05/04/2014
às 6:50
Como
lembra a “Carta ao Leitor” da edição de VEJA desta semana, costuma haver
uma relação diretamente proporcional entre o ódio à liberdade de
imprensa e o apreço pela lambança. Ou por outra: os que têm muito a
esconder costumam ser os mais entusiasmados com a censura.
E não seria
diferente com o deputado André Vargas (PT-PR), ex-secretário nacional de
Comunicação do PT, entusiasta do “controle social da mídia” (que é a
expressão a que recorrem vigaristas para designar a censura), membro da
tropa de choque que saiu em defesa dos mensaleiros e, por um bom tempo,
chefe político da rede do subjornalismo delinquente que chama a si
mesma, num rasgo de sinceridade, de “blogs sujos”. Pois é… O meteórico
André Vargas meteu os pés pelos pés e foi flagrado pela Polícia Federal
prestando serviços àquele que pode ser chamado, sem favor, de seu sócio:
o doleiro Alberto Youssef, preso na operação Lava-Jato.
O plano era
encher o bolso de dinheiro, fazer a “independência financeira” às custas
dos cofres públicos. Reportagem na edição de VEJA desta semana põe um
ponto final na questão e, tudo indica, na meteórica carreira de Vargas.
Parece que a questão agora é saber se ele renuncia já ou espera a
cassação do mandato. Como se sabe, não existe mais voto secreto para
proteger gente da sua estirpe.
Amigão de
Youssef e “homem muito influente no PT”, Vargas era, nas hostes do
governismo, como posso adequar o adjetivo à sua prática?, um fuçador de
oportunidades de negócio para o doleiro, que sabia ser grato. Como
informou a Folha, alugou um jatinho para levar o deputado e a família em
viagem de férias à Paraíba. Custo do mimo: R$ 100 mil. O deputado
folgazão definiu o agrado como “coisa de irmão”. Nem diga!
“Empresário”
de múltiplos talentos, Youssef é dono de uma “empresa” de nome
imponente: “Labogen Química Fina e Biotecnologia”. É um troço que existe
no papel, não na vida real. Nem mesmo chega a ter planta industrial.
Seu feito mais notável, até agora, segundo a Polícia Federal, é ter
enviado para o exterior, de forma irregular, US$ 37 milhões.
Muito bem!
Vargas, o parceirão de Yousseff, detectou no Ministério da Saúde, então
sob o comando de Alexandre Padilha — agora candidato ao governo de São
Paulo pelo PT —, a chance de um contrato milionário para fornecimento de
remédio, coisa, assim, de R$ 150 milhões.
Mas como é que a Labogen, uma
biboca com capital social de R$ 28 mil e folha de pagamentos de R$ 30
mil, poderia se candidatar a tamanha grandeza? É para isso que servem os
amigos. É nesse ponto que entrou André Vargas — leiam a reportagem da
revista.
A síntese é
a seguinte: a Labogen, mera empresa de fachada, conseguiu se associar à
EMS, uma gigante na produção de genéricos, o que lhe conferiria um ar
de seriedade, e pronto! Tudo resolvido. O diálogo captado pela Polícia
Federal entre Vargas e Youssef não deixa a menor dúvida. O deputado
petista relata a Youssef sua conversa com Pedro Argese, da Labogen e
ouve um prognóstico do interlocutor:
VARGAS – Estamos mais
fortes agora. Vi documento com o Pedro. Ele estava no voo de volta de
Brasília. Ele estava com o documento da parceria com a EMS.
YOUSSEF – Cara, estou
trabalhando. Fique tranquilo. Acredite em mim. Você vai ver quanto isso
vai valer. Tua independência financeira e nossa também, é claro!
É claro!
Eis aí.
Esse é o doleiro “irmão”, cujas atividades ilícitas Vargas dizia
desconhecer. Da parceria estimada em R$ 150 milhões, uma já estava em
curso, de R$ 31 milhões — suspensa pelo Ministério da Saúde quando o
escândalo veio à tona: a de fornecimento de citrato de sildenafila, a
substância ativa do Viagra, que é o remédio oficialmente empregado pelo
sistema público de saúde para o tratamento de uma doença grave: a
hipertensão pulmonar. Esse contrato contou com a ajuda do secretário de
Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Calos
Augusto Gadhelha — a quem Vargas se refere, carinhosamente, num
telefonema, como “Gadha”. Padilha, pessoalmente, assinou o contrato.
Leiam a
reportagem. A coisa vai longe. Youssef está preso, como sabem. O
deputados está tentando se virar. Já mandou um emissário ao doleiro
afirmando que, se ele, Vargas, cair, gente mais graúda vai junto, “gente
de cima”. Huuummm… Quem estaria acima de Vargas nessa operação? Eis uma
boa questão. E por que Youssef deveria temer essa “gente de cima”?
Temer o quê?
Vargas não
é o único interlocutor de Youssef no PT. Há outros, como o deputado
Vicente Cândido (SP). Vocês já o conhecem. É aquele senhor que ofereceu “honorários“ para um conselheiro da Anatel livrar a Oi de uma multa bilionária. Disse, então, que falava em nome de Lula. Tudo gente fina.
Segunda-feira
é bom dia para André Vargas pegar o boné e ir pra casa, refletir sobre
os males da liberdade de imprensa. Afinal, até onde se sabe, ele já tem
garantida a “independência financeira”. Leiam a reportagem na edição
impressa na revista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário