FOLHA
"Marina tinha algumas ideias mas a gente acredita que, com o passar dos anos, ela pode ter mudado". Foi assim que Rosangela Lyra, 49 anos, presidente da Associação de Lojistas dos Jardins, bairro nobre da capital paulista, justificou o encontro que organizou nesta terça-feira (9), em São Paulo, entre integrantes da elite paulistana e parte da equipe de Marina Silva (PSB), candidata à Presidência da República.
Vestindo camiseta com a bandeira do Brasil bordada com miçangas, blazer verde bandeira, calça preta e scarpins verde limão –"tudo marca brasileira"–, a ex-diretora da Dior no Brasil e sogra do jogador Kaká pediu para que todos os presentes cantassem o Hino Nacional antes que o debate fosse iniciado. "Honrar a bandeira não é só na época da Copa, né Walter?".
No telão, a letra do hino era exibida com imagens de praias, montanhas e do Cristo Redentor.
Diante de uma plateia de cerca de 70 pessoas, o coordenador-geral da campanha pessebista, Walter Feldman, afirmou que caso Marina seja eleita em outubro, o PSDB, partido do tucano Aécio Neves, "talvez não sobreviva" ao modelo de governabilidade que a candidata vai inaugurar no país.
"Se Marina for eleita, muda tudo. Os partidos vão se reestruturar. O PSDB não sei se sobrevive. O PSDB, se perder as eleições, vai haver uma debandada...", afirmou Feldman.
Ao lado de Bazileu Margarido, coordenador financeiro da campanha, e de Lucas Brandão, representante jovem da candidatura de Marina, Feldman tentava tranquilizar as pessoas que se diziam inquietas com o conceito de "democracia de alta intensidade", que aparece no programa de governo do PSB. Segundo ele, os "conselhos populares" propostos pela presidente Dilma Rousseff (PT) não são defendidos por Marina.
"Os conselhos populares não representam o que a gente pensa. Queremos o acompanhamento dos meios de controle para evitar desvios, e isso já existe hoje, na prática. Vamos dar vida aos conselhos municipais, estaduais e nacionais de educação e saúde, por exemplo, e não permitir que eles sejam aparelhados".
As pessoas cochichavam em negativa e Feldman pediu novamente a palavra. "Vejo que vocês estão nervosos com isso. Temos que tomar cuidado para não remeter aos sovietes ou a organizações de esquerda. Estamos falando do que já existe".
A explicação não convenceu. Bazileu tentou mais uma vez: "Não existe no nosso programa a expressão 'conselhos populares', denominamos de 'conselhos de participação da sociedade'. É uma questão semântica". Também não agradou e provocou risos na plateia.
"Esse cara é muito chato, prolixo, não responde nada objetivamente", dizia uma convidada no fundo do auditório.
A advogada Adriana Hellering, 27, sentenciou: "O que me assusta em ter uma participação popular ativa é que a maioria às vezes é burra. E também acho que tem uma forma de manipular já que o próprio governante é quem vai escolher esses representantes".
Em mais uma deferência ao perfil dos ouvintes, predominantemente simpatizantes ao PSDB, Bazileu destacou a "boa relação" de Marina com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e, entre as críticas que fez à gestão econômica do governo Dilma, disse que a candidata do PSB "defende mais o tripé macroeconômico" do que José Serra, nome dos tucanos ao Senado em São Paulo.
Entre as perguntas que a equipe precisou responder, agronegócio, aborto, casamento gay, Mercosul, Mais Médicos e o estatuto do PSB, datado de 1947, que limita a propriedade privada. "Isso é comunismo", assustou-se Rosangela.
Feldman afirmou que o PSB apenas "abriga" Marina, que deve fundar a Rede Sustentabilidade em 2015, e que essa é uma "questão histórica do partido".
Sobre Mais Médicos, programa que a candidata diz que manterá caso seja eleita, o deputado licenciado afirmou: "É uma falácia eleitoral, um absurdo. O Brasil precisa de mais médicos, mas não é do jeito que o PT fez. Precisamos de mais médicos mas não pode ser através dos cubanos".
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