sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Vacas macérrimas - HÉLIO SCHWARTSMAN


Folha de SP - 22/01

Numa situação em que falta dinheiro até para manter hospitais funcionando, você ampliaria as verbas destinadas a políticos para usarem em suas campanhas? Pois Dilma acaba de conceder quase R$ 1 bilhão aos partidos.

Eu sei, apelei. Pelo menos até agora, são Estados e municípios que enfrentam problemas de caixa que batem em serviços ao cidadão. E também não me parece muito exato afirmar que Dilma tenha dado esse dinheiro. Ela apenas deixou de vetar o aumento do fundo partidário que havia sido aprovado pelo Congresso. Especialmente agora que o Supremo proibiu doações de empresas, ela teria pouca ou nenhuma condição política de bancar esse veto.

Em termos de resultado, porém, não faz muita diferença. Num momento de vacas macérrimas, o poder público fez crescer a parte do bolo reservada aos partidos políticos, o que contraria noções elementares de prioridade. A manobra fica ainda mais grave quando se considera que não haveria grande prejuízo para a democracia se todos os partidos passassem ao mesmo tempo a fazer campanhas eleitorais franciscanas.

O que de pior poderia acontecer é caírem um pouco as taxas de renovação (candidatos menos conhecidos dependem mais de exposição para ter sucesso), mas baixos índices de troca não estão entre os problemas da política brasileira. 


A renovação do Congresso, por exemplo, tem variado entre os 40% e os 60%, valores altos na comparação internacional, e nem por isso temos assistido a uma melhora qualitativa na representação. A tendência é que o eleitor troque seis por meia dúzia.

Meu ponto aqui é que o governo Dilma chegou a um ponto em que não tem mais força nem para fazer o óbvio, que seria vetar o despropositado aumento. E, num cenário de impeachment, a situação de Temer não seria melhor. Ao que tudo indica, infelizmente, a crise política continuará pelo menos até a próxima eleição.


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