domingo, 9 de fevereiro de 2014

Avião contratado pela Sabesp para induzir chuva não funciona, mas os contratos da Sabesp com a empresa têm valor médio de R$ 1,5 milhão por contratação,



Empresa Modclima é contratada pela Sabesp desde 2003 para tentar fazer chuva durante períodos de seca, mas falta de umidade no ar inviabiliza processo. Professora afirma que tentativa é incompreensível

por Diego Sartorato, da RBA publicado 08/02/2014 10:40 
 


Luciano Claudino/Frame/Folhapress

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Com o nível mais baixo em dez anos, Sistema Cantareira desperta temor de racionamento generalizado


São Paulo – Iniciada esta semana, a operação contratada pela Sabesp, estatal de abastecimento e saneamento paulista, para tentar induzir chuvas sobre o reservatório Cantareira é vista como inútil por quem acompanha o setor. 

O processo, chamado de "semeadura de nuvens", é feito pela empresa Modclima e consiste em pulverizar partículas de água entre as nuvens para causar um efeito "bola de neve": somadas à umidade das próprias nuvens, as partículas se transformariam em gotas pesadas demais para flutuar na atmosfera, causando precipitação. Poderia ser uma solução criativa para um quadro emergencial, já que o sistema conta com apenas 22% de sua capacidade total neste verão seco e quente, não fosse o fato de que, com as condições de clima e de infraestrutura atuais, a técnica não funciona.



"Teoricamente, a técnica funciona, mas há condições. Em primeiro lugar, você precisa ter umidade no ar para poder desencadear esse processo, e estamos em período de seca", explica a professora Maria Assunção da Silva Dias, do Instituto de Ciências Atmosféricas da USP. 

"Além disso, você precisa atingir um grande número de nuvens em um curto espaço de tempo para criar uma chuva suficiente para abastecer um reservatório de água. Não adianta chover em um único ponto, tem de chover muito sobre uma área muito grande da superfície do reservatório", completa. Segundo a professora, mesmo que essas condições fossem atendidas, não existem estudos científicos que comprovem o sucesso da técnica.



"Não entendo com base em qual indicador o governo estadual mantém esses contratos, já que os resultados não podem ser medidos. Toda época de seca eles voltam com os aviões, e os resultados nunca são perceptíveis", comenta Maria Assunção. "A logística para fazer essa teoria funcionar é muito complicada. Existe um momento exato para atingir a nuvem e causar a condensação de gotas, e, se o processo de evaporação já tiver começado, não funciona."



O Sistema Cantareira é um dos maiores do mundo, com área de drenagem de 2.307 km², mas, de acordo com reportagem da TV Cultura de 2009, apenas uma aeronave prestava o serviço de indução de chuva ao governo estadual naquele ano. 

 Sabesp e Modclima foram procuradas pela RBA para confirmar os valores do contrato, a quantidade de aeronaves que prestam serviço atualmente e os resultados obtidos por meio da prática, mas não ofereceram respostas.  

Registros no Diário Oficial do Estado, porém, dão conta de que os contratos da Sabesp com a empresa têm valor médio de R$ 1,5 milhão por contratação, sempre feita sem licitação por se tratar da única prestadora de serviço na área.

1 Comentário:
 

Na Ucrânia, durante o campeonato de futebol Euro 2012, a técnica de bombardeamento de nuvens foi usada para dispersá-las e evitar precipitação durante os jogos. Não sei se deu certo, mas, pelo menos lá estava mais fácil porque o céu estava carregado de nuvens cinzentas. 

Usar a técnica no Brasil, com este céu de brigadeiro, fala sério: é puro folclore tucano. 

Precisamos de uma política de longo prazo para prevenir escassez de água. Não faço ideia de como deve ser isso. Imagino que precisamos cuidar melhor das nascentes de água. Moro perto da Água Branca. Esta região era evitada pelas construtoras. Agora, com nova tecnologia, conseguem retirar a água do subsolo, com bombeamento, enquanto constroem as colunas do prédio. Imagino que estamos destruindo nascentes. Na zona rural de muitos municípios, também, nascentes são canalizadas para uso de residências, etc.

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