segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Ocupação de mananciais prejudica oferta de água na Grande São Paulo (e no DF!)



Bares e quitandas –além de lixo– brotaram no início deste ano numa área de preservação ambiental próxima à represa Guarapiranga, zona sul de São Paulo.

Estão ali para atender a milhares de recém-chegados à Nova Palestina, invasão organizada no final de 2013 pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).




A ocupação tomou parte do 1,1 milhão de m2 da área de preservação, onde há mais de 40 nascentes.

O terreno deveria se tornar um parque municipal.

Em junho deste ano, o prefeito Fernando Haddad (PT), com apoio do MTST, conseguiu que seu Plano Diretor fosse aprovado. Em troca, transformou parte do futuro parque em uma Zeis (Zona Especial de Interesse Social).

Numa área de 300 mil m2, já desmatada, serão erguidas casas para 4.000 famílias, com recursos federais.

A ocupação irregular de mananciais prejudica as nascentes e leva esgoto e lixo às represas. Também na região sul da cidade, a represa Billings recebe ainda as águas poluídas do rio Pinheiros. Limpar um litro de água contaminada custa dez vezes mais do que tratar um litro obtido em área de matas.




Ossada de cavalo em córrego que deságua na represa Billings, na zona sul de São Paulo
Ossada de cavalo em córrego que deságua na represa Billings, na zona sul de São Paulo     
 

PASTO E FLORESTA
A 80 km ao norte da capital, em Piracaia, o gado pisoteia as pastagens degradadas da fazenda Cravorana, às margens da represa Jacareí-Jaguari, uma das que formam o sistema Cantareira.
Levantamento do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), ONG que há 30 anos estuda o ambiente de regiões como a do Cantareira, mostra que 49% do entorno da represa foram ocupados por pastos. Outros 38% ainda são florestados, e em 8% a mata está em recomposição. Os restantes 5% são de eucaliptos.

Na Cravorana, porém, as coisas começam a mudar. Em vez de apenas bois, esse pedaço do manancial de 1.230 km² (quase do tamanho da cidade de São Paulo) voltou a abrigar árvores, num projeto de "semeadura de água".

Um morro foi dividido em blocos. Os animais agora pastam por poucos dias num piquete antes de ir para outro.

Na parcela que ficou descansando, o capim, que já rareava, está bem mais verde, e o solo, menos compactado. Quando chove, a água se infiltra na terra, e só uma pequena parte escorre pelo morro. A erosão retrocedeu.

"Estamos fazendo projetos semelhantes em várias propriedades. A intenção, além de deixar que mais água se infiltre no solo, é recuperar matas ao lado de nascentes e de riachos", afirma Alexandre Uezu, biólogo do IPÊ.

Ele diz que, se todas as encostas do sistema Cantareira estivessem preservadas, a crise hídrica atual seria menos grave, ou nem existiria. "Com os lençóis freáticos armazenando água sempre, as represas seriam abastecidas de forma mais perene."

Em um projeto de 2009, a secretaria estadual do Meio Ambiente aprovou a remuneração a 13 propriedades em Joanópolis e Nazaré Paulista pela produção de água nas áreas florestadas.




No alto, à direita, canal construído pela Sabesp para captação do volume morto da represa Jaguari-Jacareí; à esq., os dutos que sugam a água tirada do volume morto
No alto, à direita, canal construído pela Sabesp para captação do volume morto da represa Jaguari-Jacareí; à esq., os dutos que sugam a água tirada do volume morto   
 

DESPERDÍCIO EM QUEDA
De 2004 a 2013, o consumo nas 33 cidades da Grande São Paulo atendidas pela Sabesp aumentou 26%, e a oferta de água tratada cresceu só 9%. No período, o aumento anual da população foi de cerca de 150 mil pessoas, e o padrão de consumo se elevou.
Se há dez anos um morador local gastava 150 litros de água por dia, o consumo hoje é de 175 litros, 65 acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
Editoria de Arte/Folhapress

Além disso, entre 2008 e 2013 a Sabesp não aplicou 37% do previsto em obras. Os principais atrasos estão na ligação de reservatórios e no sistema São Lourenço, que, ao custo de R$ 1 bilhão, trará água do Vale do Ribeira, a partir de 2018.

Mas o desperdício estatal caiu. A Sabesp informa que em 2006 perdia 33% da água tratada por causa de vazamentos ou desvios.

Atualmente, a perda é de 24,4%, abaixo da média do país (40,7%), mas ainda longe de países como Alemanha (11%) e EUA (16%).


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