segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Os caminhos do voto


Merval Pereira 20.9.2014 8h32m
 
 
Por caminhos distintos, Ibope e Datafolha chegaram aos mesmos números na corrida presidencial. Acontece que a esta altura da campanha, importa muito a tendência dos votos. No Ibope, a presidente Dilma Rousseff chegou a 36% caindo três pontos, enquanto Marina chegava a 30% caindo um. Pelo Datafolha, Dilma chegou a 37% subindo um ponto percentual, e é Marina quem cai 3 pontos para chegar aos mesmos 30% encontrados pelo Ibope dias antes. Só as próximas pesquisas esclarecerão qual pé a tendência correta.

O candidato do PSDB Aécio Neves cresceu nas duas pesquisas, e embora tenha no Ibope uma melhor atuação, pois cresceu 4 pontos, é no Datafolha que encontra o melhor cenário para sua candidatura, pois cresce em cima de Marina, que perde pontos.

Se pegarmos os números da pesquisa do Datafolha de um mês atrás, pouco antes do início da propaganda oficial no rádio e televisão, a presidente tinha 36%, Marina tinha 21% e Aécio tinha 20%. Isso significa que a presidente Dilma, com cinco vezes mais tempo de propaganda eleitoral do que Marina Silva, não ganhou votos em um mês de alta exposição, enquanto a candidata do PSB foi a única que subiu nesse período.

O candidato tucano está na faixa dos 20%, dentro da margem de erro. O resultado de dias atrás do Ibope possibilitava a interpretação de que a campanha agressiva do PT contra Marina não dera resultado, pois naquele levantamento fora a presidente Dilma quem caíra. Mas vem o Datafolha e mostra que não apenas Dilma subiu um ponto, como Marina caiu três.

Na análise das últimas pesquisas, de um mês para cá, nota-se, porém, que a propaganda petista pode sim ter afetado o crescimento de Marina Silva, ao mesmo tempo em que o candidato do PSDB, com uma estratégia menos agressiva, mas bastante crítica, conseguiu retomar eleitores que haviam migrado para Marina Silva. Há uma migração grande de votos entre Dilma e Marina, e entre Marina e Aécio, mas a pesquisa Datafolha mostra que os votos acrescidos à candidatura tucana nesta rodada saíram principalmente de quem estava com Marina.

Um dado importante é constatar que a propaganda oficial, que mostra um país tão bom que já virou até propaganda viral na internet com a música sarcástica “Quero morar na propaganda do PT”, não conseguiu reduzir a taxa de rejeição da candidata Dilma Rousseff, que se mantém na faixa entre 33% e 35%.

Seus dois opositores estão na faixa dos 20%, sendo que Marina teve dobrada a sua rejeição desde que se apresentou: era a menos rejeitada com 11% em agosto e hoje tem 22%. Os petistas comemoram essa mudança de patamar como se fosse um efeito colateral precioso da campanha de desconstrução de Marina, e de fato a candidata do PSB já entrou na campanha como uma das mais conhecidas candidatas, graças ao recall da eleição de 2010, e por isso não pode alegar que aumentou sua taxa de rejeição por estar mais conhecida do eleitorado.

Pode ter, isso sim, aumentado o foco sobre sua candidatura com a possibilidade de vitória, mas de qualquer maneira é uma notícia negativa para sua campanha. Quem tem a comemorar é o candidato do PSDB Aécio Neves, que passou a ser o menos rejeitado, com 21%, e o único a subir nas duas pesquisas mais recentes. A próxima semana é decisiva para as aspirações da candidatura tucana, que ainda se apresenta como alternativa contra o PT, insistindo em que Marina representaria uma mudança de forma, não de conteúdo, em relação ao governo petista que está no poder por 12 anos.

Incoerência
A presidente Dilma diz com orgulho que são órgãos do seu governo que estão investigando os escândalos de corrupção na Petrobras: Polícia Federal, Ministério Público. Mas, contraditoriamente, pede, através do Ministro da Justiça, acesso aos depoimentos de Paulo Cesar Costa ao juiz Sérgio Moro.

O Procurador-geral da República negou o acesso, alegando que o processo corre sob segredo de justiça. Isso tudo acontece por que, diferentemente do que pensa a Presidente, o Ministério Público e a Polícia Federal são órgãos do Estado brasileiro, não do governo deste ou daquele partido.

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