domingo, 6 de julho de 2014

Cientistas criticam influência política no relatório de mudanças climáticas


O tema, contudo, divide opiniões entre os próprios especialistas


Publicação: 05/07/2014 06:00 Correio Braziliense

Fábrica de aço na China: nas últimas décadas, nações emergentes entraram na lista de grandes poluidores
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O resumo do relatório do Grupo de Trabalho 3, um dos que compreendem a tríade de equipes responsável pelo Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, foi divulgado na Alemanha em abril passado com um alerta: há necessidade urgente de implementar fontes renováveis de energia para desacelerar o aquecimento global. 
 
 
Embora o documento técnico tenha sido aceito por todos os integrantes do painel da Organização das Nações Unidas (ONU), a falta de consenso entre cientistas e diplomatas resultou na retirada de algumas informações, consideradas prejudiciais pelos representantes dos países de economia emergente. Três artigos publicados na edição desta semana da revista Science discutem a extensão da influência política nos documentos do grupo internacional.

Ottmar Edenhofer explica que as informações cortadas foram somente as elaboradas pelo terceiro grupo, do qual é copresidente. Basicamente, a equipe pesquisa e avalia as políticas para mitigar as alterações climáticas, o que tem forte impacto nas negociações entre as nações. “Os delegados dos países não chegaram a um consenso científico nos aspectos que apontam diretamente para seus interesses no processo de negociações, e isso é legítimo”, argumenta.



Uma corrente de cientistas que integram o painel, entretanto, afirma na Science que os interesses políticos estão se sobrepondo ao conteúdo científico. Um deles é David G. Victor, pesquisador da Universidade da Califórnia e um dos integrantes do Grupo de Trabalho 3. 
 
 
Ele defende a necessidade de uma reforma urgente no IPCC, devido, segundo ele, à excessiva intromissão da política na elaboração do sumário, que talvez seja o documento mais importante para orientar os planos de ação de cada país. “O sistema exige que, essencialmente, todos os governos concordem (com o conteúdo), o que é altamente improvável. Por isso, acredito que as reformas mais importantes acontecerão fora do âmbito do IPCC, com o desenvolvimento de documentos que não necessitam da aprovação de todos os países”, afirma o especialista.

O tema, contudo, está longe do consenso. Outros integrantes do IPCC, como o brasileiro Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), descartam que exista uma intromissão maléfica da política. Isso porque, entre todo o conteúdo elaborado, apenas um documento, o Sumário para os formuladores de políticas, que sintetiza as informações levantadas pelos cientistas, é discutido com os representantes governamentais.
 
 
 “Como o IPCC é um organismo intergovernamental, como seu próprio nome indica, essas recomendações são submetidas à apreciação dos governos, e isso é legítimo e não afeta em nada o conteúdo científico dos relatórios”, assegura Artaxo, membro do Grupo de Trabalho 1, que trata das bases físicas do sistema climático terrestre (leia também Três perguntas para).

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