A média de crescimento anual do Brasil foi sempre inferior
àquela obtida pela América Latina e pelos emergentes
Quais são os países latino-americanos que têm o menor número
de pobres?
Chile e Uruguai, ambos com 3% da população abaixo da linha
da pobreza, em 2012, segundo os respeitados critérios de um trabalho conjunto
do Banco Mundial e de uma instituição da Universidade de La Plata, o Centro de
Estudios Distributivos Laborales y Sociales (Cedlas).
Pelo mesmo estudo, analisado em um oportuno texto dos
economistas Ilan Goldfajn e Gino Olivares, do setor de análises econômicas do
Itaú, o Brasil tinha naquele ano 10% da população abaixo da linha da pobreza,
cerca de 20 milhões de pessoas.
E qual foi o país que mais reduziu a pobreza nesta região,
no período de 2002 a 2012?
Peru: a população abaixo da linha de pobreza caiu de 30%
para 11% nesses dez anos, uma queda de 19 pontos. Melhor dizendo: 5,7 milhões
de peruanos escaparam da pobreza extrema.
No caso do Brasil, mesmo período, também houve queda
expressiva da população mais pobre, de 16 pontos.
Olhando pelo outro lado — a parte da riqueza nacional que é
apropriada pelos mais ricos — o país com melhor distribuição de renda é o
Uruguai.
Lá, em 2012, os 10% mais ricos ficaram com 30% da renda gerada no país.
Lá, em 2012, os 10% mais ricos ficaram com 30% da renda gerada no país.
De novo aqui, o Peru foi a nação que obteve os melhores
resultados. A participação dos 10% mais ricos caiu de 43% para 34% da
população.
No Brasil, mesmo período, a distribuição também melhorou,
mas em ritmo menor. Os 10% mais ricos tinham 46% da riqueza da população em
2002, e 42% dez anos depois.
Para não aborrecer o leitor com mais dados (todos podem ser
encontrados em itau.com.br/itaubba-pt/analises-economicas/publicacoes), vamos
logo para as conclusões: a distribuição de renda na América Latina melhorou de
maneira generalizada nas últimas duas décadas, e mais acentuadamente na última.
Logo, se o fato é geral, devem existir causas comuns. O que
houve de comum para esses países do fim dos anos 90 para cá?
Primeiro, a estabilização macroeconômica — não apenas a
derrubada e controle da inflação em níveis baixos, mas também o controle das
contas públicas, aberturas comerciais e para investimentos estrangeiros, em
resumo, tudo que compõe o cardápio clássico (o famoso tripé: metas de inflação,
superávits primários e câmbio flutuante).
Depois, toda a região foi beneficiada pelo espantoso
crescimento da China, que se tornou neste século a principal parceira comercial
da América Latina. Todos os países que tinham alimentos, minérios e petróleo
para exportar ganharam muitos dólares, com os quais puderam construir reservas
sólidas. Com seu tamanho, a China puxou um forte crescimento econômico dos
emergentes, que coincidiu, até 2008, com a boa expansão dos desenvolvidos.
Um excelente cenário global.
Um excelente cenário global.
Considerem o Brasil. No ano de 2000, exportou apenas um
bilhão de dólares para a China. Dez anos depois, vendia cerca de US$ 45
bilhões. As exportações totais saíram da média anual de US$ 60 bilhões para os
245 bilhões.
Esse forte setor exportador gerou riqueza e desenvolvimento
interno, com, entre outros efeitos, ganhos de arrecadação para os governos.
Estes puderam, assim, gastar mais, especialmente nos programas sociais e na
elevação do salário-mínimo em muitos lugares (as políticas de transferência de renda,
também generalizadas na região).
Acrescente-se aí a queda do desemprego, efeito do
crescimento, e se terá toda a história. Quer dizer, quase toda a história, pois
cada país aproveitou de seu modo a onda global.
O Brasil aproveitou bem ou mal?
Para ficar nos anos 2000: em todo o período, a média de
crescimento anual do Brasil foi sempre inferior àquela obtida pela América
Latina e pelos emergentes. E, considerando os últimos dez anos, pegando
portanto a crise de 2008/09, que derrubou os desenvolvidos, a média brasileira,
pouco mais de 3% ao ano, ficou abaixo da média mundial, perto de 4%.
E por que estamos falando disto?
Porque este debate está no centro das eleições. E há
conclusões a tirar: distribuição de renda depende, sim, de crescimento econômico;
o Brasil não tirou melhores proveitos da situação mundial favorável por erros
internos, tais como a falta de acordos de livre comércio com países
desenvolvidos; mais recentemente, o Brasil, com inflação alta e crescimento
baixo, descolou claramente dos ponteiros da América Latina, que crescem mais,
com menos inflação e juros menores.
O Brasil está melhor que Venezuela e Argentina, o que não é
grande vantagem.
E se outros — Peru, Colômbia e Chile, para ficar aqui ao
lado — fazem melhor na mesma circunstância, isso significa que o problema
brasileiro é interno. Esse atraso se vai pagar no futuro.
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