09/10/2015
Relatório do
Ministério Público da Suíça revela que nos registros das contas
atribuídas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no banco
suíço Julius Baer consta o nome dele e um endereço na Avenida Heitor
Doie Maia, número 98, na Barra da Tijuca. É neste endereço que o
deputado mora com a mulher, a jornalista Cláudia Cruz, também apontada
como beneficiária das contas. O documento suíço informa ainda que duas
das quatro contas que Cunha tinha no Julius Baer foram fechadas em abril
do ano passado, um mês após o início da Operação Lava-Jato.
As
outras duas foram bloqueadas em abril deste ano com um saldo de US$ 2,5
milhões. Em valores atualizados, o saldo corresponderia a cerca de R$
10 milhões.
As contas — que foram bloqueadas a partir de uma
investigação sobre suposto envolvimento do presidente da Câmara em
corrupção e lavagem de dinheiro — estão em nome de empresas offshores que têm como beneficiários Cunha e Cláudia Cruz.
Os documentos contém detalhadas
informações sobre os donos das contas. Pelo documento, um dos
beneficiários é brasileiro, chama-se Eduardo Cosentino da Cunha e nasceu
em 29 de setembro de 1958, data de nascimento de Cunha. Uma das
offshores atribuída ao deputado é chamada de Orion. Autoridades
brasileiras e suíças não têm dúvida de que as contas pertencem ao
presidente da Câmara.
INDÍCIOS EVIDENTES
Segundo um investigador, os
indícios contra o deputado são evidentes. Diferentemente do que
aconteceu com o ex-prefeito Paulo Maluf, Cunha não terá como negar a
responsabilidade sobre contas e offshores, diz a fonte. O relatório
contém extratos da movimentação financeira
das duas contas. Uma delas recebeu, entre maio e junho de 2011, quatro
depósitos. Três depósitos de 250 mil francos e um de 311,7 mil francos.
O Ministério Público suíço
informa que Cunha foi devidamente notificado do bloqueio das contas. Os
documentos foram enviados na última quarta-feira para a
Procuradoria-Geral da República, numa operação intermediada pelo
Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça. Caberá agora
ao procurador-geral, Rodrigo Janot, decidir se pede ao Supremo Tribunal
Federal (STF) abertura de novo inquérito ou se apresenta nova denúncia
contra Cunha.
As contas foram descobertas em abril
deste ano e, desde então, o presidente da Câmara vinha sendo investigado
na Suíça por corrupção passiva e lavagem de dinheiro desviado da
Petrobras. Cunha é suspeito de receber propina numa transação
relacionada a vazamento de informação privilegiada e venda, para a
Petrobras, de um campo de petróleo no Benin.
Na outra investigação, aberta no Brasil,
Cunha foi denunciado ao STF por corrupção passiva e lavagem dinheiro,
sob acusação de receber US$ 5 milhões em propina para facilitar a compra
de dois navios-sondas da Samsung Heavy Industries, pela Petrobras (um
negócio de US$ 1,2 bilhão). O negócio teria resultado em propina no
valor de US$ 40 milhões. Outros dois acusados na fraude, o lobista
Fernando Soares, o Baiano, e o ex-diretor Internacional da Petrobras
Nestor Cerveró já foram condenados pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara
Federal de Curitiba.
SEIS DELATORES DENUNCIARAM CUNHA
Na denúncia, Janot pede que Cunha
devolva ao cofres públicos US$ 80 milhões, soma entre multa e valores
desviados. As investigações iniciadas na Suíça podem se complementar com
outras informações já obtidas no Brasil pelo Ministério Público Federal
e pela Polícia Federal.
O nome de Cunha é vinculado à corrupção
na Petrobras por pelo menos seis acusados de envolvimento nas fraudes: o
doleiro Alberto Youssef, os lobistas Júlio Camargo, Fernando Baiano e
João Augusto Henriques, o ex-gerente-geral da área Internacional Eduardo
Vaz Costa Musa, e Leonardo Meirelles, ex-sócio de Youssef.
Parte das suspeitas das autoridades
suíças sobre a movimentação financeira de Cunha foram confirmadas pelo
lobista João Henriques. Em depoimento à PF em Curitiba, há duas semanas,
Henriques disse que fez depósito numa conta que, mais tarde, descobriu
pertencer a Cunha.
A conta destinatária do pagamento
foi indicada a ele pelo lobista Felipe Diniz, filho do ex-deputado
Fernando Diniz (PMDB-MG), já morto, um ex-aliado de Cunha. João
Henriques disse que fez o depósito em retribuição à venda de um campo de
Petróleo no Benin para a Petrobras. A transação só foi possível graças a
uma informação privilegiada que ele recebeu.
Com a informação, o lobista fez uma
sociedade com o empresário Idalecio de Oliveira, dono de um terreno no
Benin, que foi vendido por US$ 15 milhões para a Petrobras. Depois da
transação, o lobista embolsou US$ 7,5 milhões. Em seguida, repassou
parte do dinheiro para as pessoas que o ajudaram na concretizam do
negócio.
(Via FOlha e Globo)
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