terça-feira, 24 de novembro de 2015

Não me engane, que eu não gosto…



Do jeito como se comporta, Levy vai virar motivo de piadas

Vicente Nunes

Correio Braziliense

É legítimo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, imprimir um tom otimista em seu discurso. Faz parte da liturgia do cargo. Mas encampar a propaganda enganosa que é característica do PT já é demais. Mesmo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrando forte aceleração da inflação em novembro — o IPCA-15 cravou alta de 10,28% em 12 meses, a maior taxa desde 2003 —, o chefe da equipe econômica disse, sem constrangimento, que a carestia está em queda.


Para um técnico tão conceituado quanto Levy, seria melhor se ele tivesse ficado calado. Se continuar difundindo o modelo “me engana, que eu gosto”, tão presente no discurso petista, corre o risco de entrar para o time de ministros que se tornaram motivo de piada. Que o diga o antecessor dele, Guido Mantega.


A inflação, asseguram especialistas, continuará elevada até pelo menos o fim do primeiro semestre de 2016. Com o resultado do IPCA-15 de novembro, de 0,85%, muitos economistas revisaram, para cima, as projeções deste mês e do ano.


Nos cálculos de Elson Teles, do Itaú Unibanco, em vez de 0,70%, o IPCA fechado de novembro será de 0,90%. Para dezembro, a estimativa preliminar está em 0,85%. Já a taxa anual ficará em 10,4% ante os 10,1% previstos anteriormente. Na visão de Teles, a disseminação de reajustes ganhou força.


Em outubro, de cada 100 produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, 68,8% apontaram aumento. Agora, o chamado índice de difusão saltou para 71%.


O recrudescimento da inflação está se dando mesmo com o aprofundamento da recessão. Esperava-se que, com queda tão acentuada do Produto Interno Bruto (PIB), os preços recuassem já no fim deste ano. Esse, inclusive, era o cenário traçado pelo Banco Central, que prometia entregar a carestia no centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2016. Mas tudo está jogando contra, especialmente o governo.


NO ANO ELEITORAL…
Para dar a sensação de que a situação estava sob controle e garantir a reeleição, a presidente Dilma Rousseff segurou, o quanto pode, os preços administrados, mais precisamente os da energia elétrica e dos combustíveis. Tão logo as urnas confirmaram o segundo mandato, a verdade deu as caras. As contas de luz passaram a subir numa velocidade impressionante e os aumentos da gasolina e do diesel se tornaram mais frequentes.


Esses reajustes se espalharam por toda a economia e se somaram à alta do dólar e à dos alimentos. Agora, acima de 10%, qualquer movimento fora da curva poderá empurrar o IPCA para 11% facilmente. E inflação de dois dígitos no Brasil é um grande problema, devido à forte indexação da economia.


Os contratos corrigidos por índice tão elevado vão contaminar o custo de vida futuro. Por isso, a cada semana, pioram as estimativas para os próximos anos. Se os economistas estiverem certos, nem em 2018 a inflação estará no centro da meta. Ou seja, nos oito anos de mandato de Dilma não se verá o BC cumprir a missão que lhe foi entregue. Para 2016, o consenso aponta para carestia de 7%, acima do limite de tolerância (6,5%).

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