(Do Instituto Teotônio Vilella, do PSDB, artigo intitulado "Advogado do diabo") Já há algum tempo José Eduardo Cardozo tem se notabilizado menos pelo
cargo que ocupa há mais de quatro anos no governo federal e mais por
sua postura como militante partidário. O ministro da Justiça mais parece
o advogado do PT.
Nas últimas semanas, claramente como parte de uma tentativa palaciana
de se contrapor ao descrédito que ronda a presidente Dilma Rousseff,
Cardozo deu entrevistas em série aos jornais. Quase nada disse sobre sua
função como ministro da Justiça; muito falou como articulador político.
Agora, com a revelação de que recebeu em seu gabinete advogados de
empresas envolvidas em desvios de recursos públicos investigados na
Operação Lava Jato, o papel de Cardozo como advogado do diabo se
consolida. Sua missão é defender o PT.
A história veio a público no fim de semana pela mais recente edição da revista Veja.
O ministro recebeu representantes de pelo menos três empreiteiras: a
UTC, a Camargo Correa e a Odebrecht. Os encontros foram omitidos da
agenda oficial, depois negados e só finalmente confirmados depois que a
história vazou na imprensa.
Transparência, aliás, não é o forte da gestão Cardozo no ministério. Segundo a Folha de S.Paulo,
sua agenda pública disponibilizada na internet não informa quais foram
as atividades executadas pelo ministro em 80 dos 217 de trabalho
transcorridos desde que a Operação Lava Jato foi deflagrada, em 17 de
março de 2014. O que ele fez nestes dias?
Importantes assuntos à espera de Cardozo, o Ministério da Justiça tem
aos montes. Desde a campanha eleitoral, promete-se um pacote de
projetos de lei para coibir a corrupção entre agentes públicos. Nada
sai. Da mesma forma, anuncia-se maior participação da União no combate
ao crime, mas rigorosamente nada acontece.
Cardozo preferiu dedicar seu tempo a arrostar a oposição, quando
tentou calar as legítimas críticas que ela faz ao governo e
caracterizá-las como um “terceiro turno”. Dedicou-se a fazer proselitismo político, quando buscou misturar a roubalheira de agora com supostos episódios do passado.
É gravíssimo que o ministro da Justiça tenha entabulado com os
advogados dos suspeitos uma dobradinha para que seus clientes
desistissem de contar o que sabem sobre o esquema corrupto na Petrobras –
como, por exemplo, ensaiava o empreiteiro da UTC. E pior ainda que
tenha deixado no ar que, passado o Carnaval, as investigações irão se
virar contra a oposição, “aliviando as agruras dos suspeitos”, segundo a
revista.
Se quer mesmo atuar como político, melhor José Eduardo Cardozo fará
se deixar o cargo que ocupa e dedicar-se à atividade partidária. Causas
não lhe faltam no PT, atolado em processos volumosos e cabeludos nos
tribunais. O partido do petrolão e do mensalão manterá seu causídico e o
país poderá voltar a contar, enfim, com um ministro da Justiça.
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