domingo, 9 de fevereiro de 2014

Dilma na berlinda




A falta de tato político da presidente Dilma está lhe valendo muitas críticas – vindas dos próprios petistas. / Joel Rodrigues/Estadão Conteúdo

Já não é segredo para ninguém o desgosto, o desconforto, do núcleo político duro do PT com a presidente Dilma Rousseff e, por tabela com o prefeito Fernando Haddad. O assunto já vazou até em almoços em que estavam presentes pessoas deste acampamento, embora sejam simpáticas do petismo e de confiança.


Por núcleo político duro do PT entenda-se o grupo que se forma em torno do ex-presidente Lula, nas franjas do Instituto Lula, e composto basicamente de petistas históricos. Não confundir com o núcleo político duro do Palácio do Planalto nem com o (ainda em formação) núcleo político duro da reeleição. Lula é a presença superior nesses dois últimos, como consultor e palavra decisiva no Palácio do Planalto e como principal mentor da reeleição.



 

A razão principal da queixa não é, propriamente, a respeito das políticas oficiais e da condução do governo, apesar de haver também restrições pontuais neste ponto. É por isso que, como já aconteceu em meados de 2013, voltaram a circular nos ares da capital da República insinuações para a substituição imediata do ministro da Fazenda Guido Mantega pelo ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

 

A ida de Meirelles para o posto teria, segundo seus defensores, duas vantagens: (1) daria um sinal para os agentes econômicos privados, empresários, mercado financeiro interno e externo de que as promessas de austeridade fiscal de Dilma dos últimos tempos vão ser cumpridas; (2) permitiria mudanças no rumo da política econômica, hoje criticada até por alguns economistas
conselheiros (ou que já o foram) da presidente.


 

É barulho que não deve render, mas há a fumaça, engrossada pela presença de Aloizio Mercadante na estratégica Casa Civil. Brasília inteira sabe que Mercadante estava no movimento pró-Meirelles de 2012. É óbvio que se teme que um reversão na economia prejudica governo e aliados na urna.


 

Contudo, a razão principal das criticas à presidente Dilma é mesmo a sua "total"(esta é a expressão usada em certas rodas) falta de tato político.  

Coisa que já era sabida há muito, que incomodava, porém não irritava tanto. Falta de tato no trato com os políticos, os partidos, os sindicatos, os movimentos sociais e o mundo empresarial e financeiro de um modo geral. Quando vieram os idos de junho passado, um pouco assustada e um pouco acuada, Dilma faz movimentos de aproximação, com todos esses parceiros e parecia ter tomado gosto (ou pelo menos se rendido à necessidade) pela coisa.

 

A prevalência de um ambiente de mal estar mais ou menos generalizado, aqui e lá fora, em diversas camadas, mostra que não funcionou para valer (se ele aconteceu mesmo ou foi apenas fachada) o abrandamento político da presidente. Os partidos estão de um modo geral insatisfeitos – o guloso PMDB mais do que todos – e a novela da reforma ministerial está cheia de ruídos perigosos para a campanha. Alguns movimentos sociais não escondem mais sua tristeza; o MST , por exemplo, precisou ser acalmado esta semana pelo PT.

 

Com os empresários não é diferente. De público – com raras exceções – elogiam, dão votos de confiança, todavia, na prática, preferem esperar para ver. O mercado financeiro e as bolsas, onde o dinheiro dá o seu recado, está uma montanha russa, mas com tendência a apontar movimentos mais para baixo que para cima.

 

Repetindo o que foi dito aqui em outro comentário, este pessoal está cada vez mais como São Tomé, com tinturas de São Francisco: quer ver para crer e só entrega depois de receber (no caso, sinais confiáveis de uma política fiscal mais austera e mais segura).

 

Lula, nosso animal político mais brilhante, sabe que um clima desses, mesmo que não aconteça nenhum desastre, não é o melhor para quem vai disputar uma reeleição. A questão é como mudar, e em prazo curto, uma personalidade forte como a da presidente.

 
José Márcio Mendonça é jornalista e analista político 

Diario do Commércio

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