Carlos Chagas
Publicado: 12 de setembro de 2014 às 7:48 - Atualizado às 13:43
Não se discute com os fatos, em especial quando respaldados por números: embolou o meio campo,
com Dilma e Marina empatadas no primeiro e no segundo turno. Semana que
vem poderá ser diferente, mas hoje a eleição se resolveria no cara ou
coroa. Apesar de pesquisas serem pesquisas, sujeitas a uma série de
variações, às vezes até de manipulações, não se colocará o Datafolha e o
Ibope sob suspeição.
É preciso saber porque Marina, dias atrás em posição
de supremacia, cedeu espaço para Dilma, que muitos supunham em fase de
desespero.
A ex-senadora colhe o que plantou. Quando emergiu
após a tragédia com Eduardo Campos, ela empolgou pelo seu passado.
Criada na floresta, tendo passado fome, podendo ler e escrever apenas
aos dezesseis anos, negra, ambientalista e na primeira linha da luta contra o poder econômico, esperava-se que na campanha ela desse continuidade a esses valores.
Não foi o que aconteceu. Entrou em campo uma nova Marina,
conciliadora, fazendo as pazes com o agronegócio, cultivando os
usineiros e os bancos privados, por certo frustrando muita gente. Sua
abertura ao centro-direita pode ter sido tática, à maneira do que o Lula
havia feito anos atrás. Seu programa de governo
desanimou muitos que imaginavam uma reviravolta no processo político e
econômico. Ainda teve que ceder à sua religião, condenando a
descriminalização das drogas, o aborto e o casamento gay. Isoladamente,
até se compreenderia cada um desses e de outros recuos, mas o conjunto
da obra desanimou uma parcela do eleitorado.
Em paralelo, Dilma empreendeu uma abertura à sinistra, desvinculando-se dos bancos privados, que fustigou, além de enfatizar iniciativas sociais adotadas desde o governo Lula.
Também espalhou o medo do retrocesso no caso da vitória de Marina.
Junte-se a essa estratégia o apelo à militância do PT, apavorada com a
perspectiva da perda do poder, e se terá a receita de porque as duas
candidatas se equivalem na disputa presidencial.
Claro que o escândalo na Petrobras ainda dará frutos. A recessão econômica,
também.. Mesmo assim, a corrida parece hoje literalmente empatada.
Tempo há para o eleitorado decidir-se, na dependência do comportamento
de ambas. Se a presidente insistir em bater firme na adversária, poderá
arrepender-se, mas Marina também se arrisca na hipótese de persistir na
postura de rebater todas as agressões em vez de esclarecer o que
pretende em seu governo.
Correta, mesmo, está a previsão do segundo turno, com
Aécio Neves de fora. Para quem migrarão seus votos é irrelevante,
porque num Fla-Flu as arquibancadas não torcem pelo Vasco.
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