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Para fustigar o governo, oposição pediu auditoria da votação presidencial no segundo turno e promete mais ações
Confirmada
a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), lideranças do PSDB e de
partidos aliados rechaçam qualquer possibilidade de diálogo com o
Executivo e já atuam para fustigar o governo provocando um terceiro
turno das eleições presidenciais. A iniciativa mais recente foi o pedido
junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de auditoria na votação do
segundo turno vencida pela petista, que recebeu 54,5 milhões (51,64%) de
votos contra 51 milhões de votos (48,36%) de Aécio.
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"Esse
clima de revanche, de terceiro turno, é pernicioso e faz muito mal à
democracia", critica o cientista político e diretor acadêmico da
Fundação Escola de Sociologia e Política do Estado de São Paulo, Aldo
Fornazieri, que se diz favorável às investigações da Petrobras e,
inclusive, à instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
que investigue a estatal na próxima legislatura.
Para Fornazieri, no
entanto, ao adotar a postura de pedir uma auditoria da votação do
segundo turno, "os tucanos mostram que estão ressentidos com o resultado
da eleição e sugerem à sociedade que o processo eleitoral está sob
suspeita. Isso abala a legitimidade da democracia".
"Temos absoluta confiança de que o Tribunal Superior Eleitoral cumpriu seu papel, garantindo a segurança do processo eleitoral.
Todavia, com a introdução do voto eletrônico, as formas de fiscalização, auditagem dos sistemas de captação dos votos e de totalização têm se mostrado ineficientes para tranquilizar os eleitores quanto a não intervenção de terceiros nos sistemas informatizados", informa o texto assinado pelo Diretório Nacional do PSDB.
Sem diálogo
Para o estudioso da PUC-SP, "um grupo pequeno, mas
barulhento da oposição" está patrocinando um movimento para fustigar o
governo, mas Arruda defende que ele não seria consensual dentro do PSDB,
já que "ao mesmo tempo em que o senador Aloysio Nunes nega dialogar com
o governo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin [São Paulo] acena
com entendimentos com o governo federal para tentar resolver a crise de
abastecimento de água".
Já o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer avalia que "o terceiro turno já começou no Congresso Nacional, sem um período de lua de mel entre o governo e o Legislativo".
Para Fleischer, no entanto, a ideia de terceiro turno capitaneada pelo PSDB, com uma proposta de impeachment de Dilma "é uma visão extremamente exagerada", tese também defendida por Pedro Arruda. O cientista político da PUC afirma que, do ponto de vista legal, não há fato que possa interromper o mandato de Dilma Rousseff. Isso porque, segundo sua interpretação, "o próprio advogado do doleiro Alberto Yousseff negou que seu cliente tenha citado a presidente e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva"
Fleischer coloca outro protagonista no terceiro turno: o PMDB. E explica: "O presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) acusa o PT de patrocinar sua derrota na disputa ao governo do Rio Grande do Norte e agora vai atuar para que a agenda de pauta da Casa trabalhe contra o Planalto".
"Maior prova disso foi ele [Alves] ter agendado a votação dos conselhos populares, com PT, PCdoB e PSOL acuados e com o PMDB e a oposição votando contra", lembra o professor da UnB.
David Fleischer prevê que o governo terá ainda mais uma derrota com a Medida Provisória (MP) de autoria do Executivo que transfere ao Planalto a indicação do novo superintendente da Polícia Federal, que hoje é feita pelo Ministério da Justiça.
O professor da UnB diz que as dificuldades vão aumentar ainda mais. Isso porque o PMDB deve indicar à sucessão de Alves na Casa o deputado fluminense Eduardo Cunha, um ferrenho adversário de Dilma.
"Será necessário que Dilma tenha um jogo de cintura muito grande com esse novo Congresso. Ela nunca foi boa de diálogo e precisará de um ministro de Relações Institucionais muito forte e com autonomia para evitar ainda mais desgaste", comenta.
No parlamento
“
O que estamos vivendo é uma tentativa de terceiro turno" (Afonso Florence - PT/BA)
Ligado ao senador Aécio Neves, o deputado federal
reeleito Marcus Pestana (PSDB-MG) classifica a iniciativa tucana de
rever a votação do segundo turno como "uma auditoria. Não tem nada disso
[de terceiro turno ou de impeachment]"..
Já o deputado
Afonso Florence (PT-BA), suplente da CPMI da Petrobras, crava que “o que
estamos vivendo é uma tentativa de terceiro turno”.
Em reação à
campanha tucana, o petista protocolou convites aos senadores Aécio Neves
(PSDB-MG) e Álvaro Dias (PSDB-PR), por exemplo, no intuito de apurar o
envolvimento do ex-presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (falecido
neste ano), numa suposta tentativa de abafamento da CPMI da Petrobras.
O
deputado federal reeleito Jean Wyllis (PSOL) classificou como
"golpismo" a iniciativa tucana que, nas palavras dele, "é uma tentativa
de desestabilizar o governo".
Provocado
se o PSDB não estaria forçando um terceiro turno, o líder do PSDB na
Câmara dos Deputados, Antonio Imbassahy reage: “O PSDB só está em
sintonia com os 50 milhões de eleitores de Aécio Neves”.
O
secretário nacional de organização do PT, Florisvaldo Souza, entende
que com a estratégia do terceiro turno "o PSDB mostra que ainda não
assimilou o resultado do processo eleitoral" e classificou a tentativa
de auditar a votação do segundo turno como uma "trapalhada".
“
O PSDB se reinventou, ganhou mais coragem para enfrentar a propaganda petista". (Marcus Pestana, deputado federal PSDB/MG)
Fortalecimento tucano
"O PSDB saiu fortalecido e animado do processo eleitoral. O PSDB se reinventou, ganhou mais coragem para enfrentar a propaganda petista, passou a valorizar mais o governo Fernando Henrique Cardoso, se encontrou com as ruas. Fizemos eventos com Aécio que reuniram 30 mil, 40 mil pessoas", enumera.
Ainda que negue a tese do terceiro turno, Pestana admite: as eleições seguem nas redes sociais ainda hoje e essa mobilização tem feito com que milhares de jovens em todo o Brasil procurem o partido para se filiar.
Prorrogando a CPI
Em outro movimento comandado pelos tucanos no âmbito da CPMI da Petrobras, entre os 476 requerimentos em tramitação, se destacam convites para que tanto a presidente reeleita quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sejam chamados a depor. Os mesmos foram protocolados pelo deputado Izalci Lucas (PSDB-DF).
Líder dos tucanos na Câmara, Antônio Imbassahy informou que seu partido já conversa com deputados eleitos para abrir uma nova CPI da Petrobras na próxima legislatura que será empossada em fevereiro. “Vamos criar um banco de dados a partir da investigação atual e avançar porque as denúncias de corrupção são muito graves”.
O tucano argumenta que o próprio procurador-geral da República Rodrigo Janot classificou as denúncias como “devastadoras” e que esse argumento é suficiente para dar continuidade à apuração.
Quanto ao pedido de diálogo proposto por Dilma, logo no primeiro discurso depois de reeleita, Antônio Imbassahy relatou que o PSDB capitaneou uma reunião com os partidos da oposição (DEM, PPS, SDD) na última terça-feira (28) e classificou a oferta de Dilma como “uma cilada, uma armadilha”.
Outra estratégia dos tucanos é apresentar uma candidatura alternativa à presidência da Câmara. De acordo com Imbasssahy, “o País não aceita que o vice-presidente Michel Temer faça uma reunião com a presidente Dilma e saia de lá dizendo que o presidente da Câmara será fulano e do Senado será cicrano”.
O líder tucano na Câmara estima que os partidos de oposição tenham um nome ainda neste mês. Júlio Delgado (PSB-MG), que já concorreu à vaga, é um dos favoritos.
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