Militantes das correntes de esquerda podem dar origem a uma terceira debandada
Gil Alessi
São Paulo
11 JUL 2015 - 20:31 BRT
A situação do Governo de Dilma Rousseff, que sofre com baixos índices de aprovação está imerso em uma crise econômica e parece cada dia mais se curvar às pressões do PMDB
no Congresso, pode empurrar o Partido dos Trabalhadores para uma nova
cisão, de acordo com especialistas.
Na história recente, a legenda, que vive sua própria crise atormentado pelo escândalo da Petrobras, já passou por um processo parecido outras duas vezes: em 1992, quando uma de suas correntes internas foi expulsa e deu origem ao PSTU, e em 2004, ano em que uma nova debandada de militantes deu origem ao PSOL. No final de abril, a Esquerda Marxista, uma das correntes mais radicais do partido, já aprovou em assembleia sua saída do PT.
“Em 2005, durante um momento de crise provocada pelo mensalão, as alas moderadas do partido quase perderam as eleições internas”, explica Oswaldo Amaral, cientista político da Unicamp e autor do livro As transformações na organização interna do Partido dos Trabalhadores entre 1995 e 2009 (Alameda Editorial). Este grupo principal que lidera a legenda desde 1995 – conhecido como Construindo um Novo Brasil – é considerado “à direita” dentro do espectro político do PT.
“Em momentos de crise, como agora, o bloco que comanda o partido acaba sendo alvo de muitas críticas das correntes de esquerda”, explica. Segundo o professor, dificilmente estas tendências mais radicais conseguirão ganhar as eleições internas do partido, e isso pode provocar novas cisões na legenda, como ocorreu no passado.
No Congresso do partido, realizado em junho, o abismo entre as lideranças petistas e seus militantes ficou claro: enquanto os políticos culpavam a mídia pela crise da legenda, boa parte dos militantes pedia uma alteração na política de alianças e uma guinada governamental para a esquerda.
O PSOL foi criado por dissidentes do PT que se diziam insatisfeitos com o que chamaram à época de “fisiologismo” do partido e com as “amplas alianças” estabelecidas pela coordenação da legenda. Mas hoje as críticas à atuação não partem só da esquerda política: o próprio ex-presidente Lula atacou o partido, que segundo ele só estaria interessado em “cargos”. “O Lula é um político. Ele está preocupado em se desvincular do Governo, já que ninguém quer ficar perto de um Governo com baixos índices de popularidade”, explica Amaral.
Ao lado de José Dirceu, o ex-presidente foi um dos artífices do processo chamado de modernização do partido: "Nos anos 90 houve um encontro onde o Lula chegou a chorar porque foi feita uma critica dura dos militantes pelo partido ter aceitado dinheiro de empresa", diz Amaral. Até então o dinheiro de empresa era malvisto. "Mas à partir de 94 as lideranças viram que só com doação de militante e venda de bandeirinha não conseguiriam vencer a eleição. O Dirceu comandou esse processo, de aproximação com o empresariado".
Parlamentares do próprio partido também têm criticado o Governo e
principalmente o ajuste econômico implementado no segundo mandato de
Dilma. O senador Lindbergh Farias tem criticado abertamente o ministro
da Economia, Joaquim Levy. No mais recente pronunciamento, pediu que o
Planalto se mire no exemplo da Grécia do esquerdista Syriza, que tenta resistir a um plano de austeridade.
O fogo-amigo não vem só de Lindbergh. Pouco tempo depois, foi a vez da Executiva Nacional do partido, reunida em São Paulo no dia 25 de junho, divulgar uma resolução na qual defende redução da meta de superávit e reversão da alta de juros, pilares da política econômica de Levy. O diretório central também mirou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e chegou a cogitar convocá-lo para dar explicações sobre o que militantes consideram "vazamentos seletivos" da operação Lava Jato.
Para o coordenador da área de Ciências Políticas da PUC-Rio, Eduardo Raposo, vários motivos podem empurrar militantes situados “à esquerda” dentro do PT para fora do partido. “Basicamente são três fatores principais: de ordem econômica, ética e política”, explica o professor. De acordo com ele, as correntes mais radicais dentro da legenda criticam a condução da economia e os ajustes do ministro Joaquim Levy: “Para alguns militantes a política de ajuste fiscal é uma coisa de direita, já foi dito inclusive que ajuste fiscal é coisa de tucano”.
Do ponto de vista ético e político, a crise provocada pelo escândalo de corrupção na Petrobras investigado pela operação Lava Jato é outro golpe que afasta do partido alas historicamente mais ligadas a movimentos sociais. Raposo afirma que o mensalão já representou um duro golpe à imagem do PT por abalar uma de suas principais virtudes, que era a ética. Neste cenário, “as novas investigações afastam ainda mais o partido de suas origens”.
Na história recente, a legenda, que vive sua própria crise atormentado pelo escândalo da Petrobras, já passou por um processo parecido outras duas vezes: em 1992, quando uma de suas correntes internas foi expulsa e deu origem ao PSTU, e em 2004, ano em que uma nova debandada de militantes deu origem ao PSOL. No final de abril, a Esquerda Marxista, uma das correntes mais radicais do partido, já aprovou em assembleia sua saída do PT.
“Em 2005, durante um momento de crise provocada pelo mensalão, as alas moderadas do partido quase perderam as eleições internas”, explica Oswaldo Amaral, cientista político da Unicamp e autor do livro As transformações na organização interna do Partido dos Trabalhadores entre 1995 e 2009 (Alameda Editorial). Este grupo principal que lidera a legenda desde 1995 – conhecido como Construindo um Novo Brasil – é considerado “à direita” dentro do espectro político do PT.
“Em momentos de crise, como agora, o bloco que comanda o partido acaba sendo alvo de muitas críticas das correntes de esquerda”, explica. Segundo o professor, dificilmente estas tendências mais radicais conseguirão ganhar as eleições internas do partido, e isso pode provocar novas cisões na legenda, como ocorreu no passado.
No Congresso do partido, realizado em junho, o abismo entre as lideranças petistas e seus militantes ficou claro: enquanto os políticos culpavam a mídia pela crise da legenda, boa parte dos militantes pedia uma alteração na política de alianças e uma guinada governamental para a esquerda.
O PSOL foi criado por dissidentes do PT que se diziam insatisfeitos com o que chamaram à época de “fisiologismo” do partido e com as “amplas alianças” estabelecidas pela coordenação da legenda. Mas hoje as críticas à atuação não partem só da esquerda política: o próprio ex-presidente Lula atacou o partido, que segundo ele só estaria interessado em “cargos”. “O Lula é um político. Ele está preocupado em se desvincular do Governo, já que ninguém quer ficar perto de um Governo com baixos índices de popularidade”, explica Amaral.
Ao lado de José Dirceu, o ex-presidente foi um dos artífices do processo chamado de modernização do partido: "Nos anos 90 houve um encontro onde o Lula chegou a chorar porque foi feita uma critica dura dos militantes pelo partido ter aceitado dinheiro de empresa", diz Amaral. Até então o dinheiro de empresa era malvisto. "Mas à partir de 94 as lideranças viram que só com doação de militante e venda de bandeirinha não conseguiriam vencer a eleição. O Dirceu comandou esse processo, de aproximação com o empresariado".
Basicamente são três fatores principais [que podem afastar os militantes], de ordem econômica, ética e política”
O fogo-amigo não vem só de Lindbergh. Pouco tempo depois, foi a vez da Executiva Nacional do partido, reunida em São Paulo no dia 25 de junho, divulgar uma resolução na qual defende redução da meta de superávit e reversão da alta de juros, pilares da política econômica de Levy. O diretório central também mirou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e chegou a cogitar convocá-lo para dar explicações sobre o que militantes consideram "vazamentos seletivos" da operação Lava Jato.
Para o coordenador da área de Ciências Políticas da PUC-Rio, Eduardo Raposo, vários motivos podem empurrar militantes situados “à esquerda” dentro do PT para fora do partido. “Basicamente são três fatores principais: de ordem econômica, ética e política”, explica o professor. De acordo com ele, as correntes mais radicais dentro da legenda criticam a condução da economia e os ajustes do ministro Joaquim Levy: “Para alguns militantes a política de ajuste fiscal é uma coisa de direita, já foi dito inclusive que ajuste fiscal é coisa de tucano”.
Do ponto de vista ético e político, a crise provocada pelo escândalo de corrupção na Petrobras investigado pela operação Lava Jato é outro golpe que afasta do partido alas historicamente mais ligadas a movimentos sociais. Raposo afirma que o mensalão já representou um duro golpe à imagem do PT por abalar uma de suas principais virtudes, que era a ética. Neste cenário, “as novas investigações afastam ainda mais o partido de suas origens”.
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