recebido o repasse do governo local. O impasse só foi solucionado quando o DFTrans acionou o governo federal para conseguir quitar parte dos débitos.
De acordo com Tomé, a prioridade neste primeiro momento é evitar novas greves. Junto com a perda de investimentos federais e internacionais, as paralisações foram apontadas como uma das cem ameaças à governabilidade no início desta gestão.
“Não é possível resolver todos os problemas da noite para o dia, mas é necessário em um primeiro momento garantir que o serviço vá ser prestado sem nenhuma descontinuidade. E, para isso acontecer, é necessário regularizar os repasses e os pagamentos para as operadoras. [Minha primeira atitude será] Conversar muito com o secretário de Fazenda [Leonardo Colombini]. Vai ser meu melhor amigo”, brincou.
O gestor afirmou vai dar início a um estudo para avaliar o tamanho exato da dívida e a melhor forma de saná-la. Além disso, também serão feitas auditorias para verificar e identificar possíveis irregularidades no Passe Livre de deficientes e idosos – como, por exemplo, usuários que não tenham efetivamente direito ao benefício.
Outro levantamento previsto é sobre as possibilidades de redução do custo operacional do serviço. Atualmente, o DF conta com mil linhas de ônibus – quantidade igual à da cidade de São Paulo (SP), que tem uma população cinco vezes maior, e três vezes superior à da região metropolitana de Goiânia (GO), que tem o mesmo número de usuários.
“O modelo implantado em Brasília é um modelo de porta a porta, então nós temos cerca de mil linhas de ônibus, linhas que não são, nunca foram racionalizadas. Não é uma malha racional, então isso faz aumentar o custo”, explica o secretário.
saiba mais
O passo inicial para essa racionalização do sistema, de acordo com
Tomé, foi adotado na gestão passada. Com a implantação do modelo que
divide o DF em cinco bacias, o serviço passou a ser cobrado pelo
contrato e não mais pela quantidade de veículos em circulação.- Rollemberg anuncia secretariado; veja quem integra o 1º escalão
- Governo Rollemberg terá 23 pastas; são oito a menos que gestão Agnelo
- Transição anuncia mais quatro nomes do governo Rollemberg
- Rollemberg divulga análise e prevê receber DF com rombo de R$ 3,8 bilhões
- DF descumpre prazo e prevê salários da Saúde e Educação para quarta
- No DF, defasagem de 20% na tarifa de ônibus é a maior do país, diz entidade
- Volta para casa no DF tem disputa por transporte pirata e filas
- Rodoviários fazem nova greve em 8 dias no DF; 500 mil são afetados
- DFTrans anuncia ter repassado R$ 35 milhões a empresas de ônibus
“Esse é um mérito deles [o novo sistema de transporte público]”, diz. “Antes disso, a delegação era por linha. Interessava às operadoras ter a maior quantidade de ônibus e de linha. Elas eram criadas uma em cima da outra, porque era o que gerava lucro, a quantidade em circulação, e não havia qualquer preocupação com a racionalização.”
O secretário declarou que pretende reiniciar o processo de integração e alterações no Expresso DF, mas respeitando o tempo de adaptação da população. “O grande erro do GDF e dos governos em geral é fazer modificações de uma maneira abrupta, da noite para o dia, sem trabalhar com a população. Precisamos traçar um novo planejamento operacional e ter essa nova condição [da integração] como um ideal a ser atingido.”
“A ideia [das alterações no BRT], em si, não é ruim. A forma é que não foi adequada. A última integração foi comunicada da noite para o dia. A população não sabia o que seria feito, as pessoas foram jogadas para um outro lugar. Lá não tinha abrigo, não tinha calçada, nada. Essa é a receita clássica para o fracasso: impor uma solução para a sociedade porque é a melhor para o sistema. Não é assim. Temos que impor uma solução para o sistema porque ela é a melhor para a sociedade. Se não for assim, não vale a pena”, completou Tomé.
Reajuste, ciclovias e pequenas obras
O novo gestor também disse ao G1 que existe a possibilidade de aumentar o preço cobrado pelos serviços de ônibus na capital do país. A última alteração ocorreu há cinco anos.
“A tarifa está de fato defasada, mas não é só isso que precisa ser feito. Aumentar a tarifa por aumentar, porque o sistema não está arrecadando o suficiente, não é uma coisa que se faça assim, sem pensar, sem responsabilidade. O que é preciso fazer é, se você tem seu orçamento desequilibrado, aumentar receita sim, mas diminuir despesa. E isso tem a ver com aumentar a eficiência operacional”, explica.
O assunto deve ser discutido com a sociedade. “Precisa abrir a planilha, mostrar que sistema custa tanto, sistema arrecada tanto e o Estado está aportando mais tanto. Esse valor que o Estado está aportando para o sistema de transporte coletivo poderia ser usado para outros serviços, construir escola, hospital. Se a sociedade concordar com isso assim, mantém a tarifa. Se não, a gente faz uma discussão clara, madura, para saber qual é o valor de equilíbrio da tarifa. O que não se pode fazer é impor uma nova tarifa para a sociedade sem melhorar a qualidade do sistema e sem que as pessoas saibam por que aquela tarifa está aumentando.”
Outro objetivo do secretário é ampliar a malha de ciclovias, além de garantir que as pistas sejam iluminadas e seguras. No caso do Plano Piloto, o esforço é para fazer conexões e levá-las até a Esplanada dos Ministérios.
“Elas foram projetadas com viés de esporte e lazer. [...] O desafio é fazer com que sirvam como meio de transporte também”, afirma. “Nas demais regiões, o desafio é implantar uma malha de ciclovias de acordo com a necessidade de cada realidade. É fazer ciclovia para que as pessoas possam acessar a estação do Metrô, por exemplo.”
Motoristas enfrentam congestionamento na EPTG, no sentido Taguatinga (Foto: Felipe Néri/G1)
“Diante da dificuldade financeira que o DF enfrenta, vai ser o nosso foco identificar as necessidades das pessoas no primeiro momento. Quando a gente reequilibrar nossa situação de contas, já teremos projetos prontos para dar início a uma série de intervenções”, declarou.
Entre as alterações previstas estão ações pontuais, como pequenas obras, que diminuam os engarrafamentos – outra ameaça à mobilidade em Brasília. A equipe identificou 12 locais em que o estrangulamento das vias prejudica o tráfego. Entre eles, na ligação da Estrada Parque Vicente Pires com a EPTG e o trecho da EPGU em frente ao zoológico.
“Muitas vezes é uma obra de engenharia pequena, 200 metros de pista a mais duplicada, balão com geometria equivocada, viaduto mal planejado”, analisa o secretário. “Você vem da EPVP, que passa entre Águas Claras e o Park Way, com três faixas. Quando vira para ficar na paralela à EPTG, são duas faixas e, mais adiante, uma faixa. Isso faz com que toda a EPVP fique engarrafada.”
Segundo Tomé, o planejamento é que as melhorias sejam implantadas gradativamente e sentidas até o final dos quatro anos de governo. Ele diz que a intenção é que toda a população – usuários de ônibus, Metrô e carro particular, além de ciclistas – percebam a diferença.
“Ao mesmo tempo que em um primeiro momento pretendemos estimular o transporte coletivo, precisamos racionalizar o particular. Ninguém é contra as pessoas terem seu carro. A questão é dar a opção para quem hoje anda de carro para que elas andem de outra forma de transporte e de dar a todos a opção de como querem se locomover”, concluiu.
Perfil do secretário e plano de governo
Carlos Henrique Tomé tem 42 anos e nasceu no Rio de Janeiro (RJ). Formado em engenharia civil e em direito, é mestre em relações internacionais e trabalhou como coordenador técnico da equipe de transição.
Ele atua desde 2002 como consultor legislativo do Senado para as áreas de meio ambiente e ciência e tecnologia e, até assumir a secretaria, dava aulas em uma faculdade particular no centro da cidade. Além disso, foi oficial de inteligência da Abin e chefiou a Divisão de Tecnologia da Novacap.
De acordo com o gestor, a secretaria passou a ser chamada de Mobilidade e não mais Transportes por uma mudança de filosofia. “Nós passamos a estar preocupados não só com o vai e vem de carros, de ônibus, mas com o das pessoas. Se a pessoa pode ir a pé para o trabalho e ela não vai, por que ela não vai? Porque a calçada é ruim, porque não tem iluminação, porque não tem segurança para ela andar por aí. Se o deslocamento é um pouquinho mais longe e ela poderia ir de bicicleta, por que não vai? A ciclovia é feita para lazer, não leva até o trabalho.”
Entre as propostas da pasta estão a implantação do sistema de bilhete único, o incentivo a meios alternativos e o desenvolvimento de ligações ferroviárias para transporte de passageiros e cargas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário