21/01/2016
às 15:22 \ Opinião
Publicado no Estadão
“Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste
país, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da
Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da Igreja
Católica, nem dentro da Igreja Evangélica. Pode ter igual, mas mais do
que eu, duvido.” Lula continua achando que o brasileiro é idiota. Reuniu
ontem blogueiros amigos para um café da manhã em seu instituto e, a
pretexto de anunciar que vai participar “ativamente” do próximo pleito
municipal, aderiu pessoalmente – já o havia feito por intermédio de seu
pau-mandado Rui Falcão – à campanha promovida por prósperos advogados e
seus clientes, apavorados empresários e figurões da política, para
desmoralizar a Operação Lava Jato, que procura acabar com a impunidade
de poderosos corruptos.
Lula conseguiu escapar penalmente ileso do
escândalo do Mensalão e, por enquanto, não está oficialmente envolvido
nas investigações sobre o assalto generalizado aos cofres públicos. Os
dois casos juntam-se numa sequência das ações criminosas que levaram
dinheiro sujo para os cofres do PT e aliados e “guerreiros” petistas
como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares para a cadeia.
O que é inacreditável é que, como presidente
da República e dono do PT, Lula não tivesse conhecimento do Mensalão e
do Petrolão que desfilavam sob seu nariz.
Assim, é notável o atrevimento
– talvez mais estimulado pelo desespero do que por sua índole de
ilusionista – com que o personagem, que ficou rico na política, se
apresenta como monopolista das mais prístinas virtudes.
Só mesmo alguém empolgado pelo som da própria
voz e pelas reações da plateia amiga cairia no ridículo de se colocar
como referência máxima e insuperável em matéria de honestidade. “Pode
ter igual, mas mais do que eu, duvido.”
Apesar de inebriado com as próprias virtudes,
Lula encontrou espaço para a modéstia – infelizmente de braços dados
com a mendacidade, que alguns chamam de exagero retórico – ao se referir
ao combate à corrupção. Fez questão de dar crédito a sua sucessora,
deixando no ar a pergunta sobre a razão pela qual os petistas esperaram
oito anos, até que o chefão deixasse a Presidência, para se preocuparem
com os corruptos:
“O governo criou mecanismos para que nada fosse jogado
embaixo do tapete nesse país. A presidente Dilma ainda será enaltecida
pelas condições criadas para punir quem não andar na linha nesse país”. E
arrematou, falando sério: “A apuração da corrupção é um bem nesse
país”.
Lula não se conforma, no entanto, com a mania
que os policiais e procuradores têm de o perseguirem, obstinados pela
absurda ideia fixa de que ele tem alguma coisa a ver com a corrupção que
anda solta por aí: “Já ouvi que delação premiada tem que ter o nome do
Lula, senão não adianta”. Ou seja, os homens da Lava Jato ou da Zelotes
não vão sossegar enquanto não obrigarem alguém a apontar o dedo para o
impoluto Lula. Mas, confiante, o chefão do PT garante que não tem o que
temer:
“Duvido que tenha um promotor, delegado, empresário que tenha
coragem de afirmar que eu me envolvi em algo ilícito”.
Lula falou também sobre a fase mais
financeiramente próspera de sua carreira política, quando, depois de ter
deixado o governo, na condição de ex-presidente faturou alto com
palestras aqui e no exterior patrocinadas por grandes empresas. Explicou
que é comum ex-chefes de governo serem contratados para transmitir suas
experiências ao mundo. Quanto a palestrar no exterior para levantar a
bola de empreiteiras que para isso lhe pagam regiamente, Lula tem a
explicação que só os mal-intencionados se recusam a aceitar:
“As pessoas
deveriam me agradecer. O papel de qualquer presidente é vender os
serviços do seu país. Essa é a coisa mais normal em um país”.
De fato, é muito louvável que um
ex-presidente da República se valha de seu prestígio para “vender” os
serviços e produtos de grandes empresas brasileiras aptas a competir no
mercado internacional. Resta definir quando essa benemerência se
transforma em tráfico de influência.
“Nesse país”, porém, qualquer um que
manifeste dúvidas em relação à absoluta integridade moral do asceta de
Garanhuns é insano ou mal-intencionado.
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