Marina Rossi
São Paulo
7 AGO 2015 - 00:13 BRT
Às vésperas das eleições do ano passado,
os marqueteiros do PT gravaram um programa político dentro do TUCA, o
teatro da PUC São Paulo.
Do lado de dentro, intelectuais, acadêmicos, artistas e antigos militantes prestavam seu apoio à campanha de Dilma Rousseff, que, naquele momento acirrado da disputa, reforçava o discurso à esquerda na economia e se colava mais que nunca no imaginário de militante contra a ditadura da presidenta. Do lado de fora, centenas de militantes surgiam espontaneamente e se aglomeravam com bandeiras e camisetas vermelhas ao redor do teatro.
Menos de um ano depois, para muitos petistas o ‘espírito do Tuca’ talvez tenha sido o último suspiro da militância do Partido dos Trabalhadores. O Governo de Dilma Rousseff tem que lidar com a escalada de uma grave crise econômica e política sem contar com sua base, quer no Congresso ou nas ruas. Os militantes históricos e à esquerda que se empolgaram no teatro parecem atordoados ante o escândalo da Lava Jato, que provocou nova prisão do ex-ministro José Dirceu, acusado de corrupção e de "enriquecer pessoalmente" com esquema.
Tampouco digerem o mal-estar com as medidas do ajuste fiscal, após uma campanha que martelou que não haveria arrocho. Por fim, petistas defendem que a presidenta deveria pedir desculpas publicamente à população. Acreditam que o Governo se comunica mal com sua base com sua base e que falta humildade a Dilma.
“Mais do que um pedido de desculpas do Governo, faltou um pedido de desculpas por parte do PT", diz o cientista político Claudio Couto, citando o escândalo da Petrobras, a medidas do ajuste fiscal e a falta de clareza na comunicação com o eleitorado. "E isso vai se refletir nas eleições municipais do ano que vem".
Para ele, as chances de impeachment estão crescendo. “Quando se tem uma degradação do ambiente político como essa, com manifestações de rua, fragilidade no Congresso e a economia em recessão, cria-se um cenário muito favorável à queda do presidente”, afirma Couto.
“A militância se desarmou com o ajuste fiscal”, disse um dirigente com mais de 20 anos de filiação, no momento em que o PT tenta reagir à crise e aos novos protestos anti-Dilma marcados para 16 de agosto mobilizando setores tradicionais da militância, como sindicatos e movimentos sociais. Couto compartilha da mesma visão: “Muita gente ficou desapontada com a política econômica da Dilma, inclusive muita gente do partido”.
Grandes parcelas do PT não se convencem da guinada que a própria
presidenta deu em sua política econômica, após anos de políticas para
expansão do consumo e medidas para criar uma nova matriz econômica, mais alinhada com as teses desenvolvimentistas do partido. Repelem a argumentação de orientação ortodoxa do ministro Joaquim Levy
de que é preciso equilibrar as contas e aumentar os juros para conter a
inflação provocada pela onda do consumo. “A estratégia de medida do
ajuste fiscal foi feita de maneira errada”, disse um dirigente que
participou da fundação do partido. “Parece que o [ministro da Fazenda
Joaquim] Levy foi para a Europa, ficou lá por uns 10 anos e voltou de lá
impregnado das medidas econômicas europeias sem saber o que estava
acontecendo no Brasil”, reclama.
A frágil base política, aliada a uma oposição cada vez mais forte no Congresso é a outra haste manca nesse pilar. Na primeira semana da volta do recesso, o Congresso produziu a primeira derrota do Governo neste segundo semestre. Nessa quarta-feira, aprovou a proposta que vincula o salário de funcionários da Advocacia Geral da União ao dos ministros do Supremo, que pode gerar um custo de 2,4 bilhões de reais ao ano para a União. Nem a bancada do PT votou de acordo com a orientação do Governo e apenas 3 deputados petistas foram contra à PEC. Na mesma madrugada, PTB e PDT romperam com a base governista.
“O Governo não tem controle sobre a sua base”, disse o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ontem. A opinião do oposicionista é compartilhada pelo PT. “A base está muito desorganizada de maneira geral, por uma série de demandas que não foram atendidas, relativas a emendas e a participação no Governo”, afirmou o deputado Carlos Zarattini, um dos únicos três que votaram contra a PEC ontem. Para ele, o Governo deveria reorganizar seus ministérios, mas não arrisca falar em nenhuma Pasta específica.
Ao longo de dez minutos, o programa, apresentado pelo presidente do partido, Rui Falcão, Lula e o ator José de Abreu, além de Dilma, expôs números, tentou explicar o ajuste fiscal como algo positivo e necessário, admitiu a crise —a palavra ‘crise’ foi citada 26 vezes, nenhuma delas por Dilma Rousseff. Nas ruas, a resposta foi a mesma de todas as vezes em que a presidenta foi à tevê neste ano: panelaço por diversas cidades do país. Prevendo a reação, o programa, no final, ironizou: "Vamos continuar enchendo as panelas de comida e esperança. Esse é o panelaço que gostamos de fazer".
À diferença do programa do TUCA, no ano passado, não foi fácil achar esperança na mensagem. "Sei que a coisa não está fácil e que a crise já chegou nas nossas casas", disse Lula, e apelou à memória das crises anteriores, que aconteceram num Brasil mais pobre e com menos colchão social na forma de programas de transferência de renda. O ex-presidente que chegou ao poder "vencendo o medo" em 2002 ofereceu, dessa vez, uma advertência. Falou sobre os riscos de a crise econômica aprofundar a crise política: “A ditadura foi resultado de uma grave crise política e durou 21 anos.”
Do lado de dentro, intelectuais, acadêmicos, artistas e antigos militantes prestavam seu apoio à campanha de Dilma Rousseff, que, naquele momento acirrado da disputa, reforçava o discurso à esquerda na economia e se colava mais que nunca no imaginário de militante contra a ditadura da presidenta. Do lado de fora, centenas de militantes surgiam espontaneamente e se aglomeravam com bandeiras e camisetas vermelhas ao redor do teatro.
Menos de um ano depois, para muitos petistas o ‘espírito do Tuca’ talvez tenha sido o último suspiro da militância do Partido dos Trabalhadores. O Governo de Dilma Rousseff tem que lidar com a escalada de uma grave crise econômica e política sem contar com sua base, quer no Congresso ou nas ruas. Os militantes históricos e à esquerda que se empolgaram no teatro parecem atordoados ante o escândalo da Lava Jato, que provocou nova prisão do ex-ministro José Dirceu, acusado de corrupção e de "enriquecer pessoalmente" com esquema.
Tampouco digerem o mal-estar com as medidas do ajuste fiscal, após uma campanha que martelou que não haveria arrocho. Por fim, petistas defendem que a presidenta deveria pedir desculpas publicamente à população. Acreditam que o Governo se comunica mal com sua base com sua base e que falta humildade a Dilma.
“Mais do que um pedido de desculpas do Governo, faltou um pedido de desculpas por parte do PT", diz o cientista político Claudio Couto, citando o escândalo da Petrobras, a medidas do ajuste fiscal e a falta de clareza na comunicação com o eleitorado. "E isso vai se refletir nas eleições municipais do ano que vem".
Para ele, as chances de impeachment estão crescendo. “Quando se tem uma degradação do ambiente político como essa, com manifestações de rua, fragilidade no Congresso e a economia em recessão, cria-se um cenário muito favorável à queda do presidente”, afirma Couto.
“A militância se desarmou com o ajuste fiscal”, disse um dirigente com mais de 20 anos de filiação, no momento em que o PT tenta reagir à crise e aos novos protestos anti-Dilma marcados para 16 de agosto mobilizando setores tradicionais da militância, como sindicatos e movimentos sociais. Couto compartilha da mesma visão: “Muita gente ficou desapontada com a política econômica da Dilma, inclusive muita gente do partido”.
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A frágil base política, aliada a uma oposição cada vez mais forte no Congresso é a outra haste manca nesse pilar. Na primeira semana da volta do recesso, o Congresso produziu a primeira derrota do Governo neste segundo semestre. Nessa quarta-feira, aprovou a proposta que vincula o salário de funcionários da Advocacia Geral da União ao dos ministros do Supremo, que pode gerar um custo de 2,4 bilhões de reais ao ano para a União. Nem a bancada do PT votou de acordo com a orientação do Governo e apenas 3 deputados petistas foram contra à PEC. Na mesma madrugada, PTB e PDT romperam com a base governista.
“O Governo não tem controle sobre a sua base”, disse o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ontem. A opinião do oposicionista é compartilhada pelo PT. “A base está muito desorganizada de maneira geral, por uma série de demandas que não foram atendidas, relativas a emendas e a participação no Governo”, afirmou o deputado Carlos Zarattini, um dos únicos três que votaram contra a PEC ontem. Para ele, o Governo deveria reorganizar seus ministérios, mas não arrisca falar em nenhuma Pasta específica.
Reunião e panelaço
Nesta quinta-feira, Dilma Rousseff convocou todos os ministros filiados ao PT para uma reunião de urgência. Pediu a eles um plano a curto prazo para aliviar a crise. Poucas horas depois, a presidenta apareceria em rede nacional, no programa do PT, afirmando que sabe "suportar pressões e até injustiças" e para lembrar que “já enfrentamos crises piores”.Ao longo de dez minutos, o programa, apresentado pelo presidente do partido, Rui Falcão, Lula e o ator José de Abreu, além de Dilma, expôs números, tentou explicar o ajuste fiscal como algo positivo e necessário, admitiu a crise —a palavra ‘crise’ foi citada 26 vezes, nenhuma delas por Dilma Rousseff. Nas ruas, a resposta foi a mesma de todas as vezes em que a presidenta foi à tevê neste ano: panelaço por diversas cidades do país. Prevendo a reação, o programa, no final, ironizou: "Vamos continuar enchendo as panelas de comida e esperança. Esse é o panelaço que gostamos de fazer".
À diferença do programa do TUCA, no ano passado, não foi fácil achar esperança na mensagem. "Sei que a coisa não está fácil e que a crise já chegou nas nossas casas", disse Lula, e apelou à memória das crises anteriores, que aconteceram num Brasil mais pobre e com menos colchão social na forma de programas de transferência de renda. O ex-presidente que chegou ao poder "vencendo o medo" em 2002 ofereceu, dessa vez, uma advertência. Falou sobre os riscos de a crise econômica aprofundar a crise política: “A ditadura foi resultado de uma grave crise política e durou 21 anos.”
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