(Estadão) O governo avalia que a CPI anunciada pelo presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para investigar contratos do BNDES pode
paralisar a instituição e causar sérios prejuízos à economia. O receio
do Planalto é que o impacto da comissão sobre a atividade econômica seja
ainda pior do que o provocado pela CPI da Petrobrás, aumentando a
temperatura da crise política.
A
avaliação foi feita ontem em reunião da presidente Dilma Rousseff com
ministros da coordenação política do governo. Em conversas reservadas,
auxiliares de Dilma dizem pouco poder fazer para impedir a CPI, mas
acreditam que até mesmo empresários vão atuar para esvaziá-la.
Segundo informações obtidas pelo Estado, a
equipe econômica estuda abrir uma linha de capital de giro, financiada
pelo BNDES, para socorrer empresas em dificuldades financeiras após a
Operação Lava Jato, da Polícia Federal, com o objetivo de evitar
quebradeiras e demissões em massa. Ministros dizem, porém, que nada
disso será levado adiante se a CPI vingar.
Rompido com o governo desde que o lobista Júlio Camargo o
acusou de ter cobrado propina de US$ 5 milhões, em depoimento ao juiz
Sérgio Moro, Cunha quer pôr o PMDB na presidência e até mesmo na
relatoria da CPI do BNDES, o que preocupa o Planalto. Além disso, o
Senado ameaça abrir uma comissão parlamentar de inquérito para
investigar o mesmo assunto, criando nova fonte de problemas para Dilma.
Para piorar o quadro, o governo sabe que o grupo de Cunha e a
oposição vão tentar constranger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na CPI e temem que a crise bata com mais força à porta do
Planalto. Na semana passada, a Procuradoria da República no Distrito
Federal abriu investigação contra Lula, acusando-o de tráfico de
influência internacional e no Brasil.
A suspeita levantada pelo Ministério Público é a de que Lula
tenha usado o seu poder para facilitar obras da empreiteira Odebrecht em
países da África e da América Latina, com financiamento do BNDES. Em
nota, o Instituto Lula disse que o procedimento aberto pela Procuradoria
no DF é “absolutamente irregular, intempestivo e injustificado”. Na
sexta-feira, advogados do ex-presidente apresentaram uma reclamação
disciplinar ao Conselho Nacional do Ministério Público para requerer
apuração da conduta do procurador Valtan Timbó Mendes Furtado, pedindo a
suspensão do inquérito.
Coutinho. “Não há possibilidade de ingerência
política no BNDES”, disse Luciano Coutinho, presidente do banco. “Os
processos de governança do BNDES são extremamente rigorosos. Temos plena
convicção da nossa capacidade de esclarecer e demonstrar a contribuição
do BNDES para o desenvolvimento.” A estratégia do governo é tentar
pacificar a relação com Câmara e Senado durante o recesso, liberando
emendas parlamentares e acertando nomeações de segundo e terceiro
escalões. Embora na reunião de ontem a avaliação tenha sido a de que
Cunha “extrapolou e passou dos limites”, a ordem é isolar o presidente
da Câmara, e não atacá-lo.
“Eu quero ver isso como uma questão de momento em que ele
(Cunha) se sentiu injustiçado”, afirmou o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo. “Espero que essas iniciativas não se traduzam na busca
de desestabilização das relações políticas e do próprio quadro
institucional. Não creio que ele faria isso.”
Por ordem de Dilma, ministros também tentarão se reaproximar do
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em pronunciamento na TV
Senado, na sexta-feira, Renan elogiou
Cunha e chamou de “tacanhas e ineficientes” as medidas propostas pelo
ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Disse, ainda, que ajuste fiscal sem
crescimento econômico é como “cachorro correndo atrás do rabo”, porque
não sai do lugar.
“O senador Renan é aliado, é integrante do PMDB e os aliados
não estão proibidos de fazer críticas”, amenizou o ministro da Aviação
Civil, Eliseu Padilha.
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