segunda-feira, 11 de julho de 2016
As notícias não mudam: por mais que a ciência e a comunicação alertem
com frequência, o Brasil continua a ser o líder mundial no uso de
agrotóxicos – e ainda os isenta ou reduz o pagamento de impostos como
ICMS (redução de 60%), PIS/Cofins e outros, enquanto medicamentos têm
incentivos de 34% (Envolverde, maio de 2016).
O Brasil isenta ou reduz o pagamento de impostos como ICMS (redução de
60%), PIS/Cofins e outros para agrotóxicos, enquanto medicamentos têm
incentivos de 34% (Envolverde, maio de 2016).
Há muitos alertas e advertências: morangos vermelhos e variedades de espinafre podem ter doses altas de resíduos químicos; muitas frutas, verduras e legumes são borrifados com pesticidas banidos há anos.
O consumo, no mundo, desses ingredientes cresceu 93% em dez anos; no Brasil, 190%. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 28% das substâncias usadas por aqui não são autorizadas; a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) afirma que 70% dos alimentos in natura consumidos no País estão “contaminados” por agrotóxicos; para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada ano aumentam em 70 mil os casos de intoxicação aguda ou crônica provocados por agroquímicos.
A Anvisa está reavaliando 16 pesticidas, além de fazer consulta pública.
Nos Estados Unidos, Canadá e países da União Europeia já são proibidos,
por temor de serem cancerígenos. Há dez anos a Anvisa reavaliou os
riscos ambientais do 2,4D, um dos componentes do Agente Laranja, que os
EUA usaram na Guerra do Vietnã para eliminar florestas e plantações
utilizados como esconderijos de guerrilheiros.
Segundo a Cruz Vermelha Internacional, 150 mil crianças têm malformações congênitas por esse motivo – que os EUA contestam. E segundo a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU) e a OMS, é urgente diminuir o uso de praguicidas e substituí-lo pelo plantio direto nas lavouras, que reduz as pragas.
Segundo a Cruz Vermelha Internacional, 150 mil crianças têm malformações congênitas por esse motivo – que os EUA contestam. E segundo a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU) e a OMS, é urgente diminuir o uso de praguicidas e substituí-lo pelo plantio direto nas lavouras, que reduz as pragas.
Um dos argumentos usados pelos defensores de agrotóxicos é a “volta da
mosca-branca” (Bemisia tabaci), que está levando produtores de soja do
Centro-Oeste a um gasto 37% maior que no ano passado. Mato Grosso, por
exemplo, que gastava R$ 385 por hectare, agora gasta R$ 508,90. Em
outros lugares, R$ 543,69.
Um dos itens mais polêmicos nessa agenda é o glifosato, principalmente
depois que a OMS e a FAO voltaram atrás em sua condenação anterior,
prorrogaram a liberação por 18 meses e agora asseguram que esse produto
não provoca câncer em humanos. E que novas tecnologias reduzirão o uso
de praguicidas. A questão do uso ou não de sementes transgênicas também
está em suspenso. Uma especialista francesa, Marie-Monique Robin,
afirmou (7/5) que “o glifosato é o maior escândalo sanitário de toda a
história da indústria química”. Mesmo depois da decisão da OMS, a França
tornou a proibir a venda livre do produto.
Há um capítulo à parte, que é o das mudanças climáticas, com muitos
cientistas afirmando que a criação de gado em confinamento (na
Argentina, 70% do rebanho) aumenta os gases, contribuindo para essas
mudanças. A China suspendeu a importação de carne bovina da Austrália,
por essa e outras razões.
Há muitos polos nessa luta. A pulverização eletrostática reduz o uso de
agroquímicos, dizem seus defensores. Com 70% colocados no alvo certo, a
redução é de 30%. A tecnologia é da Fundação do Meio Ambiente, que a
recomenda para legumes, frutas e verduras (Eco-finanças, 23/5). Também
há quem defenda a supressão de árvores contaminadas como o melhor
caminho para evitar a propagação dos problemas – como a Fundação de
Defesa da Citricultura, em 349 municípios de São Paulo e Mato Grosso. De
qualquer forma, 16,92% das laranjeiras foram suprimidas. De abril do
ano passado a março deste ano foram erradicadas em 21,3 mil hectares,
mais de metade delas com sintomas de problemas.
Seja como for, a briga é difícil e complicada. As empresas produtores de
agrotóxicos constituem um verdadeiro cartel, que domina o mercado
mundial, algumas delas com mais de cem anos de existência, como a
Monsanto. A Bayer e a Syngenta e poucas mais fazem parte do grupo.
Algumas participaram até do Projeto Manhattan, da primeira bomba
atômica. Ou do projeto do Agente Laranja, muito em evidência na Guerra
do Vietnã.
Mas a luta contra os agrotóxicos também tem aliados importantes, como
instituições que participam da Moratória da Soja, que luta contra o
desmatamento desde 2006. Ela proíbe o comércio, aquisição e
financiamento de grãos produzidos em áreas desmatadas de maneira ilegal
no bioma amazônico e em áreas embargadas pelo Ibama e propriedades que
estejam na lista de trabalho escravo do Ministério do Trabalho e
Previdência. Desde seu início, a moratória expandiu-se em 2,3 milhões de
hectares, nos quais a produção aumentou 200% (amazonia, 23/6).
Parece não haver dúvida de que cresce rapidamente em toda parte – no
Brasil e nos países para os quais exportamos grãos e outros itens
agrícolas – a resistência a produtos de regiões que usem agrotóxicos.
Ainda assim, estas têm conseguido protelar novas tentativas de ampliar
legalmente as restrições. Mas a Agência Europeia dos Produtos Químicos
conclui pesquisa sobre riscos cancerígenos na origem dos produtos. Só
que a OMS e sua agência de pesquisa sobre câncer não conseguiram apertar
as restrições, que ficaram para ser decididas até o fim de 2017. Até lá
só vigorarão restrições ao uso de agrotóxicos em áreas de parques e
jardins .
Nessa hora decisiva, o Pnuma afirmou na recente convenção de Nairóbi que
os danos ao meio ambiente estão entre as maiores causas de morte no
mundo. Por que, então, não se consegue avançar na questão dos
agrotóxicos? Por que nossos Poderes – principalmente o Legislativo – não
conseguem estabelecer regras duras nessa área relacionada com alimentos
e saúde? Os eleitores precisam cobrar.
Se a opinião pública deixar claro que não aceita os prejuízos, o panorama poderá mudar. Nada pode ser mais grave que o risco de morte evidenciado pela ciência.
Se a opinião pública deixar claro que não aceita os prejuízos, o panorama poderá mudar. Nada pode ser mais grave que o risco de morte evidenciado pela ciência.
* Washington Novaes é jornalista (e-mail: wlrnovaes@uol.com.br).
Fonte: Envolverde
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