O GLOBO - 30/01
Marcelo Odebrecht, então presidente da empreiteira, comentou com conhecidos, pouco antes de ser preso pela Operação Lava-Jato, a atuação de Leo Pinheiro, presidente da OAS, no sítio de Atibaia: “O que que tem o Léo ajudar o Lula naquele sítio dele? São amigos, não custa nada ajudar”.
Marcelo Odebrecht, então presidente da empreiteira, comentou com conhecidos, pouco antes de ser preso pela Operação Lava-Jato, a atuação de Leo Pinheiro, presidente da OAS, no sítio de Atibaia: “O que que tem o Léo ajudar o Lula naquele sítio dele? São amigos, não custa nada ajudar”.
Sabe-se
agora, pela reportagem da Folha, que o comentário era, na verdade, uma
defesa prévia, pois também a Odebrecht ajudou a reformar o sítio cuja
propriedade é atribuída ao ex-presidente.
E o cerne da questão é
justamente esse, a complacência com que o público e o privado foram
sendo misturados nesses anos petistas, em trocas de favores entre o
estado brasileiro e empresas privadas, tipo “uma mão lava a outra”.
É
verdade que esse sistema não foi inaugurado com o PT, mas foi esse
partido que o institucionalizou, demonstrando uma capacidade
insuspeitada de organização. Diz-se que o ex-presidente Fernando
Henrique acreditava que Lula e o PT não teriam condições de governar o
país em 2002, quando foi eleito pela primeira vez, e procurariam um
acordo com o PSDB.
Ledo e ivo engano, como gosta de dizer o Cony. A
capacidade de aparelhamento do estado revelada pelo PT nesses 13 anos de
poder é impressionante, não deixando pedra sobre pedra da construção
institucional que vinha sendo organizada depois do controle da
hiperinflação.
É nesse contexto que se inserem as investigações sobre
os possíveis bens ocultos do ex-presidente Lula, e suas palestras pelo
mundo patrocinadas por diversas empreiteiras, todas envolvidas na
Operação Lava-Jato. Seria uma resposta definitiva se Lula enviasse ao
Ministério Público as gravações de todas as palestras que deu pelo
mundo, provando que não há nada de ilícito na sua atividade.
O maior
indício do temor de Lula é a prioridade de sua equipe de advogados de
defesa: retirar do juiz Sérgio Moro a responsabilidade do processo,
alegando que o tríplex do Guarujá nada tem a ver com a Operação da
Lava-Jato. Só que tem.
A propriedade do hoje famoso tríplex de
Guarujá é controvertida justamente pelas declarações do próprio
Instituto Lula, que desde que uma reportagem do Globo de dezembro de
2014 denunciou que Lula recebera o tríplex com adendos incorporados ao
projeto original pela OAS, inclusive um elevador privativo interno, já
confirmou a propriedade de Lula e voltou atrás diversas vezes.
Seria
simples convocar uma entrevista coletiva com os blogueiros oficiais e
mostrar a eles documentos que provassem que o presidente, ou Dona
Marisa, devolveram as cotas que dizem ter tido no Bancoop e receberam de
volta da OAS o dinheiro aplicado.
Eles não fariam perguntas
embaraçosas e a defesa estaria disponível na internet. Claro que é
difícil explicar por que a OAS gastou mais de R$ 700 mil num apartamento
avaliado em R$ 1,5 milhão e ainda devolveu dinheiro para o antigo
proprietário. Ou por que um engenheiro importante da Odebrecht
aproveitou suas férias para fazer de graça um trabalho no sítio de
Atibaia sem saber direito para quem estava trabalhando e por que.
Mas
nada de concreto é feito, só negativas vazias e ataques ao que seria
uma “caçada” a Lula, que mereceria, por seu histórico, um tratamento
“mais respeitoso”, de acordo com o ministro Jaques Wagner.
O
contrário é que seria necessário, que Lula tivesse mais respeito com a
população e desse explicações razoáveis sobre o tríplex do Guarujá e
também sobre o sítio de Atibaia, que está em nome de sócios de um filho
seu.
É inegável que a propriedade é usada por Lula e sua família como
se fosse deles, pois até mesmo parte da sua mudança foi mandada para lá
quando ele deixou o governo, em 2010. Há depoimentos diversos, nos dois
imóveis, de gente que viu Lula e parentes usufruindo do local,
orientando obras, e comprovação da participação de executivos e
engenheiros das duas empreiteiras.
Ontem Lula admitiu que frequenta o
sítio, que seria propriedade de amigos da família. E por que esse
proprietário, Fernando Bittar, que é sócio de um filho de Lula e filho
de um líder petista, não vem a público revelar que tem muito prazer em
que Lula use seu sítio como se fosse seu? E que gostou muito que a
Odebrecht tivesse feito reformas de graça na sua propriedade para dar
mais conforto a Lula. Ou que prove que pagou pelas reformas. O outro
sócio, Jonas Suassuna, já tirou o corpo fora dizendo sua parte no sítio
não tem nada a ver com a que Lula frequenta.
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