Empresa Modclima é contratada pela
Sabesp desde 2003 para tentar fazer chuva durante períodos de seca, mas
falta de umidade no ar inviabiliza processo. Professora afirma que
tentativa é incompreensível
Luciano Claudino/Frame/Folhapress
São Paulo – Iniciada esta semana, a
operação contratada pela Sabesp, estatal de abastecimento e saneamento
paulista, para tentar induzir chuvas sobre o reservatório Cantareira é
vista como inútil por quem acompanha o setor.
O processo, chamado de
"semeadura de nuvens", é feito pela empresa Modclima e consiste em
pulverizar partículas de água entre as nuvens para causar um efeito
"bola de neve": somadas à umidade das próprias nuvens, as partículas se
transformariam em gotas pesadas demais para flutuar na atmosfera,
causando precipitação. Poderia ser uma solução criativa para um quadro
emergencial, já que o sistema conta com apenas 22% de sua capacidade
total neste verão seco e quente, não fosse o fato de que, com as
condições de clima e de infraestrutura atuais, a técnica não funciona.
"Teoricamente, a técnica funciona, mas há condições.
Em primeiro lugar, você precisa ter umidade no ar para poder desencadear
esse processo, e estamos em período de seca", explica a professora
Maria Assunção da Silva Dias, do Instituto de Ciências Atmosféricas da
USP.
"Além disso, você precisa atingir um grande número de nuvens em um
curto espaço de tempo para criar uma chuva suficiente para abastecer um
reservatório de água. Não adianta chover em um único ponto, tem de
chover muito sobre uma área muito grande da superfície do reservatório",
completa. Segundo a professora, mesmo que essas condições fossem
atendidas, não existem estudos científicos que comprovem o sucesso da
técnica.
"Não entendo com base em qual indicador o governo
estadual mantém esses contratos, já que os resultados não podem ser
medidos. Toda época de seca eles voltam com os aviões, e os resultados
nunca são perceptíveis", comenta Maria Assunção. "A logística para fazer
essa teoria funcionar é muito complicada. Existe um momento exato para
atingir a nuvem e causar a condensação de gotas, e, se o processo de
evaporação já tiver começado, não funciona."
O Sistema Cantareira é um dos maiores do mundo, com área de drenagem de 2.307 km², mas, de acordo com reportagem da TV Cultura de 2009, apenas uma aeronave prestava o serviço de indução de chuva ao governo estadual naquele ano.
Sabesp e Modclima foram procuradas pela RBA
para confirmar os valores do contrato, a quantidade de aeronaves que
prestam serviço atualmente e os resultados obtidos por meio da prática,
mas não ofereceram respostas.
Registros no Diário Oficial do Estado,
porém, dão conta de que os contratos da Sabesp com a empresa têm valor
médio de R$ 1,5 milhão por contratação, sempre feita sem licitação por
se tratar da única prestadora de serviço na área.
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