sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O que há de errado com o povo brasileiro? Mas será que há algo de errado com o povo?




andando
Rodrigo Constantino lançou um texto oportuníssimo a respeito do aumento das intenções de voto de Dilma Rousseff mesmo com o advento de tantas denúncias de corrupção. O título é “Que país é esse? Ou: O perigoso sonambulismo de um povo cúmplice da roubalheira”. Antes de saber qual minha divergência dialética e respeitosa, leia o texto dele:
Acordei sorumbático hoje. Um dos maiores escândalos de corrupção vem à tona por denúncias de um importante ex-diretor da Petrobras, a maior empresa do país, e pouco ou nada muda no quadro eleitoral? Paulo Roberto Costa não é um tucano, um jornalista da “imprensa golpista” ou um “neoliberal” que deseja prejudicar o PT. Era o homem de confiança do próprio governo, que Lula chamava de “Paulinho”.

O estrago econômico da passagem do PT pelo poder será enorme e levará tempo até ser totalmente sanado. Mas o estrago moral é o que mais me preocupa. Nunca antes na história deste país houve uma banalização do crime de tal monta. A percepção de que “todos fazem”, de que “todos são iguais” tomou conta do país. A própria propaganda enganosa do PT, somada ao esforço de muitos “jornalistas”, levou a esse quadro de passividade, negligência e sonambulismo.

Ninguém mais parece se importar com os escândalos. Estima-se em R$ 10 bilhões os desvios realizados por uma quadrilha dentro da estatal, debaixo das “barbas” da presidente, envolvendo vários nomes graúdos do governo, e nada? Dilma e Marina Silva estão empatadas no primeiro e no segundo turnos? Dilma, na verdade, teria subido dois pontos percentuais no segundo turno? Que país é esse?

Quando Lula foi reeleito em 2006, no auge do escândalo do mensalão, os sinais de cumplicidade do povo já eram claros. Mas a esperança é a última que morre. Tentamos racionalizar, pensando que a euforia causada pelo crescimento econômico ajudou a tapar o sol com a peneira. O eleitor médio, afinal, não teria como saber que a euforia era temporária e insustentável, produzida por estímulos artificiais e fatores exógenos.

Mas agora? Com a economia em recessão, a inflação machucando todas as famílias, e escândalos emergindo com velocidade maior do que nossa memória consegue preservar? Como podem ainda votar no PT? Como podem desejar a continuação… disso? É muito descaso com a ética e até com o próprio bolso. É ilógico demais. É irracional. E é extremamente indecente, imoral.

É preciso ser dito, sem rodeios: o PT não tem mais eleitores; tem cúmplices. E assusta constatar a grande quantidade de cúmplices, de gente que jogou na lata do lixo valores e princípios, que não está nem aí para a corrupção, para os “malfeitos”. Sim, há muita ignorância. Mas ela, por si só, não dá mais conta da explicação. E Dilma não tem o voto só dos miseráveis e ignorantes.

O eleitor do PT está claramente dando um atestado de que não liga para a roubalheira. Quer apenas ser sócio no butim. Como não ficar carrancudo e melancólico em um país desses?
Todo o espanto e desalento de Constantino é legítimo e justificável. As denúncias sobre o PT são escabrosas e é realmente assustador ver tudo ser percebido como “normal” por parte da população, que parece até “anestesiada”. Sem contar o fato de que a crise brasileira tem como culpado o próprio PT. O cenário nos parece demonstrar uma nação repleta de pessoas com problema de valores e princípios. Isso justificaria uma melancolia com o país.

Porém, vejo que ele está avaliando a questão por uma perspectiva bastante diferente da minha. E mais uma vez, proponho o uso da técnica “change of perspective” que já usei no passado (para defender o voto em Marina ao invés de Dilma).

Eu não vejo uma população com problemas morais, mas uma grande maioria de pessoas com uma visão limitada do mundo. Não por terem culpa disso, mas em muitos casos por não terem tido oportunidade de buscar conhecimentos complexos a respeito da política. Muitos se preocupam com o dia de amanhã. Eles sabem disso. A maioria não está e nunca esteve interessada no aprofundamento do entendimento do que rege nossas vidas. A maioria de fato prefere viver como o sujeito do vídeo abaixo:

Eu defendo que não deveríamos culpá-los por isso, mas, ao contrário, assumirmos cada vez nosso papel de formadores de opinião. No léxico de Antonio Gramsci, estes são os intelectuais orgânicos. Rodrigo com certeza é um intelectual orgânico, e eu também. Meus leitores e os dele, em boa parte, também assumem essa função.

Voltemos para a maioria. Eles estão preocupados com o amanhã, pensando em sua sobrevivência: barriga cheia, emprego, perspectivas, saúde, etc. Daí eles delegam a persuasão das melhores opções para os intelectuais orgânicos de cada lado. Eles simplesmente aguardam as propagandas chegarem e vão comprar as ideias que forem inseridas com mais talento em suas cabeças.

A moral deles não é grotesca, mas a mesma que vemos em todas as nações ocidentais. Porém, nossos intelectuais orgânicos (sejam de direita, centro ou esquerda moderada) não tem atuado com o mesmo talento que os da extrema-esquerda. É preciso lembrar também que muitos desses intelectuais orgânicos fazem parte do time de marketing do PT. E de qualquer outro partido.

Enfim, se Dilma conseguiu “passar bem” pelo escândalo de corrupção, isso ocorre por que seus marqueteiros trabalharam adequadamente, enquanto a oposição mais uma vez comeu mosca. A culpa deve ser compartilhada entre os marqueteiros da oposição e todos nós, envolvidos de uma forma ou de outra, na formação de opinião da oposição ao sistema de governo da extrema-esquerda.

Proponho que recobremos as lições de Gramsci ao dizer que as coisas são definidas pelos intelectuais orgânicos atuantes de cada lado. Grande parte do povo merece que façamos mais do que temos feito. Precisamos agir e influenciar cada vez mais pessoas de forma a não permitir que o PT consiga obter tantos dividendos políticos como tem obtido.

Por essa perspectiva, o que há de errado com o povo brasileiro? Ele tem sido vítima do talento dos intelectuais orgânicos da extrema-esquerda e de uma série interminável de equívocos dos intelectuais orgânicos da oposição.

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