Eu
adoro uma boa briga, sobretudo quando ela vem recheada de falsas
tecnicalidades para enganar trouxas. Vamos ver. O subjornalismo
financiado por estatais e pelo petismo está fazendo escarcéu com a
pesquisa Datafolha que aponta que 80% dos paulistanos são favoráveis às
ciclofaixas. E, atendendo às ordens do prefeito, os puxa-sacos a soldo
estão batendo em mim. Eles gritam, esperneiam e xingam. Eu respondo com
números.
Esses
patriotas só aplaudem o instituto quando este encontra o que eles gostam
de ouvir. Já escrevi a respeito e reitero: perguntar se alguém é
favorável às ciclofaixas é o mesmo que indagar se o indivíduo é a favor
do bem. Favorável às ditas-cujas, eu já disse dezenas de vezes, eu
também sou. A questão é saber como o programa está sendo implementado.
Mas vamos os números do Datafolha.
Segundo o
instituto, de cada 100 pessoas que responderam a pesquisa, só 3 usam a
bicicleta como meio de transporte “com mais frequência”. Assim, as
ciclofaixas atenderiam a uma demanda de 3% dos paulistanos que se
deslocam. É quase um quarto dos que andam a pé: 11%! Digo “atenderiam”
porque nem isso é verdade: parte desses 3% está em regiões onde não há
ciclofaixas. Logo, elas suprem uma suposta necessidade de menos de 3%.
Vejam os outros meios empregados: 77% se deslocam de ônibus; 48% usam
metrô, 24%, carro; 16%, trem; 15%, lotação; 2%, táxi, e 2%, moto.
Infelizmente,
o infográfico publicado pela Folha passa a impressão, a um leitor menos
atento, de que o uso da bicicleta é muito maior do que é. Observem:
Vamos entender os números?
Dizem ter
bicicleta apenas 32% dos entrevistados — 68% não. Dos que têm, apenas
47% afirmam ter usado algumas vez as “ciclovias” (é como está no jornal,
mas suponho que estavam se referindo a “ciclofaixas”). Atenção: 47% de
32% correspondem a 15,04%. Observem: apenas 3% informam usar a bicicleta
como meio de transporte, mas 15,04% já teriam usado as faixas
exclusivas. Logo, não foi como meio de transporte que o fizeram, certo?,
mas como lazer. Que tal esta roda de bicicleta?
Atenção, que as coisas começam a ficar ainda mais interessantes.
O
Datafolha quis saber, entre os que têm bicicleta (apenas 32% dos total),
quantos a utilizam para trabalhar ou para estudar, não importa se na
ciclofaixa ou não. Sabem a resposta? 17%. Atenção, leitores! Apenas 17%
dos 32% que são donos de uma bicicleta a utilizam ao menos uma vez por
semana para trabalhar ou para estudar. Sabem quanto isso dá do total?
5,44%. No gráfico, fica mais claro.
Calma, que
a coisa vai ficar ainda mais interessante. Já sabemos que apenas 5,44%
dos paulistanos usam a bicicleta, ainda que de vez em quando, na
ciclofaixa ou não. O percentual desse grupo que diz recorrer às faixas
de Haddad ao menos três vezes por semana é de 17%. Notem: 17% de 5,44%
resultam em 0,92%.
Entenderam
por que as ciclofaixas são os desertos que vemos? De cada 100
paulistanos, menos de um usa a pista ao menos três vezes por semana. Mas
vamos ser generosos. Utilizam as faixas de Haddad ao menos uma vez 59%
dos 5,44%. Ou 3,21% do total dos paulistanos.
Entenderam
por que sou e continuarei a ser crítico das opções do ciclomaníaco? Se o
prefeito acha que deve incentivar o uso da bicicleta, ok. Só não lhe
reconheço o direito de reservar 400 km de faixas, como ele diz que fará,
para 0,92% dos paulistanos.
“Ah, mas ele era reprovado por 47%, e agora
o Datafolha diz que são apenas 28%!”
E eu com isso? Ainda que ele venha
a ser aprovado por 97%, como eram Saddam Hussein e Muamar Kadafi,
continuarei a apontar as suas maluquices. Como o Brasil não é uma
ditadura, como era o Iraque de Saddam e a Líbia de Kadafi, manterei a
crítica. E não adianta o prefeito mobilizar a sua turma para me atacar.
Os meus números estão contidos nos gráficos do Datafolha. É só saber fazer conta.
Já que a porrada não funcionou, Haddad, o maníaco, agora quer a “Bolsa Bicicleta”: dar desconto de IPTU a quem incentivar o que os idiotas chamam “bike”. E ainda faltam 833 dias para a gente se livrar dele…
Começo a temer pela sanidade, digamos, intelectual do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad,
do PT, o maníaco da bicicleta. Agora ele tem outra ideia, em conjunto
com uma vereadora do partido, a senhora Juliana Cardoso: dar um desconto
no IPTU para empresas que criarem bicicletários, incentivando os
funcionários a andar de bicicleta — que boa parte da imprensa brasileira
passou a chamar, sei lá, por quê, de “bike”, o que me envergonha um
pouco.
A palavra já dispensa até as aspas em jornais, revistas e sites.
Ou por outra: a “bike”, não a bicicleta, já é uma quase unanimidade,
digamos, ideológica nas redações. Agora só falta a adesão do povo.
Para um
prefeito que tentou meter no ano passado um reajuste escorchante do IPTU
— que acabou sendo barrado pela Justiça —, a proposta de isenção chega a
ser acintosa. É que o homem da ideia fixa já tentou forçar o paulistano a andar de bicicleta na base da porrada, impondo as ciclofaixas
e mobilizando seus fiscais para enfiar a mão no bolso dos motoristas
que invadirem esses espaços sagrados. Não deu certo. Os ciclistas não
apareceram.
As
ciclofaixas de Haddad são imensas solidões vermelhas, onde se pode ver
de tudo, menos bicicleta. Pior: como muita gente entende aquilo como
terra de ninguém, noto que acaba virando depósito de lixo.
Nesta sexta, por exemplo, choveu em São Paulo — pouca chuva,
infelizmente. Mas estava ali aquela coisinha chata, que os portugueses
chamam “molha-bobos”.
Em dias de
chuva, o trânsito da cidade já é especialmente perverso — entre outras
razões porque muitos sinais param de funcionar, ficam embandeirados.
Haddad não dá bola para essa bobagem. Não seria ontem, claro!, que
dariam as caras os ciclistas que já não aparecem nos dias secos. Era
surrealista ver o caos instalado nas ruas e aquele deserto vermelhão do
prefeito, ali, entregue a ninguém.
Ainda
faltam 833 dias para Haddad deixar o governo, já contando o 29 de
fevereiro de 2016, ano bissexto. Ele está aí não faz dois anos. A gente
tem a impressão de que faz uns dez…
Isso é
desespero. Haddad está apelando a uma espécie de “Bolsa Bicicleta” para
ver se consegue povoar as ciclovias. Ainda que, com o tempo,
algumas bicicletas apareçam, é evidente que, em São Paulo, por
múltiplas razões, não serão uma alternativa de transporte. Ocorre que o
prefeito sequestrou as vias públicas como se delas fossem. As
pouquíssimas que vi serviam ao lazer: ou era a molecada dando um rolê ou
eram aqueles senhores um pouco estranhos, com roupas bem coladas ao
corpo, dando também um, digamos, rolê…
Numa
entrevista coletiva de Haddad, fiquei sabendo, um militante disfarçado
de jornalista, sem identificação do veículo de comunicação a que
pertencia, fez uma pergunta ao alcaide que lhe deu a chance de
hostilizar os raros setores da imprensa que têm a coragem de criticar a
sua ciclomania e de zombar de sua ridícula ideia fixa.
O truque é velho, sem deixar de ser, é evidente, intelectualmente vigarista.
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