quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

MP denuncia empresa que recebeu a concessão do aeroporto de Brasilia e outras 35 na Lava Jato por corrupção, lavagem e formação de quadrilha

11/12/2014 15h33 - Atualizado em 11/12/2014 20h01

Procuradores tentarão obter quase R$ 1,2 bi de ressarcimento por desvios.


Se juiz Sérgio Moro aceitar denúncias, os investigados se tornarão réus.

Filipe Matoso e Fernando Castro Do G1, em Curitiba
O Ministério Público Federal do Paraná ofereceu nesta quinta-feira (11) denúncias contra 36 investigados na sétima fase da Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal para investigar lavagem de dinheiro e evasão de divisas e que resultou na descoberta de um esquema de desvio de dinheiro e superfaturamento de obras da Petrobras.
(Atualização: ao ser publicada, esta reportagem informou que os denunciados eram 35, conforme anunciou inicialmente o Ministério Público Federal. No início da noite, a assessoria do MPF informou que o número correto é 36, em razão de não sido divulgado o nome do presidente da construtora Camargo Corrêa, Dalton Santos Avancini. A informação foi corrigida às 19h39.)
Se o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância do Judiciário, aceitar as denúncias do Ministério Público, os investigados passarão à condição de réus no processo. A expectativa é que Moro aceite as denúncias até esta sexta (12).
Nesta quinta, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, esteve em Curitiba (PR) para se reunir com a força-tarefa do MPF do Paraná que atua no caso, a fim de discutir quais medidas podem ser tomadas a partir do oferecimento das denúncias.
Nas denúncias, os procuradores da República listaram três crimes imputados aos investigados – corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Segundo o Ministério Público Federal, das 36 pessoas denunciadas, 23 são ligadas às empreiteiras Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, OAS  e UTC (veja ao final desta reportagem a lista com os nomes dos 35 denunciados).
A Engevix informou que, por meio dos seus advogados, prestará os esclarecimentos necessários à Justiça.
A Mendes Junior disse que não se pronuncia sobre inquéritos e processos em andamento.
Essas pessoas, na verdade, roubaram o orgulho do povo brasileiro. A complexidade dos fatos nos leva a intuir a dimensão desta investigação. Seguiremos como sempre fizemos – o Ministério Público Federal –, de forma serena, de forma equilibrada, mas de forma firme e contundente."
Rodrigo Janot, procurador-geral da República
A Galvão Engenharia afirmou que não irá se pronunciar.
A Camargo Corrêa divulgou nota com o seguinte teor: "A Construtora Camargo Corrêa esclarece que pela primeira vez seus executivos terão a oportunidade de conhecer todos os elementos do referido processo e apresentar sua defesa com a expectativa de um julgamento justo e equilibrado.”
As empresas OAS e UTC também foram procuradas pelo G1, mas não tinham se manifestado sobre as denúncias até a última atualização desta reportagem.
Recuperar R$ 1,18 bilhão
Com as ações na Justiça, os procuradores tentarão recuperar R$ 1,18 bilhão.
(Atualização: ao ser publicada, esta reportagem informou que a quantia a ser recuperada era de R$ 971,5 milhões, conforme anunciou inicialmente o Ministério Público Federal. No início da noite, a assessoria do MPF informou que o valor correto é R$ 1,18 bilhão. A informação foi corrigida às 19h59.)
De acordo com o Ministério Público Federal, essa quantia corresponde a 3% dos valores de contratos firmados entre as empresas e a Petrobras  por meio do esquema de fraude em licitações. Segundo o MPF, esse era o percentual destinado à propina pago por empresas corruptoras aos beneficiários.
"Essas pessoas, na verdade, roubaram o orgulho do povo brasileiro. A complexidade dos fatos nos leva a intuir a dimensão desta investigação. Seguiremos como sempre fizemos – o Ministério Público Federal – de forma serena, de forma equilibrada, mas de forma firme e contundente. Cada pessoa, pela disposição legal, responde, tem responsabilidade, pelo ato que praticou", declarou Janot.

OS 36 DENUNCIADOS NA OPERAÇÃO LAVA JATO
Nome Atividade
Alberto Youssef (preso) Doleiro
Paulo Roberto Costa (prisão domiciliar) ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras
Waldomiro de Oliveira dono da MO Consultoria
Carlos Alberto Pereira da Costa representante formal da GFD Investimentos e subordinado de Alberto Youssef
João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado apontado como operador das contas de doleiro Youssef no exterior
Enivaldo Quadrado ex-dono da corretora Bônus Banval, atuava na área financeira da empresa GDF e foi condenado no processo do mensalão
Sérgio Cunha Mendes (preso) diretor vice-presidente executivo da Mendes Júnior
Rogério Cunha de Oliveira diretor da área de óleo e gás da Mendes Júnior
Angelo Alves Mendes vice-presidente da Mendes Júnior
Alberto Elísio Vilaça Gomes
José Humberto Cruvinel Resende da Mendes Júnior

Antonio Carlos Fioravante Brasil Pieruccini advogado que teria recebido valores de Youssef
Mário Lúcio de Oliveira diretor de uma agência de viagens que atuava na empresa GDF, segundo delação de Youssef
Ricardo Ribeiro Pessoa (preso) presidente da construtora UTC, que fez empréstimos ao doleiro
João de Teive e Argollo diretor de Novos Negócios na UTC
Sandra Raphael Guimarães
João Ricardo Auler (preso) presidente do Conselho de Administração da Camargo Corrêa
Dalton Santos Avancini (preso) presidente da Camargo Corrêa
Eduardo Hermelino Leite, o "Leitoso" (preso) vice-presidente da Camargo Corrêa
Mário Andrade Bonilho sócio e administrador da empresa Sanko-Sider
Jayme Alves de Oliveira Filho atuaria com Youssef na lavagem de dinheiro
Adarico Negromonte Filho irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP-BA), apontado como emissário de Youssef
José Adelmário Pinheiro Filho (Leo Pinheiro) (preso) presidente da construtora OAS
Agenor Franklin Magalhães Medeiros (preso) diretor-presidente da área internacional da OAS
Mateus Coutinho de Sá Oliveira (preso) funcionário da OAS em São Paulo
José Ricardo Nogueira Breghirolli (preso) apontado como contato de Youssef com a OAS
Fernando Augusto Stremel Andrade funcionário da OAS
João Alberto Lazzari representante da OAS
Gerson de Mello Almada (preso)

vice-presidente da Engevix Engenharia

Carlos Eduardo Strauch Albero diretor-técnico da Engevix Concessionaria do Aeroporto de Brasilia (INFRAMERICA!)
Newton Prado Junior diretor-técnico da Engevix
Luiz Roberto Pereira ex-diretor da Engevix
Erton Medeiros Fonseca (preso) diretor de negócios da Galvão Engenharia
Jean Alberto Luscher Castro diretor presidente da Galvão Engenharia
Dario de Queiroz Galvão Filho da construtora Queiroz Galvão
Eduardo de Queiroz Galvão da Queiroz Galvão
Fonte: Ministério Público Federal


Responsável por apresentar as denúncias à imprensa, o procurador Deltan Dallagnol afirmou que havia um "jogo de cartas marcadas" em licitações da Petrobras.
"As empresas simularam um ambiente de competição, fraudaram a competição e, em reuniões secretas, definiam quem iria ganhar as licitações", disse o procurador.


Denunciados
Durante a apresentação das denúncias à imprensa, o procurador afirmou que, dos 36 denunciados nesta quinta pelo Ministério Público (veja a lista na tabela ao lado), 23 são ligados a empresas investigadas. Dentre os 36 denunciados, 12 estão presos e um (o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa) está em casa, em prisão domiciliar.


Algumas pessoas, explicou Dellagnol, são denunciadas mais de uma vez – como  Paulo Roberto Costa, que tinha envolvimento com mais de uma empreiteira, segundo o MP.


Dallagnol disse que a “força-tarefa” de procuradores que atua no caso identificou 154 atos de corrupção, referentes aos 36 denunciados nesta quinta. O procurador explicou que o número corresponde ao número de contratos investigados e nos quais foram encontrados indícios de irregularidades.


Segundo Deltan Dallagnol, há indicativos de que as empresas "corromperam" a Petrobras e outros órgãos públicos. O procurador sugeriu que o "ideal" seria que "todos" os contratos dessas empreiteiras fossem suspensos, mas ele reconheceu que a medida não é viável, devido à paralisação de obras públicas, e defendeu a manutenção da prisão dos que estão detidos.


Questionado se haverá um acordo entre o Ministério Público Federal e as empresas no processo da Lava Jato, o procurador afirmou que não há “acordão”.
"A exigência [do MPF] é de reparação por dano, reconhecimento de culpa e fornecimento de novas provas para investigações", afirmou Dallagnol.


Repasses a Youssef
Em diversos momentos, Dallagnol ressaltou que todas as empreiteiras denunciadas foram investigadas, entre outros motivos, por repasses a empresas do doleiro Alberto Youssef.


Segundo o procurador, as empreiteiras declaravam serviços de consultoria que teriam sido prestados pelas companhias de Youssef, mas que, segundo o Ministério Público, nunca foram executados.


Dallagnol disse ainda que é possível afirmar que os recursos enviados às empresas de Youssef têm origem criminosa. Segundo ele, os bens das empresas GFD, MO e Sanko, nas quais Youssef teria participação, estão bloqueados. De acordo com o procurador, todos os indícios são de que essas empresas tinham algum tipo de atividade ilícita.


Novas denúncias
Apesar de o MP ter denunciado nesta quinta 35 pessoas por três crimes, tanto Rodrigo Janot como Deltan Dallagnol ressaltaram que as investigações do Ministério Público referentes à Lava Jato continuarão e serão “aprofundadas” pela força-tarefa.


Dallagnol disse que novas denúncias serão oferecidas, por novos crimes e contra mais empresas. O procurador afirmou que as denúncias desta quinta pertencem ao primeiro “pacote”. Mas não quis informar quais nem quando serão apresentadas.

Dallagnol afirmou que o Ministério Público começou a “romper” a impunidade de grupos políticos e econômicos e que a “luta” contra a impunidade e a corrupção continuará.

Lava Jato
A operação Lava Jato começou investigando um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões. A investigação acabou resultando na descoberta de um esquema de desvio de recursos da Petrobras, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.
Na primeira fase da operação, deflagrada em março deste ano, foram presos, entre outras pessoas, o doleiro Alberto Youssef, apontado como chefe do esquema, e o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.

A sétima fase da operação policial, no mês passado, teve como foco executivos e funcionários de nove grandes empreiteiras que mantêm contratos com a Petrobras em um valor total de R$ 59 bilhões.

Parte desses contratos está sob investigação da Receita Federal, do MPF e da Polícia Federal. Ao todo, foram expedidos na sétima etapa da operação 85 mandados em municípios do Paraná, de Minas Gerais, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Pernambuco e do Distrito Federal.

Conforme balanço divulgado pela PF, além das 25 prisões, foram cumpridos 49 mandados de busca e apreensão. Também foram expedidos nove mandados de condução coercitiva (quando a pessoa é obrigada a ir à polícia prestar depoimento), mas os policiais conseguiram cumprir seis.
eis.
VALE ESTE - Arte Lava Jato 7ª fase (Foto: Infográfico elaborado em 15 de novembro de 2014)

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