domingo, 9 de fevereiro de 2014

Previsões para fevereiro pioram e sistema indica cenário de racionamento de energia

8/2/2014 às 12h02 (Atualizado em 8/2/2014 às 13h52) R7


Sudeste/Centro-Oeste teve o segundo pior janeiro de chuvas para energia desde 1931



Reuters

Estiagem histórica: Sistema Cantareira, um dos principais do Sudeste do Brasil, está com níveis de água baixíssimos Sergio Castro/29.01.2014/Estadão Conteúdo
 
O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) revisou a expectativa de aumento de carga de energia no Brasil em fevereiro para uma alta de 15% e o custo de operação do sistema elétrico superou o primeiro patamar de déficit de carga nas regiões Sudeste/Centro Oeste e Sul, numa sinalização de que há necessidade de redução de carga de energia de cerca de 5%.

O aumento de 15% de carga esperada para o Brasil em fevereiro foi divulgado pelo ONS no final da sexta-feira (7) e é mais do que o dobro da estimativa da semana passada, de que a carga subiria 7,1% neste mês na comparação com fevereiro de 2013.

Já o custo marginal de operação médio para a região Sudeste / Centro Oeste e Sul superou o primeiro patamar que indica custo déficit de energia, de R$ 1.364,42 por MWh (megawatt-hora), e necessidade de reduzir até 5% da carga.

Para esta semana, esse custo de operação do sistema está em R$ 1.691,39 por MWh para as regiões Sudeste/Centro Oeste e Sul. "Na semana de 8 a 14 de fevereiro, a previsão é de que ocorra chuva fraca em pontos isolados das bacias dos rios Uruguai e Jacuí. Nas demais bacias hidrográficas de interesse do SIN (Sistema Interligado Nacional) predomina a estiagem", informou o ONS no Sumário Executivo do Programa Mensal de Operação para esta semana.

O ONS acrescentou que o Sudeste/Centro-Oeste teve o segundo pior janeiro em regime de chuvas para geração de energia pelas hidrelétricas desde 1931 e que, pela previsão revista, no mês de fevereiro esta posição está mantida.

Além disso, o ONS prevê que o Nordeste apresente a menor média mensal de afluência de chuvas para os reservatórios de todos os meses de fevereiro do histórico. "A revisão das previsões para o mês de fevereiro indica queda significativa das afluências aos subsistemas Sudeste, Sul e Nordeste", informou o ONS.

As afluências previstas para o SIN (Sistema Interligado Nacional) reduziram cerca de 7.000 MW médios, assim como a energia armazenada esperada, que sofreu redução adicional de 4.500 MW médios, conforme informações da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).

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As previsões para o mês de fevereiro agravam as preocupações em relação ao abastecimento do País já que os reservatórios, principalmente no Sudeste, estão em níveis baixos críticos e continuam a cair.

Os reservatórios de hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste, os principais para o abastecimento do País, estão em queda desde janeiro, época em que deveriam estar enchendo para sustentar o fornecimento de energia durante o período seco. Esses reservatórios já tiveram uma queda de 4,66% desde o fim de dezembro e estão hoje em 38,52% de armazenamento.

Esse armazenamento ainda é maior que o fechado ao fim de janeiro do ano passado, de 37,46%, mas o ONS prevê que esses reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste terminem fevereiro em condições ainda piores, a 35,6%. No final de fevereiro de 2013, os reservatórios dessa região estavam a 45,48%.

Já no Sul, o nível dos reservatórios está em 51,5%, e se a previsão do ONS para o fim de fevereiro se cumprir, estará em 36,8% ao final do mês.

Todas as térmicas do País disponíveis para a operação estão acionadas, conforme indica o custo marginal de operação, que já está superior ao custo de geração da térmica mais cara do País, indicando a necessidade de racionar carga no Sudeste/Centro-Oeste e Sul.

"Todavia, as regiões SE/CO, NE e N encontram-se em pleno período úmido, o que conduz à expectativa de reversão do atual cenário hidrológico. Assim sendo, a operação do SIN será realizada considerando o pleno atendimento aos requisitos de carga", disse o ONS no Sumário do PMO, documento disponível em seu site.

A necessidade de redução de carga apontada ocorre após o sistema elétrico nacional como um todo e outras regiões separadamente virem batendo consecutivos picos de demanda de carga de energia.

Na terça-feira (4), curto-circuitos em linhas de transmissão que trazem energia do Norte para Sudeste do País ainda resultaram em apagão que atingiu diversos Estados e cerca de 6 milhões de consumidores.

Preço de energia

O baixo nível dos reservatórios e o forte consumo também provocam o aumento do preço de energia de curto prazo (Preço de Liquidação de Diferenças - PLD), que se mantém no topo permitido para o ano, em R$ 822,83 por MWh, para esta semana, nas regiões Sudeste/Centro-Oeste e Sul.

Especialistas do setor elétrico consideram que o PLD deve se manter no patamar máximo no Sudeste/Centro-Oeste ainda por algumas semanas, diante da ausência de chuva nas previsões.
Érico Evaristo, presidente da Bolt Comercializadora, explicou que mesmo com alguma chuva, pode ser que não haja recuperação suficiente dos reservatórios para a queda de preço.

— Fevereiro vai ser muito ruim, sem chuvas nas três primeiras semanas... Vemos PLD máximo nas três primeiras semanas de fevereiro e pode ser que na quarta semana a gente continue com PLD máximo também.

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Walfrido Ávila, presidente da comercializadora Trade Energy, concorda.

— Mesmo chovendo nas próximas semanas, qualquer que seja a previsão, os reservatórios estão muito baixos. Precisamos que subam um pouco. Não vejo possibilidade de os preços mexerem muito. 

Os altos custos de energia de curto prazo prejudicam principalmente as distribuidoras de energia, que estão descontratadas em cerca de 3.500 MW e têm que arcar com gastos relacionados à exposição no curto prazo em momento de forte geração térmica.

Aos atuais níveis de preço, a expectativa é de que essas empresas tenham um dispêndio de cerca de R$ 1,5 bilhão por mês, o que pode significar R$ 18 bilhões no ano, afetando o caixa das companhias já que o governo federal ainda não definiu o repasse de recursos do Tesouro para ajudar essas companhias via CDE (Conta de Desenvolvimento Energético).

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