"NO LIMITE DA PACIÊNCIA"
O bloqueio de estradas por caminhões em todo o País, com registros de violência em várias partes; a agressão verbal ao ex-ministro Mantega nas dependências de um hospital; e os protestos em portas de fábrica e nas sedes de governos estaduais e municipais são a gênese de uma animosidade em escalada. Para o próximo dia 15 está convocada uma passeata em nível nacional que deve vocalizar a insatisfação com os rumos do País.
A ideia de que o Estado e todas as forças que o compõem vêm abusando da paciência dos brasileiros é premente. Especialistas apontam que, após a divisão política nas urnas e o agravamento da crise econômica, a hostilidade social ganhou as ruas e segue piorando dia a dia. O professor Milton Lahuerta, da Universidade Estadual Paulista, chegou a comparar o Brasil de hoje com a Espanha em plena Guerra Civil. No meio da arena de disputas, é notória a incapacidade da presidente eleita Dilma Rousseff em promover a prometida conciliação, para a qual bastariam gestos elementares de diálogo com os diversos setores. Mas a chefe da Nação hesita, se isola e ignora os apupos da maioria. Dá demonstrações de descaso com o clamor que escuta de seus governados.
Nas pesquisas sua popularidade desaba, mal começou o segundo mandato. Enquanto isso, tal qual um carbonário prestes a incendiar as massas com gritos de ordem, o ex-presidente Lula convoca simpatizantes para a “guerra”. Em um encontro na semana passada com trabalhadores da Petrobras – entoando a cantilena do populismo inconsequente - disse estar pronto para “lutar” e, ao lado do coordenador do movimento radical MST, João Pedro Stédile, não deixou margem a dúvidas: “Sabemos brigar também, sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele na rua”.
Até onde almeja ir o patrono de Dilma? No Brasil de inúmeras demandas e tanto descontentamento, não há espaço para o equivocado lema do “nós contra eles” que Lula insiste em pregar. Neste momento, triste é perceber a ausência de líderes pacificadores, chamando o País para a racionalidade. Fazem falta nomes como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, que apostavam no jogo da convergência e uniram a Nação em torno de uma mesma ideia: a democracia.
Fonte: Editorial - Revista IstoÉ
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