terça-feira, 21 de julho de 2015

A vez de Lula: um tiranete no banco dos réus.


Em editorial, o Estadão comenta a investigação da Procuradoria da República do DF sobre Lula, notório traficante de influência a serviço das empreiteiras do petrolão. Enfim, a justiça pega no calcanhar do tiranete, que passou décadas na impunidade. Mais cedo ou mais tarde, ironiza o jornal, "virá à luz toda a verdade sobre a prodigiosa transformação de Lula e sua família em beneficiários privilegiados dos programas de ascensão social dos governos do PT":

A Procuradoria da República do Distrito Federal (DF) está investigando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo crime de “tráfico de influência em transação comercial internacional”. Lula teria intercedido pessoalmente em benefício da construtora Odebrecht, a partir de 2011, junto aos governos de Portugal e de Cuba, países nos quais esteve em viagens patrocinadas pela empresa, de acordo com documentos oficiais obtidos no Itamaraty pelo jornal O Globo. A investigação dos procuradores do DF é a primeira ação oficial a levantar uma ponta do véu que encobre a notória ligação de Lula com empreiteiros poderosos, principalmente contratantes de obras públicas, envolvidos até o pescoço no escândalo da Petrobrás.
A revelação do jornal carioca não chega a ser surpreendente porque entre os amigos do peito de Lula nos altos escalões empresariais está exatamente Marcelo Odebrecht, presidente da maior construtora do País, preso em Curitiba pela Operação Lava Jato. Lula não esconde que depois de deixar a Presidência da República tem proferido palestras pagas no exterior a convite de grandes empresas brasileiras com interesses no mercado internacional. Nega peremptoriamente, porém, que faça lobby em benefício dessas corporações. Admite, no máximo, que aproveita essas oportunidades para divulgar e defender os “interesses comerciais do Brasil” no exterior.
Afirmam os áulicos do ex-presidente que, se eventualmente se dispusesse, em nome dos interesses nacionais, a fazer lobby para grandes construtoras brasileiras, Lula estaria apenas seguindo o exemplo de ex-chefes de governo americanos. Ocorre que há uma grande diferença entre o que fazem os lobistas nos EUA e no Brasil. Lá o lobby é legalmente reconhecido e regulamentado como atividade para promover interesses corporativos legítimos. Aqui é uma atividade informal, quase sempre sub-reptícia, que não raro se confunde com a advocacia administrativa. O lobby, no Brasil, frequentemente é entendido como uma chave usada para abrir portas que a burocracia fecha para disso ter algum proveito. Isso não significa que todo lobista seja desonesto. Existem, como em tudo, as exceções. 
Essa diferença de entendimento do que seja o lobby é o que explica o fato de Bill Clinton praticar lobby abertamente para as corporações que o contratam, enquanto Lula nega categoricamente fazer a mesma coisa. Além disso, nos EUA um ex-presidente se afasta da militância político-partidária e fica legalmente impedido de voltar a se candidatar a qualquer cargo eletivo. Aqui, Lula só pensa em 2018.
Lula aprendeu, enquanto trabalhava no Palácio do Planalto, a cultivar a amizade de muitos prósperos empresários. Era então voz corrente em palácio que apenas duas pessoas tinham acesso irrestrito a seu gabinete: a primeira-dama, Marisa Letícia, e o pecuarista José Carlos Bumlai, a quem é atribuída, entre outras, a proeza de ter viabilizado a promoção da então desconhecida construtora UTC, de Ricardo Pessoa, à condição de uma das grandes empreiteiras de obras públicas do País. Pessoa é o ex-presidente da UTC, delator premiado da Lava Jato, que acaba de entregar o deputado Eduardo Cunha como beneficiário de US$ 10 milhões de propina paga pela BR Distribuidora.
Consta ainda da lista de melhores amigos de Lula outro frequentador da carceragem da PF em Curitiba: Leo Pinheiro, da construtora OAS, que generosamente concluiu as obras tanto do magnífico tríplex do ex-presidente num edifício no Guarujá como do sítio familiar em Atibaia. E ainda Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, que acaba de ser indiciado pela PF em um dos inquéritos da Lava Jato.
Diante das clamorosas evidências de que por detrás de relações estreitas com poderosos empreiteiros há muito mais do que Lula se permite admitir – afinal, desde que deixou a Presidência ele vive para baixo e para cima no Brasil e no mundo a bordo de jatos executivos, hospedando-se em hotéis de luxo, sempre às expensas dos financiadores de seu Instituto –, as revelações contidas em documentos diplomáticos que o Itamaraty foi obrigado a divulgar por força da Lei de Acesso à Informação constituem-se certamente num primeiro passo para que, mais cedo ou mais tarde, venha à luz toda a verdade sobre a prodigiosa transformação de Lula e sua família em beneficiários privilegiados dos programas de ascensão social dos governos do PT.
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