sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Cruzamento de pato com ...crocodilo??


France Presse 12/09/2014 06h00 - Atualizado em 12/09/2014 06h00

Novos fósseis revelam dinossauro que sabia nadar

Esqueleto descoberto no Marrocos tem adaptações para vida na água.
Capacidade de nadar Spinosaurus aegyptiacus é inédita para dinossauros.

Da France Presse
 Reconstrução digital do esqueleto do 'Spinosaurus aegyptiacus' (Foto: Tyler Keillor, Lauren Conroy e Erin Fitzgerald, Ibrahim et al./Science/AAAS) Reconstrução digital do esqueleto do 'Spinosaurus aegyptiacus'
 
Com um peso de até 20 toneladas, o Spinosaurus aegyptiacus era um dinossauro curioso: uma espécie de cruzamento entre pato e crocodilo que possuía traços anatômicos que sugerem uma adaptação ao meio aquático. A conclusão, que surgiu a partir de uma análise de fósseis descobertos no Marrocos, foi publicada na edição desta semana da revista "Science".

Esse dinossauro carnívoro, que viveu há 95 milhões de anos, tinha até 15 metros de comprimento e possuía vinte dentes afiados em uma boca longa e estreita, com a qual devorava peixes.

O Spinossaurus supera assim o tamanho do famoso Tyrannosaurus rex, que viveu na América do Norte milhões de anos mais tarde, segundo a equipe de cientistas que conduziu o estudo sobre os fósseis.

De acordo com a equipe internacional de pesquisadores, o Spinossaurus é um dos maiores dinossauros predadores conhecidos até hoje, superando em mais de três metros o maior exemplar do T. Rex já descoberto.

O fóssil do mais completo esqueleto de Spinossaurus mostra claramente que ele podia se mover em terra firme e na água, segundo Paul Sereno e Nizar Ibrahim, paleontólogos da Universidade de Chicago, principais responsáveis pela descoberta.

Ossos de partes do crânio, da coluna vertebral, da pélvis e das extremidades foram encontrados ao longo de vários anos em uma zona de sedimentos de água doce no Saara marroquino, sudeste do país.

Vida na água
  Paleontólogo Nizar Ibrahin e David Martill examinam um fragmento da espinha do Spinosaurus descoberto no Marrocos (Foto: Cristiano Dal Sasso/Divulgação) Paleontólogo Nizar Ibrahin e David Martill examinam um fragmento da espinha do Spinosaurus descoberto no Marrocos 
 
Esses ossos dão sinais claros de que o animal vivia ao menos parte de seu tempo na água, tornando-se assim o primeiro dinossauro conhecido capaz de nadar. Répteis marinhos como os plessiossauros e os mosassauros não era dinossauros, apesar de terem uma aparência semelhante, segundo os pesquisadores.

Entre as características inéditas para dinossauros, os pesquisadores destacaram a presença do nariz no alto da cabeça para evitar a entrada de água. Também mencionaram as patas dianteiras relativamente longas e grandes com membranas que permitiam que nadasse e também caminhasse por solos pantanosos.

O estudo também destaca uma grande densidade óssea nas extremidades, que teria permitido que esse dinossauro pudesse submergir em vez de apenas flutuar.

O anatomista J.G.M. Thewissen, da Universidade de Medicina de Ohio, ressaltou que essa densidade é semelhante à das primeiras baleias ou à dos hipopótamos modernos.

Na visão de Sereno, o Spinossaurus, com sua boca de crocodilo, seu pescoço longo e corpo estirado, devia parecer uma mistura de pato com crocodilo. Os especialistas observaram que este dinossauro devia ter muita dificuldade em terra firme para manter o equilíbrio durante muito tempo, por causa da anatomia de suas patas traseiras. Também possuía uma enorme crista nas costas, que se assemelha à vela de um barco.

Os primeiros ossos do Spinossaurus foram achados em 1912, no Egito, e foram descritos em 1915 pelo paleontólogo alemão Ernst Stromer von Reichenbach, que, no entanto, não conseguiu decifrar suas capacidades de adaptação à água.

Esses ossos, que se encontravam em Munique, foram destruídos pelos bombardeios na Segunda Guerra Mundial e foi necessário esperar quase um século para conseguir outro esqueleto, que teve suas primeiras peças achadas por um nômade, colecionador amador de fósseis no Marrocos.
As notas, desenhos e publicações de Stromer sobreviveram em uma casa de sua família na Baviera e permitiram fazer comparações com os ossos achados no Marrocos.

Os cientistas reconstruíram este esqueleto com os novos ossos e versões digitais das anotações de Stromer, e com a ajuda do exame de um ancestral do Spinossaurus, o Suchomimus, que era bastante diferente.

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