quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Governo e o PT perdem batalha da comunicação


BLOG Balaio do Kotscho


Publicado em 19/02/15 às 11h19



Quando as coisas vão mal no governo, em qualquer governo, a culpa é da comunicação. Por uma razão muito simples: é muito mais fácil atribuir as dificuldades a uma atividade meio, importante, mas acessória, do que reconhecer a falta de rumo, de propostas e de soluções viáveis no comando do governo.

Por mais brilhante que seja o publicitário, nem o Washington nem o Nizan são capazes de vender um mau produto. Podem até bater recordes de vendas no lançamento, enganando a freguesia com belas campanhas, mas depois elas não se sustentam pelo simples e bom motivo de que o consumidor não é trouxa.

Assim também acontece nas campanhas políticas: um marqueteiro genial pode até te levar à vitória, mas depois não é capaz de garantir o sucesso do governo, se o eleito não tiver café no bule nem for capaz de melhorar a vida do eleitor e faz tudo ao contrário do que prometeu.

Na primeira metade do primeiro governo Lula, quando eu cuidava da área de imprensa, Miro Teixeira, jornalista e Ministro das Comunicações, criou um bordão sempre que o presidente reclamava de alguma notícia negativa: "A culpa é do Kotscho".

Naquele tempo, como agora, não era segredo para ninguém que a grande mídia familiar, com ou sem motivos, buscava pelo em ovo para atacar o governo petista. Só que havia uma grande diferença: a internet ainda era uma novidade, as redes sociais engatinhavam. Não havia contraponto nem espaço para o contraditório, o governo simplesmente não tinha como se defender e dar a sua versão dos fatos.

De lá para cá, a cada eleição presidencial, as redes sociais tiveram um papel cada vez maior nas campanhas para contrabalançar os canhões da oposição midiática dos grandes conglomerados. Pode ser uma das razões para explicar as três vitórias seguintes que seriam conquistadas pelo PT contra a vontade da turma do Instituto Millenium e seus "formadores de opinião", cada vez menos relevantes.


Foi assim em 2014, quando a reeleição de Dilma esteve várias vezes ameaçada, e só os programas de televisão do horário eleitoral já não bastavam para enfrentar as ofensivas dos adversários. Nas redes sociais, havia um equilíbrio entre militantes tucanos e petistas, uma guerra internética muitas vezes suja, mas que permitiu a Dilma chegar ao final da campanha em condições de ganhar no segundo turno, como acabou acontecendo.


A partir do momento em que o TSE anunciou o resultado oficial, porém, a brigada dilmista/petista foi recuando, sumindo de cena, como a própria presidente, deixando o campo livre para a oposição, que se mobilizou mais ainda para atacá-la por todos os meios, sintonizando pela primeira vez o discurso das redes sociais com o dos blogueiros e colunistas mais ferozes da velha mídia.


O principal sintoma desta mudança é a grande campanha que vem sendo feita pelo impeachment da presidente, enquanto os que ainda a apoiam mostram-se tímidos na reação. O objetivo imediato é convocar a população para os protestos do "Fora Dilma" que estão sendo programados em todo o País para o próximo dia 15 de março.


Nem é preciso ir muito longe: é só dar uma olhada nos comentários dos leitores aqui mesmo no Balaio publicados nas últimas semanas. Cada vez mais agressivos e muitas vezes ofensivos, parecem seguir um comando centralizado, enquanto os que defendem Dilma, Lula, o PT e o governo se tornam claramente minoritários. Até alguns dos mais fiéis petistas estão tirando o time de campo. 


Por alto, em cada 10 comentários dá para calcular uma goleada de 8 a 2 a favor da oposição.


Nas áreas de comentários dos portais ligados a grandes empresas a proporção por vezes chega a ser até maior, quase uma unanimidade contra o governo Dilma, que está perdendo a batalha da comunicação em todos os campos, apesar da recente convocação feita pela presidente aos seus ministros.

O maior problema do governo é que o silêncio de Dilma e dos seus auxiliares deixa sem argumentos os que se dispõem a defendê-lo. Entre os 39 ministros, ainda não encontrei nenhum capaz de ocupar o vazio deixado pela presidente, que continua recolhida aos seus pensamentos, só vendo a banda passar. Seria bom que todos fizessem um mídia training intensivo antes que seja tarde. Do jeito que vai, nem João Santana fará milagres.

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