Em editorial, o Estadão comenta a investigação da Procuradoria da
República do DF sobre Lula, notório traficante de influência a serviço
das empreiteiras do petrolão. Enfim, a justiça pega no calcanhar do
tiranete, que passou décadas na impunidade. Mais cedo ou mais tarde,
ironiza o jornal, "virá à luz toda a verdade sobre a prodigiosa
transformação de Lula e sua família em beneficiários privilegiados dos
programas de ascensão social dos governos do PT":
A Procuradoria da República do Distrito Federal (DF) está
investigando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo crime de
“tráfico de influência em transação comercial internacional”. Lula teria
intercedido pessoalmente em benefício da construtora Odebrecht, a
partir de 2011, junto aos governos de Portugal e de Cuba, países nos
quais esteve em viagens patrocinadas pela empresa, de acordo com
documentos oficiais obtidos no Itamaraty pelo jornal O Globo. A
investigação dos procuradores do DF é a primeira ação oficial a levantar
uma ponta do véu que encobre a notória ligação de Lula com empreiteiros
poderosos, principalmente contratantes de obras públicas, envolvidos
até o pescoço no escândalo da Petrobrás.
A revelação do jornal carioca não chega a ser surpreendente porque
entre os amigos do peito de Lula nos altos escalões empresariais está
exatamente Marcelo Odebrecht, presidente da maior construtora do País,
preso em Curitiba pela Operação Lava Jato. Lula não esconde que depois
de deixar a Presidência da República tem proferido palestras pagas no
exterior a convite de grandes empresas brasileiras com interesses no
mercado internacional. Nega peremptoriamente, porém, que faça lobby em
benefício dessas corporações. Admite, no máximo, que aproveita essas
oportunidades para divulgar e defender os “interesses comerciais do
Brasil” no exterior.
Afirmam os áulicos do ex-presidente que, se eventualmente se
dispusesse, em nome dos interesses nacionais, a fazer lobby para grandes
construtoras brasileiras, Lula estaria apenas seguindo o exemplo de
ex-chefes de governo americanos. Ocorre que há uma grande diferença
entre o que fazem os lobistas nos EUA e no Brasil. Lá o lobby é
legalmente reconhecido e regulamentado como atividade para promover
interesses corporativos legítimos. Aqui é uma atividade informal, quase
sempre sub-reptícia, que não raro se confunde com a advocacia
administrativa. O lobby, no Brasil, frequentemente é entendido como uma
chave usada para abrir portas que a burocracia fecha para disso ter
algum proveito. Isso não significa que todo lobista seja desonesto.
Existem, como em tudo, as exceções.
Essa diferença de entendimento do que seja o lobby é o que explica o
fato de Bill Clinton praticar lobby abertamente para as corporações que o
contratam, enquanto Lula nega categoricamente fazer a mesma coisa. Além
disso, nos EUA um ex-presidente se afasta da militância
político-partidária e fica legalmente impedido de voltar a se candidatar
a qualquer cargo eletivo. Aqui, Lula só pensa em 2018.
Lula aprendeu, enquanto trabalhava no Palácio do Planalto, a cultivar
a amizade de muitos prósperos empresários. Era então voz corrente em
palácio que apenas duas pessoas tinham acesso irrestrito a seu gabinete:
a primeira-dama, Marisa Letícia, e o pecuarista José Carlos Bumlai, a
quem é atribuída, entre outras, a proeza de ter viabilizado a promoção
da então desconhecida construtora UTC, de Ricardo Pessoa, à condição de
uma das grandes empreiteiras de obras públicas do País. Pessoa é o
ex-presidente da UTC, delator premiado da Lava Jato, que acaba de
entregar o deputado Eduardo Cunha como beneficiário de US$ 10 milhões de
propina paga pela BR Distribuidora.
Consta ainda da lista de melhores amigos de Lula outro frequentador
da carceragem da PF em Curitiba: Leo Pinheiro, da construtora OAS, que
generosamente concluiu as obras tanto do magnífico tríplex do
ex-presidente num edifício no Guarujá como do sítio familiar em Atibaia.
E ainda Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, que
acaba de ser indiciado pela PF em um dos inquéritos da Lava Jato.
Diante das clamorosas evidências de que por detrás de relações
estreitas com poderosos empreiteiros há muito mais do que Lula se
permite admitir – afinal, desde que deixou a Presidência ele vive para
baixo e para cima no Brasil e no mundo a bordo de jatos executivos,
hospedando-se em hotéis de luxo, sempre às expensas dos financiadores de
seu Instituto –, as revelações contidas em documentos diplomáticos que o
Itamaraty foi obrigado a divulgar por força da Lei de Acesso à
Informação constituem-se certamente num primeiro passo para que, mais
cedo ou mais tarde, venha à luz toda a verdade sobre a prodigiosa
transformação de Lula e sua família em beneficiários privilegiados dos
programas de ascensão social dos governos do PT.
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