Levy barrou taxação de grandes fortunas projetada pelo petista Mantega
Leonardo Souza - Folha de São Paulo
Postado por
Tomaz Filho
às
10:34
Sérgio Lima/Folhapress | |
O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o atual titular da pasta, Joaquim Levy |
Se fosse aplicado um Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) aos 200 mil
contribuintes mais ricos do país, como tem defendido a bancada do PT no
Congresso, o governo poderia arrecadar até R$ 6 bilhões por ano, segundo
estudo feito no Senado a pedido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
O valor é semelhante à economia que o governo pretende obter, por
exemplo, com a revisão das normas para a concessão do seguro-desemprego,
uma das principais medidas do pacote fiscal.
Segundo a Folha apurou, o IGF, previsto na Constituição de 1988
mas nunca instituído, estava entre as medidas preparadas pela equipe do
ex-ministro Guido Mantega (Fazenda) para depois das eleições de 2014.
Levy, no entanto, é contra o IGF, por considerá-lo ineficiente.
Diante da forte repercussão negativa da revisão dos direitos
trabalhistas e previdenciários, os congressistas do PT passaram a exigir
da Fazenda um projeto para taxar o "andar de cima".
Foi nesse contexto que a senadora Gleisi Hoffmann solicitou o estudo.
De acordo com o trabalho da consultoria do Senado, o tributo tem
eficácia controversa. Na Europa ocidental, só Bélgica, Portugal e Reino
Unido nunca o adotaram. O Reino Unido, contudo, assim como os EUA, tem
uma carga de até 40% sobre heranças.
Na América do Sul, Uruguai, Argentina e Colômbia também contam com o IGF.
O tributo costuma ser adotado a partir de um determinado valor de
patrimônio tangível, como imóveis, ações e aplicações financeiras. As
alíquotas normalmente variam entre 0,5% e 1,5%. O limite máximo na
França é de 1,8%.
Para chegar ao valor de até R$ 6 bilhões, os consultores do Senado se
basearam em declarações de IR das pessoas físicas de 2013 e num
relatório do banco Credit Suisse sobre a riqueza mundial.
Segundo o Credit Suisse, o 0,2% mais rico da população brasileira, cerca
de 221 mil contribuintes, detinham em 2013 mais de US$ 1 milhão, o que
corresponderia hoje a pouco mais de R$ 3 milhões.
Se fosse aplicada sobre essa base mínima uma alíquota de 1,5%, chegaria-se a algo próximo a R$ 10 bilhões.
Os técnicos do Senado ressaltaram, porém, que fatores como transferência
de recursos para outros países e imóveis declarados abaixo do mercado
poderiam diminuir drasticamente esse número.
A pedido da Folha, dois economistas avaliaram os cálculos do
Senado e concluíram que o valor de R$ 6 bilhões é factível, apesar da
precariedade dos dados disponíveis no Brasil.
O economista José Roberto Afonso, do IBRE/FGV, defende que antes de
criar um IGF o governo deveria corrigir distorções nos impostos sobre
propriedade, como o ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural) e
IPTU. "O governo federal cobra menos ITR que o IPTU pago pelo bairro de
Copacabana. Isso é ridículo, e ninguém fala."
Para o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, o
tributo sobre heranças é mais eficaz que o IGF, por reduzir a distância
econômica entre classes das gerações futuras.
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