Mídia SEM Máscara
| 25 Maio 2015
Artigos - Educação
Artigos - Educação
O
objetivo da nova educação não é necessariamente persuadir racionalmente
ninguém de nenhum daqueles pontos de vista, mas dissuadir a todos da
idéia de que exista a possibilidade de uma arbitragem racional a
respeito.
O senso comum a respeito do ensino na sociedade moderna, repetido como dogma indiscutível por ministérios, ONGs, educadores e pais, é o de que a educação de crianças e jovens tem de ser universal. Com isso, todos querem dizer que acreditam existir um núcleo mínimo de valores e conhecimentos que devem ser compartilhados por toda a sociedade e passados de geração a geração através de instituições desenhadas especificamente com esse fim. Essa premissa se funda, por sua vez, numa outra, a de que, sem aquele núcleo mínimo, o tecido social será corroído desde dentro por indivíduos que instaurariam o caos e a desordem.
Ora,
quem poderia ser contra essas premissas?
O que pode haver de ruim em
tentar manter um denominador comum de ordem e harmonia na sociedade? E
de fazê-lo através, entre outros, do legado às próximas gerações daquilo
que as anteriores aprovaram e confirmaram na prática? Como não
concordar, por exemplo, que o crime é ruim e deve ser combatido com
vigor, que os valores religiosos e familiares são a base para a formação
dos valores cívicos, que é preciso respeitar o amadurecimento sexual
das crianças em seu devido tempo, e que se deva nutrir, se não o amor
pelo saber, ao menos o respeito por quem o conserva? Se esses são
valores compartilhados pela grande maioria das pessoas, por que não
disseminá-los também a partir da escola?
Mas
é impossível o observador atento não perceber que nas últimas décadas
caiba justamente à escola, mais que à televisão e à cultura em geral, o
papel principal na destruição, nos corações e mentes das novas gerações,
de tudo aquilo em que a população adulta acredita.
Foi a partir de
práticas pedagógicas abomináveis que se forjaram a justificação, se não a
própria glamorização, do crime como forma de luta contra as
“injustiças”, com os corolários óbvios da vitimização do criminoso, da
disseminação do consumo de drogas e da subida ao poder do partido mais
criminoso da história ou então a destruição dos valores familiares e
religiosos e a concomitante relativização dos valores cívicos ou ainda a
sexualização acelerada de crianças através de aulas de “educação
sexual” em que crianças de 9 e 10 anos são ensinadas a se masturbarem e
camisinhas são colocadas nas suas mãos e, contra tudo o que se pudesse
esperar de uma instituição de ensino, o total desprezo a qualquer forma
de saber e de autoridade, com o concomitante desrespeito, quando não o
ódio puro e simples, a seus portadores, acompanhado da elevação de
verdadeiras deformidades aos postos de representantes da “alta cultura”.
O
que vem dando errado, então? Como pode a instituição que fora projetada
para servir de depósito e propagação dos valores compartilhados pela
maioria voltar-se contra ela e passar a servir precisamente ao propósito
contrário? Como é possível o espaço social construído justamente com o
objetivo de preservar a moralidade ser sistematicamente empregado para
destruí-la?
É
que há pelo menos dois enganos na aceitação passiva daquelas premissas
do primeiro parágrafo. O primeiro engano é o de que a elite dirigente e a
população em geral têm o mesmo objetivo e que, portanto, as políticas
públicas refletirão a vontade da maioria. Não importa se na escola
pública ou privada, se no nível superior, secundário ou primário, o que
se tem assistido na educação é a uma enxurrada de teses e comportamentos
absurdos impostos goela abaixo dos filhos de uma população atordoada
que, se entendesse o que está acontecendo e se pudesse intervir,
ensinaria o contrário do que as escolas têm feito.
Legalização de
drogas, aborto, feminismo, casamento gay, racialismo e cotas,
bolsa-bandido, desarmamento civil, aulas de “educação sexual”,
agigantamento do estado, maioridade penal, substituição da religião
tradicional por um panteísmo ecológico de quinta categoria – todo o
cardápio, enfim, da elite politicamente correta- são temas nos quais a
opinião majoritária da população é frontalmente desafiada pelo ensino
atual. Em todos esses temas, a opinião da maioria da população é uma,
mas invariavelmente o que seus filhos aprenderão na escola é o oposto.
O
discurso da classe política, que se reflete integralmente nas
faculdades de educação e, portanto, na formação dos professores, é o de
que a “sociedade precisa avançar nas questões atuais”. Mas o que isso
efetivamente significa na prática é que eles vão, a contragosto da
população a quem têm a obrigação de servir, substituir todo o conjunto
de valores tradicionais por uma pasta mental incapacitante planejada
milimetricamente para deprimir a inteligência. A população rejeita
qualquer um desses “avanços”, dando mostras claras disso em qualquer
enquete.
Mas governos e ONGs usam seu poder para impor às novas gerações
valores e pensamentos em total discordância com as anteriores. No
julgamento dos luminares da classe dirigente, o povo, tal como está, não
serve, é muito “conservador” e precisa dos “avanços” ditados pela elite
iluminada. Na nova democracia do politicamente correto não é mais o
povo que escolhe o governante, é o governante que escolhe o povo.
O
segundo engano consiste em acreditar que, se os valores tradicionais e a
ordem vigente forem derrubados, reinarão na sociedade o caos e a
desordem. Mas o caos não existe.
E muito menos ainda está nos planos da
classe dirigente instaurá-lo. O que temos testemunhado é a meticulosa
substituição de um tipo de ordem por outro: em lugar da ordem
tradicional, a ordem dos psicopatas e seus seguidores histéricos (http://www.olavodecarvalho. org/semana/131118dc.html).
O que dá à população desavisada a impressão de ser um estado de caos é,
na verdade, um passo adiantado na transição para a nova ordem.
Pouco
importa que para a população adulta os temas e as vontades absurdas das
classes dirigentes nos cheguem como propostas a serem debatidas
“democraticamente” pela “sociedade civil”, porque, através de toda a
rede de ensino e cultura, elas já estão sendo impostas ditatorialmente
sobre as novas gerações e implementadas com a precisão de um projeto de
engenharia. A nova ordem é gestada desde dentro da antiga. A revolução
não precisa de um motor externo, é só fazer a máquina já existente
trabalhar para o propósito oposto.
As
práticas pedagógicas mais eficazes nesse processo de mutação social são
os badalados “socioconstrutivismo” de Lev Vygotsky e a “educação para a
crítica” de Henry Giroux, inspirada, entre outros, na “teoria crítica”
dos intelectuais da Escola de Frankfurt e na “pedagogia do oprimido” de
Paulo Freire, o maior produtor de analfabetos funcionais com diplomas
universitários do universo. O slogan é o de que, ao invés de
simplesmente expor o conteúdo de uma matéria para que os jovens a
absorvam “apenas de modo passivo e monótono”, supostamente agora os
faremos refletir “criticamente” acerca das origens e conseqüências
sociais, políticas, ideológicas e psicológicas daquele conhecimento
novo.
A “crítica” levaria então à “construção social” do conhecimento na
mente do jovem, supostamente com interferência mínima por parte do
professor.
Ora,
o garoto acabou de receber uma informação pela primeira vez, mal
guardou os nomes dos conceitos e fatos e porcamente conseguiu
estabelecer as relações requeridas para o correto entendimento do
assunto, e já se espera que ele faça uma “abordagem crítica” daquela
massa de dados.
É óbvio que isso é impossível.
E
nem é esse o intuito. O que esse estímulo à crítica vazia cria na mente
dos alunos é ansiedade e um impulso histérico de debater por debater,
de falar do que não entende nem estudou, de não ouvir o contraditório
porque “cada um tem sua opinião”, e de agradar o professor e tentar
adivinhar qual a opinião dele para terminar logo a aula sem levar nota
baixa. É então que se perfaz o verdadeiro objetivo, não declarado mas
óbvio, da “pedagogia crítica”: os alunos passam a aceitar passivamente a
opinião do professor, ou como um dogma infalível acima de qualquer
crítica(!), ou, pelo menos, como uma opinião que deva ser discutida em
si, por mais absurda e contrária aos fatos que seja. E a perversão maior
é que o aluno ainda sai com a ilusão, forjada pela condução
socioconstrutivista da aula, de que é ele quem está pensando.
O
resultado todo mundo conhece: seu filho sai da escola sem saber colocar
uma crase nem fazer contas com decimais, mas com a plena convicção de
que o socialismo é bom...
O
objetivo da nova educação não é necessariamente persuadir racionalmente
ninguém de nenhum daqueles pontos de vista, mas dissuadir a todos da
idéia de que exista a possibilidade de uma arbitragem racional a
respeito.
Afinal, a quem pode interessar criar um ambiente em que se
coloca absolutamente tudo em discussão “crítica”, senão àqueles que já
sabem de antemão que vão propor o indefensável racionalmente? É
impossível não perceber que as tais “críticas” são sempre dirigidas às
coisas menos criticáveis. Os alvos de sempre são o capitalismo (nunca o
socialismo), os Estados Unidos (nunca a URSS ou a China), a direita
(nunca a esquerda), a Igreja Católica e as religiões em geral (nunca o
ateísmo organizado), o Estado de Israel (nunca o terrorismo palestino), a
família tradicional (nunca o “poliamor”), o tabaco e o álcool (nunca a
cocaína e a maconha), a ditadura e as Forças Armadas brasileiras (nunca
as cubanas), e por aí vai. Críticas ao melhor, sempre ao pior, nunca.
A
meta é acostumar a platéia ao absurdo, legitimar debates entre um ponto
de vista razoável e outro quase sempre insano no qual nem mesmo seus
defensores acreditam. O que para uma geração é totalmente inconcebível, a
seguinte já discute com ares de seriedade socrática. Exagero? Aguarde:
discussões sobre pedofilia, zoofilia e casamento entre N pessoas já
estão na ordem do dia. A próxima geração vai discutir histericamente
essas novas “propostas” e considerar a existência mesma da discussão um
enorme “avanço democrático”.
Bella
Dodd, uma professora americana, que no livro The School of Darkness
(Devin-Adair Pub, 1963) fez uma autocrítica maravilhosa de seus anos de
comunismo na juventude, demorou para entender aquilo que, vez após vez,
lhe diziam os dirigentes do partido: “Toda derrota é uma vitória.”
Sempre que uma elite de psicopatas consegue impor uma discussão séria em
torno de uma proposta absurda, esta sair vencedora é o que menos
importa, porque o objetivo principal é criar uma militância histérica
que finja acreditar nela e manter o adversário ocupado em debater
civilizadamente uma proposta cínica. A frase mais repetida pelo
establishment esquerdista é: “A sociedade precisa discutir esse tema”.
A
ambição dos luminares da “educação universal” era a de produzir milhões
de cidadãozinhos bem comportados da nova ordem mundial, um tipo de ser
que aceitasse polidamente as discussões políticas mais absurdas ao mesmo
tempo em que, pelo menos nas áreas mais técnicas, um mínimo de
racionalidade e competência fosse reservado para a manutenção mais ou
menos equilibrada da economia. Em suma, a produção de milhões de
tucanos. Mas é óbvio que, quando baixa o nível geral de inteligência, é
impossível resguardar qualquer domínio que seja.
O resultado é a pífia
qualificação técnica de engenheiros, economistas, administradores,
médicos e advogados, comprovada ano após ano nos mais variados testes
nacionais e internacionais de conhecimento.
A
equiparação do grotesco ao belo dentro do próprio ensino só poderia
mesmo produzir essa incapacidade intelectual geral das últimas três
gerações. Uma vez iniciado o processo deliberado de estupidificação dos
jovens, não há freio que o segure: o mesmo rebaixamento que testemunhei
em sala de aula na minha geração, em que se substituía Chico Buarque a
Camões, e que nos anos 90 levou a hermenêuticas seríssimas sobre as
letras das músicas de Gabriel Pensador, culminou, nos últimos anos, com
enxurradas de teses universitárias sobre o Racionais MC e funkeiros de
todo tipo.
Fundo
do poço? E se tiver gente cavando mais fundo? Max Horkheimer, diretor
da Escola de Frankfurt por décadas e seu principal teórico, rejeitou a
inclusão de um novo associado baseado em que lhe faltava “o olhar
aguçado pelo ódio a tudo o que está no lugar” (Rolf Wiggershaus, A
escola de Frankfurt. História, desenvolvimento teórico, significação
política. DIFEL, 2002). A cultura moderna é uma declaração de guerra
permanente contra “tudo que está no lugar”, é uma aposta insana de que
sexo, drogas e rock’n’roll redimirão o mundo e que o “mundo melhor” virá
pelas mãos das piores pessoas.
Não
espanta que, com o imaginário construído pela educação e pela cultura
modernas, e não suportando o peso da responsabilidade pessoal pela
condução de suas próprias vidas, milhões de pessoas permaneçam décadas a
fio naquele estado de adolescência eterna onde até mesmo os protestos
aos quais recorrem “contra o sistema” são postiços porque os canais de
rebeldia estão todos instrumentalizados pela classe dirigente.
O
único conselho que se pode dar é aquele do Pe. Paulo Ricardo quando
perguntado sobre o que a Igreja esperava dos jovens de hoje: “Que se
tornem adultos”!
Raphael De Paola é Doutor em Teoria Quântica de Campos e leciona no Departamento de Física da PUC.
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