Valter Cardeal: conluio com o mochileiro Vaccari. |
Matéria de
capa da revista Veja desta semana traz outra revelação de Ricardo
Pessoa, da UTC, o homem que tira o sono de Lula e Dilma. Com essas
denúncias, o impeachment de Dilma se torna cada vez mais próximo:
Quando
era presidente, Fernando Henrique Cardoso cultivou a fama de
exterminador de crises, que, dizia-se, sempre saíam do Palácio do
Planalto menores do que entravam. De Dilma Rousseff, fala-se exatamente o
oposto. Centralizadora e avessa a negociações, a presidente semeou um
quadro de recessão econômica e de derrotas no Congresso. Rejeitada por
nove em cada dez brasileiros, ela também perde apoiadores no grupo de
políticos e empresários que ditam o rumo do país. Até o ex-presidente
Lula, seu mentor, lhe faz críticas cada vez mais contundentes. Com
apenas seis meses de segundo mandato, Dilma está só, não exerce o poder
na plenitude nem consegue mobilizar a tropa governista. De quebra, é
acossada por investigações que podem destituí-la do cargo - entre elas, a
Operação Lava-Jato, que esquadrinha o maior esquema de corrupção da
história do país. Diante de uma conjuntura assim, a maioria dos
governantes optaria por mais diálogo, sensatez e pés no chão. Dilma não.
Ela reage à crise com argumentações destrambelhadas, otimismo exagerado
e erros primários de avaliação. Pior: como de costume, alimenta a
agenda negativa.
Na semana
passada, a presidente, contrariando o mais elementar dos manuais de
política, fisgou a isca dos adversários e abordou novamente em público a
possibilidade de enfrentar um processo de impeachment. "Eu não vou
cair, isso é moleza", desafiou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo,
na qual chamou setores da oposição de golpistas. A resposta foi
imediata: "Tudo o que contraria o PT é golpe", ironizou o senador Aécio
Neves (PSDB). Nos regimes democráticos, a destituição de um mandatário
depende de provas, do aval das instituições e do apoio da opinião
pública (veja a reportagem na pág. 54). Em sua defesa, Dilma alega que
jamais se locupletou de dinheiro sujo. Falta a essa versão o respaldo
inequívoco dos fatos. VEJA teve acesso a mais um testemunho de que
propina cobrada em troca de contratos - desta vez, no setor elétrico, a
menina dos olhos de Dilma - abasteceu os cofres do PT em pleno ano
eleitoral. Os operadores da transação criminosa foram o onipresente João
Vaccari Neto, então tesoureiro do partido, e Valter Luiz Cardeal,
diretor da Eletrobras, o "homem da Dilma" na estatal e um dos poucos
quadros da administração com livre acesso ao gabinete presidencial.
O relato
desse novo caso de desvio de verba pública para financiar o projeto de
poder petista consta do acordo de delação premiada firmado entre o
engenheiro Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, e o Ministério
Público Federal. Num de seus depoimentos, Pessoa contou que em setembro
do ano passado o consórcio Una 3 - formado por Andrade Gutierrez,
Odebrecht, Camargo Corrêa e UTC Engenharia - fechou um contrato para
tocar parte das obras da Usina de Angra 3. A assinatura do contrato,
estimado em 2,9 bilhões de reais, foi precedida de uma intensa
negociação. A Eletrobras pediu um desconto de 10% no valor cobrado pelo
consórcio, que aceitou um abatimento de 6%. A diferença não resultou em
economia para os cofres públicos. Pelo contrário, aguçou o apetite dos
petistas. Tão logo formalizado o desconto de 6%, Cardeal chamou
executivos do consórcio Una 3 para uma conversa que fugiu aos esperados
padrões técnicos do setor elétrico. Faltava pouco para o primeiro turno
da sucessão presidencial. O "homem da Dilma" foi curto e grosso: as
empresas deveriam doar ao PT a diferença entre o desconto pedido pela
Eletrobras e o desconto aceito por elas. A máquina pública era mais uma
vez usada para bancar o partido em mais um engenhoso ardil para esconder
a fraude.
A
conversa de Cardeal foi com Walmir Pinheiro, diretor financeiro da
empresa, escalado para tratar dos detalhes da operação. Depois dela,
Vaccari telefonou para o próprio Ricardo Pessoa e cobrou o "pixuleco".
"Quando soube que a UTC havia assinado Angra 3, João Vaccari
imediatamente procurou para questionar a parte que seria destinada ao PT
- o que foi feito pela empresa", relatou o empreiteiro. Aos
investigadores, Pessoa fez questão de ressaltar que, segundo seu
executivo, foi Cardeal quem alertou Vaccari sobre a diferença de 4
pontos percentuais entre o desconto pedido pela Eletrobras e o concedido
pelas construtoras. Perguntado sobre o que sabia a respeito de Cardeal,
Pessoa afirmou: "É pessoa próxima da senhora presidenta da República,
Dilma Rousseff". (Veja).
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