domingo, 6 de julho de 2014

Com seca, cidade submersa ressurge em Mogi das Cruzes



 
A estiagem está fazendo ressurgir em Mogi das Cruzes (Grande SP) ruínas que estavam submersas há mais de duas décadas, desde a criação da represa do rio Jundiaí. 

Conforme vai baixando o nível do reservatório no distrito de Taiaçupeba, parte do sistema Alto Tietê, surgem novas formas, como paredes, escadas, piscinas e até estradas. Uma cidade fantasma, até então debaixo d'água, vai sendo revelada.

O volume armazenado no sistema Alto Tietê, que abastece parte da zona leste da capital, caiu de 46% em janeiro para 25% em julho, segundo a Sabesp. A queda do nível da água virou assunto de quem costuma pescar no local. 

"É a primeira vez que vejo ficar tão seco. Vão aparecendo coisas do nada", diz o comerciante Admar Watanabe, 63. "Olha essa piscina, agora virou um criadouro gigante para mosquito da dengue". 

"Só não aparece tesouro aqui", diz o aposentado Roque Sá Barreto, 66, que conta pescar na represa "dia sim, outro também". 

Barreto acomoda a cadeira de pesca na beirada da antiga piscina, onde um dia banhistas tomavam sol. A área também serve de estacionamento para carros. 

Os mais antigos frequentadores ainda lembram da paisagem do local na década de 1980, quando, segundo eles, as casas ainda não haviam sido desapropriadas para a criação do reservatório. 

"Eram várias casas bonitas", conta a aposentada Dulce Maria de Oliveira, 74. "Isso aqui era um palácio", concorda a amiga dela, a pensionista Cristina Máximo, 69.


Além das antigas construções, começaram aparecer por ali grandes moluscos, que Cristina coleciona. "Não sei o que é, vêm com essa lesma dentro. Vou levar para casa e envernizar", diz. 

Em vários trechos, é possível ver pistas emergindo do meio do reservatório. Os pescadores contam que se trata da antiga estrada Mogi-Taiaçupeba, que cortava a região. 

JARDIM CHINÊS
 
Moradores da beira da represa, o vigia Armando Melhado, 64, e sua mulher, Selma Melhado, 66, voltaram a fazer algo que não faziam há muito tempo: comprar peixes no supermercado. 

Como o barco não passa do lodo que se formou ao redor da casa, a rede que ele e a mulher usavam para pescar permanece seca. Os carás, traíras, tilápias e lambaris que costumavam pegar agora só podem ser vistos no álbum de fotografias, que Melhado traz para mostrar à reportagem. 

"Pescar era nosso maior prazer. Esse freezer vivia lotado", diz Selma, abrindo porta do eletrodoméstico, onde há apenas salsicha e outros congelados. 

Perto da barragem do rio Jundiaí, várias ilhas de tijolos começaram a aparecer no meio da água. 

"Aqui era a casa de um chinês, conhecido como 'professor'. Ele tinha um tanque de carpas ali", diz o ajudante geral Nelson Ferraz de Oliveira, 60, apontando para uma das ilhas. "E lá do outro lado tinha um jardim oriental". 

Oliveira conta que a casa do "professor" é alvo de curiosos, que buscam por ali peças com inscrições em chinês. "Um monte de gente procurou, mas ninguém achou", diz.


Além das casas do passado, a diminuição do volume da água faz aparecer no horizonte da população local outra palavra: racionamento. 

"Olha como está isso. A água ia até aquele canto ali", diz o pescador Antonio Barbosa, apontando para o que hoje é um monte de terra. "Dizem que logo logo vai começar a faltar água na torneira também", lamenta. 

Um comentário:

Betinha disse...

o homem cria,em cima do que a natureza deu:
ai não sabe cuidar ela toma .pobre humanidade.