sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Perspectivas 2016: Incertezas políticas, China e Fed podem levar dólar a R$ 5


O FINANCISTA
 
Notícia Publicada em 18/12/2015 12:42

Mudança de ministro da Fazenda adiciona preocupação com o próximo ano

Questões políticas devem manter câmbio volátil em 2016 (Marcos Santos/USP Imagens)
Questões políticas devem manter câmbio volátil em 2016 (Marcos Santos/USP Imagens)


SÃO PAULO – As incertezas sobre a política brasileira devem continuar interferindo no câmbio em 2016. E, somados a isso os fatores externos, como ritmo de alta de juros dos Estados Unidos e economia chinesa, o dólar pode chegar a R$ 5 no ano que vem.



O patamar indica uma valorização 19% superior à expectativa do Boletim Focus mais recente, que prevê dólar em R$ 4,20 ao fim do próximo ano. De acordo com Bernard Gonin, analista macroeconômico da Rio Gestão, apenas considerando o diferencial de juros previsto para 2016 a moeda deve alcançar R$ 4,50, com piso de R$ 3,80 na previsão mais otimista.


Sidnei Moura Nehme, economista da NGO Corretora, destaca que os riscos negativos com os quais o mercado já trabalhava estão ocorrendo em uma velocidade maior que a esperada e, por isso, o câmbio deve ser o primeiro e repercutir a piora da situação do país.
O rebaixamento para grau especulativo pela Fitch na última quarta-feira (16) é um dos itens que colabora para deterioração econômica.


“Com downgrade, não há exagero em projetar-se o preço do câmbio em R$ 5 ao final de 2016, parecendo mesmo projeção muito sensata, já que é notória a tendência do próximo ano ser tão negativo quanto este”, explica o economista, que prevê contínua perda de atratividade do país ao investidor interno e externo.


Problemas domésticos
A questão política é o principal nó a ser desfeito em 2016, mas os acontecimentos observados até aqui dão pistas de que o próximo ano deve ser ainda mais complicado que 2015.


Nehme explica que o cenário político está “desajustado e conflituoso” e não há pistas de que aconteça alguma melhora no curto prazo, uma vez que existem “problemas mais amplos”. “É bastante perturbador, pois deixa o governo sem base aliada confiável”, explica.


A principal incerteza neste momento é sobre a condução do processo de impeachment de Dilma Rousseff e seus possíveis desdobramentos. Gonin avalia que a presidente deve vencer o processo de impeachment – atualmente zerado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) – e terminar seu mandato, mas a herança do processo deve deixá-la politicamente ainda mais frágil, com o esfacelamento da base aliada.


Há ainda no radar o risco de uma guinada à esquerda, especialmente se os rumores de saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, forem confirmados. O mercado já trabalha com a saída de Levy há algum tempo, dessa forma, a pressão sobre o dólar vem do receio sobre o nome que assumirá a pasta.


O ministro do Planejamento, Nelson Barbosaé o nome mais cotado até o momento, o que preocupa os mercados. Cleber Alessie, operador de câmbio da H. Commcor, afirma que Barbosa se mostrou contrário ao corte de gastos proposto por Levy ao longo deste ano e que isso é “realmente preocupante”.


Segundo o jornal O Estado de S. Paulo desta sexta-feira (18), o nome de Barbosa agrada ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas Dilma Rousseff ainda não está totalmente convencida sobre essa solução caseira.


Rumores apontam que ainda estão no páreo o ministro do Armando Monteiro, do Desenvolvimento, por quem Lula tem simpatia, Marcos Lisboa, diretor-presidente do Insper, e Otaviano Canuto, diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional). Os dois últimos, aliás, já teriam sido procurados e rejeitado a oferta, segundo a agência Reuters. O nome do atual ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, também tem aparecido como alternativa, aponta O Globo.


A maior parte do mercado, no entanto, acredita que Barbosa — ou outro nome mais alinhado à Nova Matriz Econômica de Dilma — ficará com a pasta. “Deve vir um ministro mais heterodoxo, com medidas que aliviem o crescimento fraco no ano que vem, com Dilma tendo que agradar um pouco sua base e fazendo mais políticas sociais”, explica Gonin.


Influência internacional
Nem só de problemas internos será alimentada a valorização do dólar em 2016. O aumento da taxa de juros nos Estados Unidos, embora amplamente esperada e precificada pelos mercados, ainda pode guardar surpresas para o próximo ano.


“Apesar da ótima comunicação do Fed [Federal Reserve, o banco central norte-americano] em relação ao aumento de juros, há um risco de os juros subirem um pouco mais rápido do que o mercado espera”, avalia Gonin.


O analista destaca que a mediana do Fed para 2016 está em juros de 1,38%, conforme último comunicado, enquanto o índice futuro aponta taxa em 1%. Isso significa que a autoridade monetária ainda pode pegar o mercado de surpresa.


A mesma disparidade de projeções acontece nos anos seguintes. Enquanto a mediana do Fed aponta para juros em 2,4% em 2017, o mercado vê a taxa perto de 1,5%. Em 2018, a mediana do banco central está estimada em 3,3% e o mercado segue em 1,6%.


“Basicamente, o mercado espera que o Fed não faça o que está prometendo”, diz Gonin. É aí que reside o risco de valorização acentuada da moeda no próximo ano, com um ritmo de aperto monetário maior do que o previsto, especialmente se a inflação norte-americana mostrar força.


Do outro lado, Nehme avalia que o Fed deixou o caráter gradual do aumento de juros evidente, e que um aumento desse ritmo está praticamente descartado, pos afetaria a competitividade da economia norte-americana.


Além dos Estados Unidos, a desaceleração da economia chinesa, a segunda maior do mundo, também pode ser mais rápida do que creem os agentes de mercado, afetando os emergentes e exportadores de commodities, conforme avaliação de Bernard Gonin.


Mais otimista, Cleber Alessie acredita que o cenário atualmente pessimista pode ter uma reversão puxado pela melhora do ambiente externo, com recuperação dos preços do petróleo e transição suave da China para um patamar de crescimento menor que os registrados nos últimos anos.


“Esse ano foi o olho do furacão. O próximo rebaixamento [pela Moody’s] já está precificado e temos um arrefecimento inflacionário que permite que o país comece uma redução de juros no segundo semestre [de 2016]”, explica.

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