sexta-feira, 9 de outubro de 2015

APESAR DE TUDO, O PAÍS MUDOU


Carlos Chagas

A decisão unanime do Tribunal de  Contas da União, rejeitando as contas do governo Dilma em 2014, fez aflorar uma indagação que apenas bissextamente era feita por alguns curiosos. Hoje, todo mundo se pergunta e quer saber qual  o maior responsável entre os donos do poder pelas pedaladas que constituíram crime contra a responsabilidade fiscal.



Claro que a maior parcela de culpa recai sobre Madame, mas certamente alguém soprou para ela esse tresloucado mapa da mina onde não havia tesouro, apenas cobras e lagartos.
Fala-se do ministro da Fazenda da época, Guido Mantega, do chefe do Tesouro Nacional, Arno Augustim, e do depois  chefe da Casa Civil,  Aloizio Mercadante. Outros existirão, agora  saltando  de banda, mas por que não um amanuense qualquer,  daqueles que datilografam cópias do Orçamento e julgam-se  gênios, salvadores  senão da pátria, ao menos do governo.



É provável que o Congresso deslinde a charada, tirando do lamaçal   alguma raiz  inesperada. Tanto faz   se Renan Calheiros terá boa ou má vontade para iniciar nas Comissões Técnicas o processo capaz de levar deputados e senadores a também concordarem com o TCU. Depois, será o que Deus quiser,  até  o impeachment da presidente. O que salta aos olhos é a desfaçatez com que o governo endossou a ilegalidade. Havia, naqueles idos, a sensação de impunidade que  Lula e Dilma absorveram tão bem.  Tudo era permitido, desenvolvendo-se o mensalão, o petrolão e outras patifarias que vão sendo investigadas e,  tomara,  punidas por inteiro.


Do episódio envolvendo o TCU  destaca-se a evidência de  o palácio do Planalto não ter aprendido nada,  ou esquecido tudo, desde o início da operação Lava Jato.  Ficou ridícula a tentativa de  incriminação da Corte de Contas e do relator Augusto Nardes. Primeiro,  o ministro Luis Fux, do Supremo Tribunal Federal, desfez a manobra infantil. Depois, por unanimidade, o TCU respondeu em defesa de sua honra. A palavra agora é do Congresso.



Conclui-se que apesar de tanta lambança, o país mudou. Já não é tão  fácil mentir, distorcer e roubar. A impunidade vem sofrendo sucessivas  derrotas,  esperando-se que não demore a degola  do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, dada a confirmação de suas contas secretas na Suíça e, em especial, as negativas que o transformaram no irmão mais velho do  Pinóquio.


OS QUATRO  CAVALEIROS
No Congresso em estado de rebelião com o governo, correu uma loteria para os parlamentares definirem quais as quatro maiores pragas que assolam o Brasil.  A primeira foi o  desemprego. Depois, a inflação.  Seguem-se  a violência e a corrupção. Mas a incompetência e a especulação  ameaçam e correm por fora.



O grave é que nenhuma dessas realidades  merece do governo, até agora, um programa efetivo de combate.  O candidato presidencial que primeiro definir projetos para a recuperação nacional começará em vantagem.

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