Mauricio Macri ganhou a eleição e é o novo presidente da Argentina.
Muitos dirão que a sua caminhada na política poderá ser repetida no
Brasil, por aqueles que sonham e lutam por mudanças no atual modelo de
governar o país.
Trocando em miúdos: teria chegado à vez de renegar a política,
negá-la em toda dimensão social, pregar a gratuidade na prestação de
serviços pelos eleitos, acabar horário gratuito de TV e Fundo Partidário
e, finalmente, criar um partido com base empresarial, lançar plataforma
de centro-direita e iniciar a campanha de 2018 nos estados e,
sobretudo, visando à sucessão de Dilma Rousseff.
Grande equívoco!
Mauricio Macri não tem esse perfil.
Se tivesse, a oposição teria perdido a eleição para um grupo político
como o “kirchnerismo”, de intensa sensibilidade e prioridade social.
Há outras razões para a oposição ter chegado ao poder.
Macri conseguiu mostrar aos argentinos, que não era apenas o filho de
um dos maiores empresários do país, mas sim político por vocação.
O “Cambiemos” de Macri não foi sinônimo de intolerância com a esquerda, ou adesismo à direita e grupos ideológicos.
Ele soube afastar-se há anos dos negócios da família e dedicar-se totalmente à política.
Antes de ser presidente, mostrou ser um gestor público eficiente, como prefeito de Buenos Aires, durante dois mandatos.
Macri, portanto, fez política, sim.
Política num modelo novo, que não se confundia com idade biológica,
ou exclusivismo de aproximação com empresários, igreja, mídia, ou outras
áreas.
Ele ligou-se a grupos diversos, inclusive a peronistas em grande
proporção e teve até a "simpatia" clara de Cristina, tudo com base na
tese de que não era conservador, mas sim um modernizador.
Nessa lógica colocou ideias concretas na sua campanha, sem radicalizar posições.
Cercou- se de pessoas experientes e competentes.
Não se limitou a linguagem de que era o "novo" e faria da Argentina
um modelo de gestão, à semelhança da empresa privada para tirar o país
do “buraco”.
Ele demonstrou saber que o Poder executivo exige bons gestores,
vindos de qualquer segmento, desde que tenham sensibilidade social, o
que é imprescindível.
Da mesma forma que o gestor privado exige experiência gerencial
anterior, o gestor público precisa ter vivência e experiência política
prévia, sob pena de fracasso total.
A partir daí, Macri convenceu o eleitor de que não "era o filhinho do
papai" e não transformaria a Argentina em “negócio” para obter lucros,
através do prestígio dado à meia dúzia de amigos.
Não se sabe, ainda, como ele agirá no poder, a partir do dia 10 de dezembro.
A sua vitória ocorreu por pregar e acreditar que é possível a Argentina viver melhor.
Enfrentará muitos desafios e dificuldades.
O destino do governo dependerá de sua habilidade política, já que não terá maioria no Senado, nem na Câmara.
Caso tivesse se colocado como “anti-político”, criticando tudo e
todos, para formar uma “patota” com objetivo de apropriar-se do poder,
não teria inspirado confiança à população.
Ao contrário, agiu com extrema habilidade na Prefeitura de Buenos Aires e na campanha presidencial.
Ficou evidente que a sua vocação é de político moderno, inovador e não apenas um empresário familiarmente bem sucedido.
Está livre de compromissos com as velhas lideranças do passado.
Por isso, não pode perder a oportunidade de inovar.
Terá que agir rápido e com firmeza, nos primeiros momentos do seu governo.
Caso demore, tornar-se-á impossível à verdadeira mudança e a solução
será convidar os adversários para sentarem-se à mesa e dividir o "bolo",
como fizeram os seus antecessores.
Em tal situação, a Argentina não terá mudado nada.
O quadro revelado pelas urnas tornou claro o desejo de mudança na Argentina.
Tudo foi alcançado em clima de normalidade, sem fraudes e sem tensões.
A vitória eleitoral de Macri resultou da arte política, anunciada
através de um modelo inovador, que não dependeu do candidato ser moço,
velho, empresário, operário, ou exercer qualquer outra atividade.
A única exigência do eleitor parece ter sido que o escolhido tivesse "experiência política prévia comprovada".
Essa lição deverá ser assimilada pelos partidos brasileiros, para não
buscarem improvisações de candidaturas, que no final se transformarão
fatalmente, em "sapato maior do que o pé".
Só resta por fim, no ritmo do vitorioso tango argentino “cambiemos”, exclamar em bom português:
“Aguardemos!”
Ney Lopes – ex-deputado federal (sem
partido); procurador federal, ex-presidente do Parlamento
Latino-Americano, jornalista e professor de Direito Constitucional.
– nl@neylopes.com.br
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