sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Eduardo Cunha destruiu a base aliada e Dilma está em pânico


Carlos Newton


O ambiente no Planalto/Alvorada é de eterna quarta-feira de cinzas. Um clima de velório, porque a situação piora a cada dia, jamais surge alguma notícia animadora. É uma decepção atrás da outra. A presidente Dilma Rousseff se desespera, mas não tem nada a fazer. Até recentemente, era animada por Aloizio Mercadante, o serviçal de todas as horas, mas ele também entrou em profunda depressão depois que resolveu enfrentar o deputado Eduardo Cunha, sofreu uma derrota humilhante e o resultado de sua desastrada iniciativa foi a fragmentação da base aliada na Câmara, com evidentes consequências também no Senado e na política, como um todo.


Agora, não existe mais base aliada. Quem comanda os trabalhos é o bloco majoritário (formado pessoalmente por Cunha e integrado pelos 221 deputados do PMDB, PP, PTB, DEM, PRB, SD, PSC, PHS, PTN, PMN, PRP, PSDC, PEN e PRTB). Com isso, o presidente da Câmara não somente desfez a base aliada, como também isolou o PT, que tem a maior bancada partidária, porém não manda mais nada.


O único partido com o qual o PT realmente pode contar é o PCdoB, pois outras legendas da antiga base aliada decididamente não são confiáveis. Por enquanto, PSD, PROS, PDT, PR e outros partidos menores continuam com o governo e não abrem, mas na hora da verdade cada deputado é um voto independente, não tem de obedecer a ninguém, o partido apenas orienta a votação, o parlamentar acaba se manifestando de acordo com sua vontade/conveniência.

JOGADA DE MESTRE
A jogada de Cunha foi de extrema habilidade. A praxe na Câmara era de que o partido de maior bancada indicasse os presidentes das comissões técnicas e, no caso das CPIs, o presidente ou relator. Mas acontece que não é isso que está escrito no Regimento Interno, que concede esta prerrogativa ao maior bloco partidário.

Para evitar que o PT continuasse dominando as comissões internas da Câmara e também as CPIs, Cunha então articulou nos bastidores a formação dos blocos partidários, sem que o PT demonstrasse a menor preocupação. Depois de eleito presidente da Câmara, simplesmente fez cumprir o Regimento, acabou com a praxe e atribuiu ao bloco majoritário a iniciativa de indicar os dirigentes das comissões técnicas e das CPIs.

Ao mesmo tempo em que fragmentou a base aliada, o presidente da Câmara mostra que é ele quem comanda o circo e agora está se aproximando da oposição. Já fez o bloco majoritário abrir mão da presidência da estratégica Comissão da Reforma Política, para prestigiar o DEM. Depois, começou a negociar com o PSDB a presidência da Comissão de Economia, uma das mais importantes da Câmara. E está articulando a distribuição das demais comissões entre os principais partidos do bloco majoritário.

O PLANALTO ESTÁ INERTE
Acuada, a arrogante presidente Dilma não sabe o que fazer. O ministro Aloizio Mercadante, que caiu na armadilha de Cunha, não tem solução a dar, está completamente perdido. O ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, é um zero à esquerda. E o líder do PT, Sibá Machado, e o líder do Governo, José Guimarães, são de uma incompetência constrangedora.

Dilma, então, teve de se humilhar e ir ao encontro de Lula em São Paulo, quinta-feira antes do Carnaval. Ouviu poucas e boas, como se dizia antigamente, e recebeu a ordem de se recompor imediatamente com Eduardo Cunha e com as lideranças da Câmara, além de, ao mesmo tempo, procurar governadores e prefeitos da base aliada.

Mas como se recompor com Eduardo Cunha, se ele subiu à crista da onda e não está a fim de submergir? Procurar governadores e prefeitos para quê? Desorientada, Dilma então convocou o marqueteiro João Santana. Eles tinham uma reunião marcada para sexta-feira passada em Brasília, antes de Dilma viajar com a família para Aratu, mas o Planalto não divulgou se os dois realmente se encontraram ou se falaram por telefone.

FALTA UM MILAGREIRO
Acontece que Dilma precisa mesmo é de um milagreiro. Nem Lula, nem João Santana nem Joaquim Levy têm condições de alterar o quadro atual, porque esta crise, ao mesmo tempo, é política, institucional e econômica. E não há governo que aguente tamanha pressão, especialmente quando o fracasso administrativo é apimentado pelo maior escândalo de corrupção do mundo moderno.
Quem primeiro percebe esta realidade não é o povo – quem tem faro para isso são os políticos, que já estão dando as costas a Dilma, que vai ser uma espécie de Viúva Porcina em versão palaciana , “aquela que foi sem ter sido”, como dizia o genial Dias Gomes.

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