sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Lamentos de uma petista arrependida


Sandra Starling
 
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Imagino que o mesmo deva estar acontecendo com cada um que possa ler este artigo: minha caixa de mensagens amanhece lotada de ofertas de todo tipo de serviço em domicílio. Gente que faz consertos variados em sua casa, ofertas de dinheiro sob empréstimo, ajuda para a elaboração de trabalhos escolares, professores de diferentes línguas... Isso para não me referir aos pedidos de emprego para a própria pessoa ou para algum parente ou amigo seu.

Canso de dizer que mal conheço eventuais possibilidades de que alguém possa exercer alguma profissão. Há anos me encontro fora do mercado de trabalho por força de escolhas malfeitas no passado. Deixei, por exemplo, um recompensador trabalho como diretora de Pesquisa e Extensão em uma universidade, em fins de 2002, pela aventura de participar do primeiro governo Lula. Depois, deixei meu exílio em minha casa na cidade de Santa Luzia, em companhia de uma cachorra que eu adorava e de pessoas que trabalhavam para mim, e fui ser assessora no Senado Federal – claro está que outra vez correndo atrás do sonho petista que ia se desmoronando.

Começava o fim desse sonho, que veio arrasador com os votos de Joaquim Barbosa e que, agora, melancolicamente, termina com as conduções do “japonês da Federal”. Uma lástima.

Mas voltemos às considerações do título. Tudo quanto relatei de início já demonstra a terrível crise na qual nos jogou a gerentona Dilma Rousseff com sua interpretação bizarra e malsucedida do nacional-desenvolvimentismo. Para além das evidências de desemprego generalizado, a inflação retomou seu ritmo alucinante, e qualquer pessoa que tenha de manter ou ajudar a manter uma casa já sente os efeitos de preços astronômicos. Voltamos a ter de encher nossas despensas para evitar a ida constante aos supermercados, onde tudo sobe da noite para o dia. Só falta voltarem à cena os antigos “fiscais do Sarney” a vigiar a troca de etiquetas nas diferentes mercadorias. Tristeza.

E pior ainda é quando sabemos que o fantasma do desemprego vai afligir ainda mais os jovens de 18 a 25 anos e os homens e as mulheres acima dos 45 anos. Aos primeiros será sempre cobrada a experiência que não tiveram com o tipo de ensino afastado de toda a realidade e oferecido no Brasil seja nas escolas profissionalizantes – com raras exceções –, seja na universidade. Aos demais, a ameaça da idade chegando, embora, estatisticamente, com a elevação da expectativa de vida, os 40 anos situem-se ainda, em tese, na metade do tempo de vida das pessoas em geral.

E como no Brasil tudo é resolvido sendo empurrado com a barriga ou varrido por meias palavras, lá vem a presidente falando em reforma da Previdência para aumentar o tempo de trabalho de uma pessoa, sem resolver o problema da entrada muito cedo de alguns – os mais pobres, claro está – no mercado de trabalho e sem nem mesmo garantir empregabilidade para homens e mulheres na flor da idade.

Haja estômago para ver o repeteco de mazelas antigas e outras, como a sanção de um Orçamento contendo a previsão de aprovação da CPMF. Será que vai?

Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo.

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