?G0ys? trocam carícias com outros homens, mas rejeitam contato sexual
Ludmila Rocha
ludmila.rocha@jornaldebrasilia.com.br
Eles idolatram a masculinidade e se relacionam com pessoas do mesmo sexo, a quem chamam carinhosamente de “brothers”. Gays? Não. G0ys (ou gØy, g-zero ou g-y). A substituição do “a” pelo zero é proposital, mas não visa negar tudo o que pertence ao universo gay, apenas a prática do sexo “a”nal. A interação com outros homens se restringe a amassos e “brincadeiras”, como dizem. Apesar de dividir opiniões, o grupo tem atraído adeptos e alguns de seus militantes mais ativos vivem em Brasília.
A filosofia G0y surgiu nos Estados Unidos em meados de 2000, mas só se popularizou no Brasil em abril deste ano, após uma série de reportagens sobre o tema.
Dos sites de notícias, o assunto migrou para as redes sociais, onde passou a ser apoiado por uns e contestado por outros. Do mix de reações surgiram grupos fechados, comunidades, sites e blogs especializados.
O maior grupo de g0ys do Facebook, que tinha apenas 700 integrantes em maio, já tem mais de três mil seguidores atualmente.
Bandeira
A aceitação e inserção brasileira no universo g0y é tamanha, que até a bandeira usada mundialmente pelo movimento foi concebida por um brasileiro. Joseph Campestri, um paraense que mora em Brasília, foi o responsável pela confecção do desenho da flâmula, usado em países como Argentina, França e África. Apenas nos EUA, onde o movimento mantém a obrigatoriedade de ser heterossexual e manter a identidade g0y em sigilo, a bandeira utilizada é diferente.
Apesar de ter sido iniciado por heterossexuais, dentro do movimento brasileiro a orientação sexual é irrelevante e os membros costumam reconhecer-se como g0ys independentemente de se considerarem heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. “Não pertencemos a um grupo, é a identificação com as preferências que nos une”, afirmam.
O servidor público Master Fratman (como é conhecido no meio), 38, se considerava bissexual até conhecer a filosofia zero gay – como também pode ser lida a palavra g0y. O baiano, que vive em Brasília há mais de 20 anos, diz que se identificou imediatamente com a doutrina.
“As principais características de um g0y são ter uma postura masculina, se relacionar homoafetivamente, mas praticar sexo só com mulheres. Esse é o divisor de águas entre gay e o g0y”, explica.
Mais movimento
Brasília, Salvador e Rio de Janeiro são os locais em que o movimento g0y tem mais força no Brasil. Além das inúmeras comunidades nas redes sociais, existem também sites especializados no assunto, como o americano Goys.org e os brasileiros Hetero gØy e SomosGOys. Nesses domínios, é possível encontrar um pouco da história e filosofia dos g0ys, perguntas e respostas sobre o tema e tutoriais que ajudam o homem indeciso ou inseguro a identificar se é ou não um g0y.
Limites para a intimidade
Segundo Master, que hoje também é um dos colunistas do blog Hetero G0y, já existe até um termo para designar pessoas adeptas deste conceito, a “gouinage”. “Existem diversos motivos para negar o sexo anal. Uns acreditam que é biologicamente incorreto, outros consideram anti-higiênico, há quem se apegue a religião ou simplesmente não goste. Cada um tem os seus argumentos”, diz.
Fratman conta que seus amigos e alguns colegas de trabalho sabem de sua opção sexual, condição que continua em sigilo para sua família. “Me sinto mais a vontade para falar sobre minha sexualidade hoje. Por incrível que pareça, os heterossexuais e as mulheres costumam aceitar o conceito g0y muito melhor do que os gays, que muitas vezes são preconceituosos”, alega.
Desde 2011, quando tomou conhecimento da filosofia g0y, Fratman garante que só se relaciona sexualmente com mulheres. “Uma das minhas parceiras soube e reagiu bem. Ficou curiosa, não conhecia a filosofia, mas aceitou”, conta.
Esposa aceita decisão, mas com restrições
Claudio Lapaz, de 28 anos, é autor do blog SomosG0ys. Ele mora no interior de Minas Gerais, em uma cidade pequena, e, por esse motivo, prefere manter sua verdadeira identidade em sigilo. Ele vive uma situação no mínimo peculiar. É casado há três anos, mas no último ano se definiu como g0y.
“Sempre fui hétero, mas nunca tive repulsa a abraços prolongados ou qualquer demonstração de carinho entre homens. Não tinha o desejo de experimentar contatos sexuais. A filosofia g0y me abriu a possibilidade de interagir intimamente com outro homem sabendo que respeitará os meus limites”, acredita.
Relação
Ao contrário do que se poderia imaginar, Lapaz afirma que seguir a doutrina g0y só melhorou a relação com sua parceira. “A revelação foi de forma natural e sem traumas. Estávamos assistindo a um filme adulto e durante uma conversa declarei que se fosse para ter somente contato físico, sem sexo, com outro homem, não via nada demais. Ela riu muito e semanas depois voltou no assunto,
afirmando que se eu fizesse sozinho, sem a participação dela, não teria problema”, afirmou.
“Após me assumir minha relação melhorou. Antes, eu tratava minha esposa como mulher, agora a trato como companheira”, disse.
Ele frisa que apenas a esposa sabe de sua condição. “Não sinto necessidade de expor isso para o resto do mundo. Não quero ser respeitado porque sou g0y, quero ser respeitado porque sou um ser humano e mereço dignidade”, relata.
Ponto de vista
Para Flávio Brebis, ativista de direitos humanos, não existem apenas duas sexualidades possíveis (homo ou heterossexual). “Isso é resultado de um avanço na aceitação e liberdade proporcionadas pela sociedade moderna. As pessoas têm o direito de se expressar como se sentirem melhor e isso é maravilhoso. É preciso aceitar que em si tratando de sexualidade existem várias vertentes e os g0ys são mais uma. Conheço casais heteros e homossexuais que não se relacionam mais intimamente.
O ato sexual em si não é indispensável e uma necessidade para todos. Há outros aspectos bem mais significativos envolvidos, como carinho, amizade e companheirismo”.
ludmila.rocha@jornaldebrasilia.com.br
Eles idolatram a masculinidade e se relacionam com pessoas do mesmo sexo, a quem chamam carinhosamente de “brothers”. Gays? Não. G0ys (ou gØy, g-zero ou g-y). A substituição do “a” pelo zero é proposital, mas não visa negar tudo o que pertence ao universo gay, apenas a prática do sexo “a”nal. A interação com outros homens se restringe a amassos e “brincadeiras”, como dizem. Apesar de dividir opiniões, o grupo tem atraído adeptos e alguns de seus militantes mais ativos vivem em Brasília.
A filosofia G0y surgiu nos Estados Unidos em meados de 2000, mas só se popularizou no Brasil em abril deste ano, após uma série de reportagens sobre o tema.
Dos sites de notícias, o assunto migrou para as redes sociais, onde passou a ser apoiado por uns e contestado por outros. Do mix de reações surgiram grupos fechados, comunidades, sites e blogs especializados.
O maior grupo de g0ys do Facebook, que tinha apenas 700 integrantes em maio, já tem mais de três mil seguidores atualmente.
Bandeira
A aceitação e inserção brasileira no universo g0y é tamanha, que até a bandeira usada mundialmente pelo movimento foi concebida por um brasileiro. Joseph Campestri, um paraense que mora em Brasília, foi o responsável pela confecção do desenho da flâmula, usado em países como Argentina, França e África. Apenas nos EUA, onde o movimento mantém a obrigatoriedade de ser heterossexual e manter a identidade g0y em sigilo, a bandeira utilizada é diferente.
Apesar de ter sido iniciado por heterossexuais, dentro do movimento brasileiro a orientação sexual é irrelevante e os membros costumam reconhecer-se como g0ys independentemente de se considerarem heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. “Não pertencemos a um grupo, é a identificação com as preferências que nos une”, afirmam.
O servidor público Master Fratman (como é conhecido no meio), 38, se considerava bissexual até conhecer a filosofia zero gay – como também pode ser lida a palavra g0y. O baiano, que vive em Brasília há mais de 20 anos, diz que se identificou imediatamente com a doutrina.
“As principais características de um g0y são ter uma postura masculina, se relacionar homoafetivamente, mas praticar sexo só com mulheres. Esse é o divisor de águas entre gay e o g0y”, explica.
Mais movimento
Brasília, Salvador e Rio de Janeiro são os locais em que o movimento g0y tem mais força no Brasil. Além das inúmeras comunidades nas redes sociais, existem também sites especializados no assunto, como o americano Goys.org e os brasileiros Hetero gØy e SomosGOys. Nesses domínios, é possível encontrar um pouco da história e filosofia dos g0ys, perguntas e respostas sobre o tema e tutoriais que ajudam o homem indeciso ou inseguro a identificar se é ou não um g0y.
Limites para a intimidade
Segundo Master, que hoje também é um dos colunistas do blog Hetero G0y, já existe até um termo para designar pessoas adeptas deste conceito, a “gouinage”. “Existem diversos motivos para negar o sexo anal. Uns acreditam que é biologicamente incorreto, outros consideram anti-higiênico, há quem se apegue a religião ou simplesmente não goste. Cada um tem os seus argumentos”, diz.
Fratman conta que seus amigos e alguns colegas de trabalho sabem de sua opção sexual, condição que continua em sigilo para sua família. “Me sinto mais a vontade para falar sobre minha sexualidade hoje. Por incrível que pareça, os heterossexuais e as mulheres costumam aceitar o conceito g0y muito melhor do que os gays, que muitas vezes são preconceituosos”, alega.
Desde 2011, quando tomou conhecimento da filosofia g0y, Fratman garante que só se relaciona sexualmente com mulheres. “Uma das minhas parceiras soube e reagiu bem. Ficou curiosa, não conhecia a filosofia, mas aceitou”, conta.
Esposa aceita decisão, mas com restrições
Claudio Lapaz, de 28 anos, é autor do blog SomosG0ys. Ele mora no interior de Minas Gerais, em uma cidade pequena, e, por esse motivo, prefere manter sua verdadeira identidade em sigilo. Ele vive uma situação no mínimo peculiar. É casado há três anos, mas no último ano se definiu como g0y.
“Sempre fui hétero, mas nunca tive repulsa a abraços prolongados ou qualquer demonstração de carinho entre homens. Não tinha o desejo de experimentar contatos sexuais. A filosofia g0y me abriu a possibilidade de interagir intimamente com outro homem sabendo que respeitará os meus limites”, acredita.
Relação
Ao contrário do que se poderia imaginar, Lapaz afirma que seguir a doutrina g0y só melhorou a relação com sua parceira. “A revelação foi de forma natural e sem traumas. Estávamos assistindo a um filme adulto e durante uma conversa declarei que se fosse para ter somente contato físico, sem sexo, com outro homem, não via nada demais. Ela riu muito e semanas depois voltou no assunto,
afirmando que se eu fizesse sozinho, sem a participação dela, não teria problema”, afirmou.
“Após me assumir minha relação melhorou. Antes, eu tratava minha esposa como mulher, agora a trato como companheira”, disse.
Ele frisa que apenas a esposa sabe de sua condição. “Não sinto necessidade de expor isso para o resto do mundo. Não quero ser respeitado porque sou g0y, quero ser respeitado porque sou um ser humano e mereço dignidade”, relata.
Ponto de vista
Para Flávio Brebis, ativista de direitos humanos, não existem apenas duas sexualidades possíveis (homo ou heterossexual). “Isso é resultado de um avanço na aceitação e liberdade proporcionadas pela sociedade moderna. As pessoas têm o direito de se expressar como se sentirem melhor e isso é maravilhoso. É preciso aceitar que em si tratando de sexualidade existem várias vertentes e os g0ys são mais uma. Conheço casais heteros e homossexuais que não se relacionam mais intimamente.
O ato sexual em si não é indispensável e uma necessidade para todos. Há outros aspectos bem mais significativos envolvidos, como carinho, amizade e companheirismo”.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
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